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No dia 4 de setembro de 2021, as vendas de carne bovina brasileira para a China foram suspensas após dois casos atípicos de vaca louca terem sido notificados em Minas Gerais e no Mato Grosso e só foram completamente retomadas em 15 de dezembro. Em decisão anterior, tomada em 23 de novembro, as autoridades alfandegárias chinesas passaram a aceitar apenas os produtos que obtivera o certificado sanitário antes da data do embargo, mesmo após a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) – última instância de referência no diagnóstico diferencial para a doença – ter informado que as ocorrências não representam risco para a cadeia de produção bovina brasileira. Essa suspensão causou impactos em toda a cadeia de valor, já que a China é o principal destino da carne bovina brasileira. Entretanto, nota-se que o setor é forte, bem articulado e tem um serviço de defesa agropecuária competente e eficiente, o que faz com que a pecuária tenha exposição reduzida a esse tipo de evento.

O Brasil é um dos principais exportadores de proteína animal para o mundo, já a China é um dos principais importadores. Em 2020 as exportações brasileiras de carne bovina totalizaram US$ 8,5 bilhões, representando 8,4% do valor das exportações do agronegócio. Os embarques para a China chegaram a US$ 4,0 bilhões, sendo o principal destino da carne bovina brasileira, equivalente a 47,6% de todas as exportações desse segmento, cerca de 868,9 mil toneladas.

 

 

Em termos totais, até agosto de 2021, mês que antecedeu a suspensão, já havia sido exportado 1,3 milhão de tonelada de carne bovina, atingindo cerca de US$ 6,2 bilhões. Quando comparado ao mesmo período de 2020, o volume dessas exportações manteve-se estável, apresentando uma pequena queda de 1,3%, já em termos de valor houve um crescimento de 14,7%. Esses dados mostram que a dinâmica do atual cenário econômico foi quem ditou as variações no valor das exportações. Fatores como aumento dos custos de produção e câmbio contribuíram para esse cenário de preços.

Durante os meses de setembro, outubro e novembro de 2021, em que o embargo se mantinha em vigor, houve queda de 3,5% no valor total das exportações de carne bovina, saindo de US$ 2,3 bilhões em 2020 para US$ 2,2 bilhões em 2021. O volume embarcado foi de 419,7 mil toneladas, cerca de 24% a menos que as 552,0 mil toneladas exportadas no mesmo período do ano anterior. Essa queda é um indicativo do impacto das restrições impostas pela China.

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Apesar das restrições afetarem negativamente as exportações do setor, nota-se a relevância da atuação de todos os envolvidos no controle e fiscalização sanitária da atividade pecuária brasileira. Um estudo divulgado pelo Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas mostra que, caso houvesse um surto de febre aftosa no rebanho bovino brasileiro, as perdas econômicas diretas e indiretas poderiam atingir R$ 9,6 bilhões e seriam sentidos por diversos setores, desde insumos, energia, distribuição e serviços, já que todos eles estão, direta ou indiretamente, associados a cadeia produtiva da pecuária.

Esse resultado ressalta a importância de políticas públicas voltadas para a saúde animal, além disso apresenta a relevância de serviços de defesa agropecuária, como – por exemplo – a auditoria fiscal e o controle sanitário, para garantir que a pecuária nacional não fique exposta e vulnerável a doenças que podem comprometer a pauta exportadora do agronegócio e a economia como um todo.

*Talita Priscila Pinto é pesquisadora do FGV Agro, o Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de sua autora e não representam, necessariamente, o posicionamento editoria da revista Globo Rural
Source: Rural

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