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Depois de subirem quase 80% ao longo do último ano, os preços do café chegam à boca da safra desenhando uma trajetória de queda. O ingrediente amargo vem do exterior, especificamente do Leste Europeu. A guerra entre Rússia e Ucrânia tem pressionado as cotações do grão, devido às incertezas com relação ao consumo mundial, principalmente no continente europeu. Juntos, os dois países em conflito consomem o equivalente a 3,5% da oferta de café no mundo – os russos demandam 4,1 milhões de sacas por ano, enquanto os ucranianos consomem 1,2 milhão de sacas.

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Café (Foto: Getty Images)

 

Desde que a guerra no Leste Europeu começou, as cotações internacionais do café despencaram – e no Brasil não foi diferente. De acordo com o acompanhamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), os preços do tipo arábica caíram mais de R$ 100 por saca, em média, para pouco mais de R$ 1.300 por saca. Apesar do recuo, o valor atual ainda segue em um patamar elevado se comparado ao que era praticado nesta mesma época do ano passado,quando os preços estavam na casados R$ 700 por saca.

O que esperar daqui para frente? Segundo os especialistas, o pior já passou. Embora a tendência continue sendo de queda nos preços do café, o que está em jogo agora é quanto tempo essa guerra vai durar e onde ela vai chegar. “O que está pesando é que a Europa toda pode sentir um pouco mais no consumo se a guerra se estender. Com pressão inflacionária, juros subindo, enfim, um ambiente macro que torna a situação mais difícil. E um eventual contágio disso em países do entorno, que podem ter suas economias atingidas do ponto de vista do consumo”, explica Cesar Castro, consultor de agronegócios do Itaú BBA e especializado no mercado cafeeiro.

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Com as incertezas em relação ao tamanho do apetite mundial pelo café e com a pressão esperada com a entrada das novas safras, Castro acredita que os preços do grão sofrerão uma acomodação. “Eu acredito nos R$ 1 mil por saca para esta safra nova. No ano passado, o preço era R$ 600 por saca”, lembra-se. Pesa contra o mercado do café ainda a safra de 2023, que deve ser maior que a de 2022. “O clima está ótimo desde o final do ano passado. Não tem café para este ano porque estamos colhendo os efeitos do clima de 2021 ainda. Mas, no ano que vem, ao que tudo indica, teremos uma safra muito boa”, acrescenta.

Preço, produção e consumo do café (Foto: Estúdio de Criação)

 

A explosão recente dos preços também promete uma rentabilidade maior aos cafeicultores brasileiros, na opinião do consultor do Itaú BBA. Isso porque os custos da safra que está chegando foram travados em patamares bem abaixo do que vem sendo praticado atualmente. “O problema será o próximo ciclo, que começa a ser adubado em setembro e outubro, e terá o custo (alto) de 2023”, diz.

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Para as exportações brasileiras, o sinal é amarelo e pede maior atenção. Embora os fundamentos do mercado sejam positivos, com um consumo crescente nos maiores compradores internacionais e estoques historicamente baixos, o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, afirma que o cenário é perigoso, caso a guerra continue por muito mais tempo. “E os impactos disso vão muito além do café”, lembra ele.

Nos primeiros meses de 2022, o Brasil registrou redução nas vendas de café para o exterior. Os dados do Cecafé mostram que, entre janeiro e fevereiro, o volume foi 812 mil toneladas abaixo do registrado no mesmo período de 2021. Ao todo, o país despachou para o mundo 6,8 milhões de sacas, contra 7,6 milhões embarcadas no ano passado.

Segundo Matos,os dados preliminares de março são positivos, mas é preciso aguardar os dados oficiais e, principalmente, os desdobramentos da guerra no Leste Europeu. Ainda de acordo com o executivo, os exportadores brasileiros seguem em paralelo na busca de alternativas, estudando novos potenciais mercados. “Nosso maior projeto de promoção do café hoje é na China, além dos países árabes. Esses dois destinos podemos explorar muito mais”, afirma. 

Outro ponto de atenção da cadeia cafeeira diz respeito à logística, também muito afetada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia.

Lavoura de café (Foto: Getty Images)

 

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Márcio Cândido Ferreira, conselheiro do Cecafé e diretor superintendente da Tristão Comércio Exterior e da indústria de torrefação Real Café, ambas do Espírito Santo, diz que a logística, que já estava ruim, por causa da pandemia, agora piorou, porque os navios não podem atracarnos portos da Rússia e da Ucrânia. “Uma alternativa seria desembarcar o café em portos próximos, como o da Lituânia, e transferir por terra para a Rússia. Mas aí vem a dúvida: como receber?”

Segundo Ferreira, as grandes importadoras e multinacionais instaladas na Rússia conseguem pagar por outras vias, pois têm operações em vários países, mas os pequenos importadores, que trabalham com a moeda local (rublo), tiveram de paralisar os negócios.

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Lavoura de café (Foto: Getty Images)

 
Source: Rural

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