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(Foto: Murilo Gharrber)

 

Há cerca de 80 anos, um casal de japoneses da Ilha de Hokkaido veio para o Brasil na esperança de recomeçar a vida. Junto com eles, um grupo do país asiático se uniu na cidade de Cotia, no Estado de São Paulo, para formar uma colônia de assentados. De lá, alguns anos mais tarde,  deslocaram-se até o município de São Gotardo, na região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, para encontrar na agricultura uma oportunidade de sustento.

Neto do casal de imigrantes, Hugo Shimada conta que, em 1974, com o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer), o grupo enxergou a importância do manejo do solo para obter sucesso na colheita. “Com isso e a chegada da irrigação, houve a possibilidade de implantar as hortaliças”, conta ele, que hoje dirige a Shimada Agronegócios.

Em 3.986 hectares, a empresa produz cenoura, beterraba, alho-roxo, milho, soja, abacate, repolho, café e cebola. Diante da aptidão da região para a hortifruticultura, em meados de 2014 Hugo e outros produtores começaram a se movimentar para criar um selo com denominação de origem. Nasceu, então, a marca Região de São Gotardo.

A região mineira é composta por seis municípios, onde 350 agricultores produzem numa área de 50 mil hectares. Num primeiro momento, 22 produtores se juntaram ao projeto, tocado pelo Conselho da Região de São Gotardo em parceria com o Sebrae Minas, que ajudou na criação da marca para promover o desenvolvimento sustentável dos agricultores locais.

“Somos um dos principais polos de hortifrútis do Brasil, como é o caso da cenoura. São 250 mil toneladas por ano, produzidas em 5 mil hectares. São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte são nossos principais mercados. Depois tem Nordeste e Norte”, diz Jorge Kiryu, presidente do conselho.

Além disso, a região também concentra 20% da produção nacional de cenoura e 40% da produção de alho-roxo. “Com o objetivo de valorizar toda essa produção, decidimos criar a marca, nos moldes da Região da Canastra”, conta Hugo Shimada.

Alho, mirtilo, repolho e beterraba são alguns dos itens com o selo (Foto: Murilo Gharrber)

 

“O que faltava para esses agricultores é a união, o sentimento de pertencimento, para ter essa inserção competitiva no mercado”, avalia Naiara Marra, analista de negócios do Sebrae Minas.
Entre os produtores que participam do projeto estão membros da Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba (Coopadap). “Produzimos alimentos pensando em segurança alimentar. Isso, vinculado a uma marca, traz tranquilidade para quem vai consumir o alimento em casa. Tanto o intermediário quanto o atacadista e varejista conseguem ter segurança sobre o que estão comercializando, pois a rastreabilidade fica disponível para acesso”, diz Guto Magalhães, superintendente da Coopadap, acrescentando que os produtos da marca de São Gotardo terão um código QR para averiguação da origem.

Cleber Ferreira da Costa, sócio do Grupo Leópolis, um dos 22 participantes, afirma que é importante diferenciar o hortifrúti commodity daquele com garantia de origem. Ele admite que ainda não vê resultados concretos na criação da marca, mas aposta que haverá adesão do público urbano. “Tentamos ganhar mais mercado e ter um escape melhor da venda dos produtos, pois está muito concorrido, e acredito que esse interesse na rastreabilidade nos ajude a conquistar visibilidade.”

 

Segundo Jorge Kiryu, os produtos que terão o selo da Região de São Gotardo serão cenoura, batata, alho, abacate, cebola, beterraba, repolho e blueberry (mirtilo). A marca, que já está registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), será lançada neste mês de dezembro, no Super Nosso, rede varejista de Belo Horizonte. Em dois a três meses, os produtos devem chegar a outros Estados distribuídos pelo  Grupo Benassi.

Mercados como São Paulo e Brasília têm os consumidores mais exigentes quanto à origem do alimento e ao modo de produção, afirma Jorge. Assim, uma das preocupações da marca é verificar o uso correto de defensivos agrícolas. “Ainda não temos produtos orgânicos, mas estamos trabalhando para isso. Existe uma assistência técnica para trabalhar os produtos (químicos) que tenham registro para uso, respeitando as carências e quantidades de aplicação. Seguimos os parâmetros do Mapa, mas buscamos produzir ainda melhor para atingir mercados diferenciados. Nesse sentido, os produtos biológicos têm sido bastante usados. Teve produtor que reduziu em 60% o uso de defensivos químicos”, diz Jorge.

Também há preocupação com o uso correto da água. Por isso, a Associação dos Irrigantes do Alto Paranaíba acompanha a produção de hortaliças de São Gotardo. Além disso, os produtores da marca também estão investindo em câmaras frias para aumentar a durabilidade do alimento, incluindo o tempo durante o transporte, diz Guto Magalhães, da Coopadap.

*A jornalista viajou a convite do Sebrae Minas
Source: Rural

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