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Este ano de 2022 marca a entrada no campo em escala comercial do primeiro trator que anda sozinho, dispensando a necessidade de um operador na cabine. O trator autônomo 8R foi lançado pela multinacional norte-americana de máquinas agrícolas John Deere no início de janeiro na Consumer Eletronic Show (CES), feira de tecnologia realizada em Las Vegas, nos Estados Unidos, e deve estar à venda naquele país até o final do ano. Não há ainda previsão de quando começa a ser comercializado no Brasil e em outros países.

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Trator autônomo da John Deere apresentado na CES (Foto: Divulgação/John Deere)

 

“A automação deixou de ser um conceito e se tornou uma prática da revolução na agricultura”, pontuou na coletiva de imprensa Dan Leibfried, diretor de inovação da John Deere para a América Latina.

À Globo Rural, Leibfried disse que a marca escolheu fazer o lançamento do trator na CES, feira que tradicionalmente apresenta as novidades em TVs, robôs, carros, computadores e equipamentos eletrônicos, para dar visibilidade à agricultura e ao setor de alimentos na feira que é a maior e mais influente de tecnologia do mundo. “Fomos os primeiros a trazer colheitadeiras, pulverizadores, tratores com plantadeiras, e agora um trator autônomo para esta feira.”

O diretor de inovação disse que a tecnologia vem sendo desenvolvida pela marca há 3 anos e que o preço e o modelo de negócios só serão divulgados no futuro. “A disponibilidade de mão-de-obra durante prazos de operação apertados é um dos principais impulsionadores da autonomia das soluções. Além disso, essas soluções melhoram a qualidade de vida dos agricultores, pois agora são capazes de se concentrar em tarefas mais importantes na sua operação ou gastar tempo de qualidade adicional com a família.” Além disso, segundo o diretor, ferramentas tecnológicas como o trator autônomo permitem mais produtividade, sustentabilidade e igualdade entre os agricultores, pois seus processos são idênticos e constantes, o que é diferente de ter um trabalhador operando cada processo.

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O equipamento tem seis pares de câmeras estéreo, que permitem a detecção de obstáculos em 360º e o cálculo da distância. As imagens capturadas pelas câmeras passam por uma rede neural que classifica cada pixel em aproximadamente 100 milissegundos e determina se a máquina continua se movendo ou pára, dependendo se um obstáculo é detectado. O trator também verifica continuamente sua posição em relação a uma geocerca para garantir que esteja operando exatamente onde deveria com uma precisão de 2,4 centímetros. Segundo o fabricante, a máquina está preparada para operar 24 horas, 7 dias por semana, parando apenas para fazer o reabastecimento a cada 8 horas em média. 

Trator autônomo da John Deere apresentado na CES 2022 (Foto: Divulgação )

 

Questionado por que o equipamento autônomo manteve a cabine, Leibfried disse que o trator é uma das máquinas mais versáteis da fazenda e a opção da marca foi manter a cabine neste momento para permitir máxima flexibilidade, ou seja, ele pode trabalhar de modo autônomo ou tradicional, com um operador. Antes de ser levado ao campo, o agricultor precisa configurar a máquina para a operação autônoma usando o John Deere Operations Center Mobile (Centro de Operações). Depois, monitora o status da máquina em seu dispositivo móvel ou faz ajustes para otimizar seu desempenho.

Em relação à legislação necessária para a operação autônoma, Leibfried admitiu que a automação completa de veículos, não apenas em campo, ainda depende de alguns fatores que estão sendo avaliados em todo o mundo, incluindo aspectos regulatórios e de segurança. “A John Deere já possui muitas soluções comerciais com níveis de automação, onde podemos otimizar processos, reduzir custos e trazer segurança às pessoas com recursos de automação”, afirmou, ressaltando que iniciou a pesquisa de autonomia em protótipos no início do ano 2000 e que no Brasil a marca já oferece soluções com muita autonomia, como as colheitadeiras de grãos S700.

No Brasil, a legislação não permite nem a circulação de carros autônomos sem motorista, como o Tesla, e é considerada infração de trânsito tirar as mãos do volante. Um estudo da KPMG, organização global de auditores independentes, sobre índice de prontidão para veículos autônomos em 2020 coloca o Brasil em último lugar entre os 30 países analisados.

Case IH: trator conceito

A primeira indústria de máquinas agrícolas a apresentar no Brasil um trator conceito autônomo, o Magnum, foi a Case IH, do grupo CNH Industrial. Sem cabine, o modelo foi apresentado na Agrishow, em maio de 2017. O trator de 350 cv era controlado remotamente por um computador e parava sozinho ao encontrar um obstáculo. O modelo nunca entrou em produção comercial.

Segundo Rodrigo Alandia, diretor de marketing de produto da Case IH para a América Latina, a marca se concentrou intencionalmente em fornecer as melhores soluções automatizadas para aumentar a produtividade da máquina e melhorar a pontualidade das operações de campo.

