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Papa participa da sessão de encerramento do Sínodo da Amazônia (Foto: Santa Sé)

 

O Papa Francisco afirmou, neste sábado (26/10), que existem todos os níveis de corrupção e exploração de pessoas na Amazônia. Foi durante o encerramento dos trabalhos do Sínodo, realizado pela Igreja Católica durante este mês para discutir a situação na região.

“Na Amazônia, aparecem todos os tipos de injustiças, destruições, exploração de pessoas de todos os níveis e destruição cultural. Há todos os níveis de corrupção de pessoas”, disse Francisco, mencionando o assunto ao falar do que chamou de dimensão social, uma das quatro que, segundo ele, permearam os debates no Vaticano.

O pontífice disse que o Sínodo foi um momento de aprendizado sobre como escutar e como incorporar a tradição da Igreja aos momentos atuais. Diante de uma plateia de religiosos, questionou a ideia de que a tradição seja algo velho, chamando-a de salvaguarda do futuro.

Dentre as quatro dimensões dos debates, destacou a cultural, concentrada na preservação e valorização da cultura da Amazônia. Na dimensão ecológica, lembrou que é essa consciência que denuncia o que chamou de exploração compulsiva e destrutiva na região.

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Pontuando que a consciência ecológica está ligada ao futuro, destacou as recentes manifestações da juventude, citando a ativista sueca Greta Thunberg. O Papa já tratou do tema ambiental em uma de suas encíclicas, Laudato Sí. O documento fala da importância de se preservar a Terra, que chama de casa comum.

A última dimensão do Sínodo, que, na visão do Papa, engloba todas as outras e pode ser considerada a mais importante, é a pastoral, relacionada ao trabalho dos religiosos e religiosas da Igreja Católica na Amazônia. 

“Os jovens religiosos têm uma vocação muito grande e temos que formá-los para ir às fronteiras. Seria bom existir um plano de formação de religiosos, com uma experiência de um ano ou mais em regiões limítrofes”, mencionou Francisco, destacando também a discussão sobre seminários indígenas.

"Grande crise socioambiental"

Convocado há dois anos, o Sínodo acabou sendo realizado em meio a um aumento das preocupações globais com a Amazônia. No Brasil, que concentra a maior parte do bioma, foi registrado um crescimento dos números de desmatamento e queimadas na região neste ano, que ganhou repercussão internacional e levou a críticas à gestão ambiental do governo brasileiro.

Surgiu também a suspeita de ação articulada para provocar focos de incêndio na região de Novo Progresso e Altamira, no Estado do Pará, episódio que ficou conhecido como Dia do Fogo. Reportagem da Globo Rural revelou que grupos de Whatsapp estavam sendo usados para coordenar queimadas propositais, o que levou o presidente Jair Bolsonaro a determinar uma investigação sobre os ocorridos.

 

 Em entrevista à Rádio Vaticano, o cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) e relator do Sínodo, avaliou de forma positiva os resultados. E lembrou que as discussões ocorreram em um cenário que chamou de "grande crise socioambiental", que engloba a questão ecológica e a situação das pessoas.

“O Sínodo corre dentro dessa grande crise socioambiental que o mundo todo está sofrendo. Ou seja, uma crise climática, uma crise ecológica e junto disso ainda a crise da pobreza no mundo. Tudo isso junto, chamamos de uma crise socioambiental. As coisas não são separadas”, disse o religioso.

O documento final do Sínodo foi divulgado (leia a íntegra aqui) e aprovado pelos participantes. Menciona, entre o que chama de novos caminhos para ação da Igreja na região, o diálogo inter-religioso e cultural, o serviço, e a necessidade de dar mais espaço para populações como indígenas e campesinos.

Também conceitua o chamado "pecado ecológico", segundo o qual a degradação ambiental seria considerada uma ofensa contra futuras gerações. Sugere a possibilidade de ordenação como sacerdotes de homens casados para atuar em zonas mais remotas da Amazônia, além de uma eventual permissão para mulheres atuarem como diáconos permanentes, função de serviço hoje exercida só por homens e que não permite celebrar missas e ouvir confissões.

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Os participantes do Sínodo propõem a criação de um fundo global a favor das comunidades da Amazônia, para que possam promover o seu desenvolvimento integral e, ao mesmo tempo, estarem protegidas do que chamam de “ânsia depredadora de querer extrair seus recursos naturais”.

“Adotar hábitos responsáveis que respeitem e valorizem os povos da Amazônia, suas tradições e sua sabedoria, protegendo a terra e mudando nossa cultura de consumo excessivo. Devemos reduzir nossa dependência de combustíveis fósseis, plásticos e mudar hábitos alimentares para estilos mais saudáveis. Comprometer-se ativamente com o plantio de árvores, buscando alternativas sustentáveis de agricultura, energia e mobilidade, que respeitem os direitos da natureza e dos povos”, sugere também o texto.

O documento do Sínodo propõe ainda a criação do um Observatório Socioambiental Pastoral, para realizar um diagnóstico dos conflitos socioambientais a partir de cada igreja local. A ideia é de que essa instituição trabalhe em conjunto com outras organizações ligadas à Igreja Católica, pessoas de fora dela e representantes de povos indígenas.

“O documento final deste Sínodo será um instrumento muito importante, mas não é o documento que determinará os novos caminhos. Precisamos ter cuidado com aqueles que não querem mudar nada, que querem que as coisas acabem aqui e também cuidado com os profetas de calamidades que expressam que nada disso faz sentido”, avaliou, em nota, a Rede Eclesial Pan-Amazônica.
Source: Rural

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