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Os livros de história econômica descrevem São Paulo como a terra do café e posteriormente como berço da indústria nacional. Pela ótica setorial, destacam-se as terras paulistas, a partir da segunda metade do século XX, como um imenso canavial e um grande pomar de laranjas. Estas culturas realmente são relevantes na evolução da agropecuária estadual, mas estão longe de expressar a verdadeira imagem destas terras atualmente.

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Vozes do Agro (Foto: Estúdio de Criação)

 

São Paulo conta com uma diversidade de climas, relevos, de características de mercado e de produtores rurais (nível de instrução, capitalização, tamanho dos estabelecimentos, acesso às terras, crédito e tecnologia), que possibilitam a realização de atividades como lavouras permanentes, temporárias, criação animal, floricultura, horticultura, silvicultura e extrativismo vegetal. Podemos acrescentar também a produção de alimentos de origem tropical e de clima temperado (uvas, alcachofras, trutas, lúpulo, seda).

Segundo o último Censo Agropecuário e pesquisas realizadas pelos autores no projeto do IPEA “Agricultura e diversidade: análise de trajetórias, tecnologias e desafios regionais a partir dos dados do Censo Agropecuário”, foram produzidos em 2017 no estado de São Paulo cerca de 300 gêneros agropecuários distintos nos 188,6 mil estabelecimentos agropecuários paulistas, que ocupam 16,5 milhões de hectares. A agropecuária paulista atingiu o valor de produção (VP) de R$ 60,1 bilhões neste mesmo ano, o equivalente a 13% do Valor da Produção (VP) da agropecuária nacional.

As várias regiões do Estado têm distintas especializações produtivas, entretanto o cultivo da cana-de-açúcar permanece como líder. As lavouras temporárias atingiram o VP de R$ 31,7 bilhões em 2017 (dos quais a cana-de-açúcar foi responsável por 78%). A criação de animais somou R$ 15,1 bilhões. Juntas, essas atividades representaram 77,9% do VP da agropecuária paulista

Os 10 principais produtos da pauta (cana-de-açúcar, bovinos, ovos, laranja, soja, produtos da silvicultura, leite, milho, café e frango) foram responsáveis por 85% do VP em 2017, concentração que se dá, sobretudo, nas regiões de Ribeirão Preto, Araraquara, Araçatuba, Presidente Prudente, Bauru e São José do Rio Preto, que têm em comum o protagonismo da cana-de-açúcar, seguido pela laranja e criação de bovinos e aves e seus derivados (leite e ovos). Estas áreas também têm características similares de clima, solo e topografia que favorecem as culturas anuais e semi-perenes com alto índice de mecanização.

Em áreas com condições de relevo e clima mais desafiadores para a mecanização, ou mesmo por conta do elevado grau de urbanização, outros gêneros agropecuários são mais relevantes, com destaque para os produtos da horticultura, aves e ovos, fruticultura e outros produtos comercializados em cadeias curtas (feiras, varejões, mercados institucionais e delivery). São exemplos as regiões do Vale do Paraíba, Vale do Ribeira e Jundiaí, protagonistas nos referidos produtos.

Esses produtos possuem grande relevância socioeconômica, sobretudo no âmbito local e para os pequenos produtores, por possibilitarem maior dinamismo econômico, lucratividade, interação direta com consumidores e por garantir a oferta de diversos alimentos à população. Além disto, em muitas áreas, as propriedades conciliam estas atividades agrícolas com turismo e agroindústria rural.

Em suma, a agropecuária paulista é diversificada e complexa em suas regiões. A diversificação produtiva tem entre suas causas a busca por economias de escopo, que reduzem as necessidades de insumos como adubos químicos e agrotóxicos e otimizam o uso da mão-de-obra, ao combinar a produção de diversos gêneros em um ecossistema mais equilibrado e o uso de práticas sustentáveis. Além disso, visa a minimização dos riscos de mercado para o produtor, sobretudo os de pequeno porte, que são tomadores de preços na compra de insumos e na venda de seus produtos, possibilitando maior estabilidade de seus rendimentos.

A agropecuária paulista aumentou o grau de diversificação entre 2006 e 2017, principalmente nas regiões intermediárias de São Paulo, Ribeirão Preto, São José dos Campos e Bauru, e é considerada atualmente como diversificada (Silva, Baricelo e Vian, 2022). Ainda que 85% da pauta produtiva esteja concentrada em 10 produtos, os 15% complementares se distribuem em um amplo leque de gêneros agropecuários (cerca de 288 produtos), que geram emprego e renda para muitos produtores rurais e alimentos para um grande contingente populacional.

As quatro regiões intermediárias com agropecuária mais diversificada no estado em 2017 – São Paulo, São José dos Campos, Sorocaba e Campinas – representaram 37% do pessoal ocupado nos estabelecimentos agropecuários. Além disso, essas regiões são líderes estaduais na produção de gêneros como abóbora, algodão, arroz, aveia, batata, ervilha, feijões, fumo, milho, soja e trigo. São Paulo não é apenas a indústria do Brasil, mas também um importante e diversificado celeiro.

*Rodrigo Peixoto da Silva é doutor em Economia Aplicada pela ESALQ/USP, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada e pesquisador bolsista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Carlos Eduardo do Freitas Vian é Doutor em Economia e professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia Rural da ESALQ/USP. Pesquisador associado do CEPEA e líder do Grupo de Estudo e Extensão em História Econômica e dos Complexos Agroindustriais (GEPHAC).

Luis Gustavo Baricelo é doutor em Economia Aplicada pela ESALQ/USP. Professor da Instituição Toledo de Ensino (ITE – Bauru) onde coordena o Grupo de Estudo e Pesquisa em Economia Regional (GEPER). Também é membro do GEPHAC.

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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