Trator autônomo conceito da Case IH apresentado em 2017 (Foto: Divulgação )

 

“Durante nossos testes de pesquisa na fazenda que se seguiram à introdução do trator autônomo, ficou bastante claro que os tratores autônomos e seus implementos devem ter níveis correspondentes de automação e tecnologia para fornecer uma solução de campo robusta. Qualquer incompatibilidade levará, na melhor das hipóteses, a oportunidades não realizadas de produtividade do cliente e correção agronômica no campo.”

Em 2018, a empresa definiu cinco categorias de automação e autonomia para a agricultura: orientação, coordenação e otimização, automação assistida pelo operador, autonomia supervisionada e autonomia plena. No mesmo ano, diz Alandia, a Case IH realizou um programa piloto do trator autônomo com o objetivo de entender as maneiras pelas quais a nova tecnologia autônoma poderia ser usada para atender as necessidades de uma fazenda do mundo real. A partir daí, passou a usar as inovações do trator autônomo no lançamento de novas tecnologias, como o sensoriamento para preparo do solo pré-plantio AFS Soil Command e a tecnologia de controle agronômico.

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“Em 2020, a Case IH lançou o trator Magnum AFS Connect, que amplia ainda mais a gama de tratores com tecnologia Isobus Classe 3. Isso oferece possibilidade de controlar o implemento com certas funções do trator, como direção, velocidade e hidráulica, criando assim funcionalidades avançadas de controle automatizado, reduzindo a fadiga do operador e aumentando a eficiência.”

Alandia afirma ainda que níveis adicionais de precisão e automação para vários sistemas estão em desenvolvimento há vários anos e serão introduzidos neste 2022. “Estamos no caminho da autonomia total. Mas o foco não é tirar os agricultores da agricultura. É tornar as máquinas mais produtivas. É automação funcional. É usar sensores que medem as condições da cultura, máquina, solo e ambiente para fazer ajustes operacionais da máquina em tempo real visando garantir o resultado mais produtivo e desejável para os produtores.”

AGCO: robôs da Fendt

Na AGCO, multinacional dona das marcas Massey Ferguson, Valtra e Fendt, o desenvolvimento de projetos autônomos não foca as grandes máquinas e sim os robôs de semeadura Xaver, da Fendt, desenvolvidos desde 2017 na Alemanha, mas nunca apresentados no Brasil.

Atualmente, a fábrica desenvolve a segunda geração desses robôs, que trabalham no conceito de enxame. A Fendt argumenta que automação e autonomia são tópicos importantes quando se trata de tecnologia agrícola sustentável e os benefícios ecológicos, como baixa pressão no solo, baixo consumo de energia, baixo ruído, zero poluição, vazamentos ou emissões, estão desempenhando um papel cada vez mais importante na agricultura moderna. Os robôs foram apresentados em uma feira virtual na Alemanha em outubro de 2020, mas a marca não anunciou ainda quando eles começarão a ser comercializados.

“O trabalho cansativo, manual, que ainda exige vários trabalhadores atuando no campo, será automatizado no futuro. Isso elimina o fardo do trabalho monótono e abre caminho para alimentos produzidos de forma mais sustentável”, disse Benno Pichlmaier, diretor global de Tecnologia e Inovação, em nota da assessoria da Fendt.

A última geração do Xaver vem com uma solução de plantio embarcada desenvolvida pelo Grupo AGCO, a Precision Planting. Segundo a empresa, com a ajuda de um sistema de controle acionado eletricamente, grãos individuais são depositados com precisão de centímetros a uma distância pré-definida na linha. Os robôs incorporam sensores que medem a umidade do solo, temperatura e resíduos vegetais. Com base nesses dados em tempo real, variam a profundidade da semente de acordo com as condições do solo.

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Os modelos agora são equipados com três rodas em vez das quatro rodas da geração anterior. A última roda, além de acionar o robô, também atua como indicador de rota. Ao passar pelo terreno, compacta o solo suavemente ao lado e acima da semente, fechando o solo ao redor do grão da semente para garantir o suprimento de umidade e iniciar a germinação.

Os robôs semeadores de sementes usam o Fendt Xaver Cloud para receber comandos e retornar seus relatórios de status, ou seja, dependem de internet para funcionar. O sistema baseado na web é gerenciado de forma independente por aplicativo. “Isso significa que o agricultor ou contratado pode acessar toda a frota ou robôs individuais no campo em um tablet ou no PC do escritório.”

O Xaver tem dois metros, pesa 150 kg vazio e quase não precisa de espaço para virar nas cabeceiras. A capacidade do tanque de sementes é de 20 litros. Funciona com bateria de íons de lítio, tem autonomia de uma hora e meia antes de precisar ser recarregado e pode trabalhar 24 horas. Segundo o fabricante, um grupo de seis robôs cobre uma área de três hectares.
Source: Rural

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