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agua-irrigação-recursos-hidricos (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

A  água é uma das maiores dádivas que o planeta nos concede e um dos recursos naturais mais lembrados quando se considera o futuro da humanidade. Por ser um recurso finito, preocupações relacionadas à competição pelo seu uso vão crescer de forma proporcional ao aumento de sua demanda pela sociedade. Apesar de abrigar 12% das reservas de água doce do mundo, o Brasil convive com situações preocupantes de escassez. Cerca de 80% da água doce do Brasil está na região amazônica; os outros 20% abastecem larga extensão do território brasileiro, onde habitam 95% da população.

A seca que penaliza o Semiárido nordestino há décadas e a crescente imprevisibilidade de precipitações em regiões outrora bem servidas com chuvas nos impõem um desafio: o de cuidar bem dos nossos recursos hídricos em lugar de nos conformarmos com a escassez ou com o acirramento da competição pelo seu uso no futuro. O avanço do processo de urbanização nos força a discutir o impacto das cidades na poluição dos recursos hídricos e na ampliação do uso insensato da água. Descarregar esgotos não tratados nos rios ou lavar carros e calçadas com água potável precisam se tornar práticas ultrapassadas.

Maurício Antônio Lopes, da Embrapa (Foto: Reprodução/Embrapa)

A agricultura tem sido apontada como suposta consumidora de 70% das reservas globais de água doce. Esse percentual, internacionalmente citado, não encontra sustentação na realidade brasileira, cuja agricultura é prioritariamente dependente de chuvas. A maioria das nossas propriedades rurais toma emprestada da natureza a água da chuva, que iria aos rios e oceanos, e a devolve limpa, com a evaporação, transpiração e infiltração no solo. Ainda assim,  nossas fazendas podem melhorar a eficiência no uso das águas.

A agricultura do futuro exigirá plantas mais eficientes e sistemas de irrigação que otimizem o uso de água e energia, além de práticas conservacionistas que protejam o solo e reduzam a evaporação. Florestas plantadas, além de sistemas que integrem lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta bem manejados, podem contribuir para a conservação da água pelo solo, mitigando os efeitos negativos decorrentes da grande dispersão entre precipitações das estações chuvosa e seca.

Mais reservatórios, em pontos estratégicos, permitiriam ampliar a prática da irrigação, ainda pouco utilizada no Brasil. Além de ampliar a produção de alimentos, a irrigação pode cumprir outro nobre papel no futuro: viabilizar grandes reservas manejáveis de água, fazendo das represas, açudes e lagos uma bateria de amortecedores para mitigar os efeitos das enchentes, que tanto dano têm causado, com o aumento de eventos climáticos extremos.

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Por fim, não podemos nos esquecer de que problemas complexos podem ter soluções simples. O técnico da Embrapa Luciano Cordoval de Barros desenvolveu um sistema de pequenas barragens escavadas de forma sequencial na paisagem, no sentido em que as enxurradas correm. Se bem planejadas e manejadas, essas “barraginhas” enchem e sangram, esvaziam e voltam a encher, segurando e domando as danosas enxurradas e “ensilando” a água nos momentos de abundância. Água que aparecerá mais tarde nas baixadas, aflorando ou minando, percebida muitas vezes pela elevação do nível acima do normal nas cisternas. Essa tecnologia simples e de baixo custo já viabilizou a formação de inúmeros oásis pelo interior do Brasil, demonstrando que nem só de soluções complexas e sofisticadas se constrói um futuro sustentável.

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*Maurício Antônio Lopes é engenheiro agrônomo e presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Este artigo foi publicado originalmente em janeiro de 2018, na edição nº 387 da Revista Globo Rural.

 
Source: Rural

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