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Nevilli Toft é filho do inventor da primeira colhedora de cana do mundo. (Foto: Joel Silva/Ed.Globo)

 

Logo após a Segunda Guerra Mundial, um australiano curioso e determinado chamado Harold Toft, que havia deixado a escola aos 14 anos para trabalhar na propriedade rural da família, em Bundaberg, no Estado de Queensland (Austrália), inventou a primeira colhedora de cana-de-açúcar do mundo. Cansado de cortar cana manualmente, Harold com a ajuda do irmão Colin desenvolveu no quintal de casa a máquina que revolucionou a colheita de cana e seria depois exportada para mais de 40 países, incluindo o Brasil.

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Nevile Toft, segundo dos sete filhos de Harold, acompanhou a mecanização da cultura de perto e seguiu os passos do pai, deixando a escola também aos 14 anos e se tornando inventor de máquinas para o campo sem nunca ter freqüentado uma faculdade ou escola técnica. “Sempre que eu chegava em casa, meu pai estava criando alguma máquina. Como eu era bom em matemática, comecei a ajudá-lo.”

Toft foi tietado durante passagem pela Agrishow 2019.
(Foto: Joel Silva/Ed.Globo)

 

Nevile esteve na 26ª Agrishow, no final de abril, mostrando, orgulhoso, sua mais nova criação: o protótipo da segunda geração de colhedoras de cana, uma máquina que colhe ao mesmo tempo, mas de forma independente, duas linhas de cana. O equipamento, mostrado na feira, está sendo desenvolvido por ele e engenheiros dos EUA e Índia especialmente para a fabricante John Deere e deve chegar ao mercado em dois anos.

A saga

Para entender como a John Deere herdou o talento de Nevile é preciso voltar no tempo e relembrar a saga dos Toft. “Depois da Segunda Guerra, meu pai criou primeiro uma carregadora de cana, que era semelhante a um guincho. O modelo era genial, facilitava muito o trabalho na lavoura, mas precisava de três homens para funcionar. Daí ele transformou a máquina em carregadora hidráulica e começou a construir unidades também para os vizinhos”, conta Nevile.

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O sucesso entusiasmou Harold, que passou a desenvolver, então, uma colhedora de cana. “Isso mudou tudo na nossa vida. De pequenos agricultores, a família passou a ser fabricante de várias máquinas para cana. Foi inacreditável como o negócio cresceu em tão pouco tempo. Logo, meu pai estava exportando carregadora e colhedora para o mundo todo.”

Nova versão da colhedora inventada por Toft colhe duas linhas de cana ao mesmo tempo, mas de forma independente.(Foto: Joel Silva/Ed.Globo )

 

Com 19 anos, o jovem Nevile, que nunca havia usado sapatos, hábito herdado também do pai, começou a viajar o país e o mundo demonstrando o funcionamento das máquinas de cana. “Foi aí que descobri que tinha cérebro porque fiquei meses viajando sozinho e tinha que tomar todas as decisões de negócios.”

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Na década de 1980, diante de uma forte crise do mercado de cana, o pai de Nevile decidiu se aposentar e vendeu a indústria para uma empresa australiana que preservou o sobrenome da família. Nos anos 1990, a associação da australiana Austoft com a brasileira Engeagro deu origem à Brastoft, que passou a fabricar colhedoras de cana no Brasil, que deram origem às máquinas vendidas hoje pela Case. 

Na mesma época, o engenheiro brasileiro Luiz Antonio Ribeiro Pinto, inspirado nas criações de Harold,que conheceu em viagens nos anos 70 pela Austrália, desenvolvia uma colhedora capaz de cortar cana crua na Santal, empresa de Ribeirão Preto (SP) que foi vendida em 2011 para a AGCO.

Estava no sangue a aptidão. Eu desenvolvia produtos que as pessoas estavam precisando, como cortadores de tomate, entregue a 52 produtores"

Nevile Toft

Nevile não gosta de falar sobre a venda da empresa do pai. Diz apenas que foi uma decisão correta porque Harold não queria que os filhos passassem pelos anos de ‘vaca magra’ que ele já tinha enfrentado na vida.

O rapaz comprou então sua própria fazenda e passou a fabricar máquinas para diversas culturas. “Estava no sangue a aptidão. Eu desenvolvia produtos que as pessoas estavam precisando, como cortadores de tomate, entregue a 52 produtores. Um dos fatores do meu sucesso foi ter descoberto que precisava ter ao meu lado especialistas para fazer aquilo que eu não era tão bom.”

Na década de 1990, Nevile se mudou para os Estados Unidos. Como conhecia muitos americanos para quem havia demonstrado as máquinas do pai, foi contratado pela Cameco como gerente de vendas para a Austrália. “Mas eu logo alertei a eles que, para exportar para a Austrália, as colhedoras teriam que melhorar muito. Então, comecei a ajudar no desenvolvimento delas. A cada ano, a gente inventava algo novo ou fazia uma atualização.”

Atualmente, uma colhedora de cana faz o trabalho de cerca de cem homens, colhendo de 700 a 1.000 toneladas por dia"

 

Em 1997, a Cameco foi vendida para a John Deere. Nevile foi junto como especialista em cana. Há quatro anos, ele decidiu que era hora de mudar o conceito da máquina de uma linha de colheita criada pelo pai. Surgiu então, o protótipo de duas linhas para acelerar a colheita diminuindo a compactação do solo.

“Essa máquina foi pensada para o Brasil, que tem a maior produção de cana do mundo. É capaz de colher até 2,5 vezes mais do que os modelos disponíveis hoje no mercado”, diz Nevile, aos 72 anos, acrescentando que adora o trabalho que faz e não pensa nem de longe em aposentadoria. Atualmente, uma colhedora de cana faz o trabalho de cerca de cem homens, colhendo de 700 a 1.000 toneladas por dia.

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Source: Rural

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