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No mundo moderno, tecnologia é parte do cotidiano. Quem vive e trabalha sem computador, internet, celular e aplicativos que mostram o caminho mais rápido para qualquer lugar? No entanto, a inovação vai muito além de máquinas e dispositivos eletrônicos. Nas últimas décadas, o aumento na oferta de alimentos, não só em quantidade como em qualidade e variedade, proporcionado pela adoção de tecnologia no campo, e os avanços da medicina elevaram significativamente a expectativa da vida humana.

Uma revolução baseada em ciência foi a grande responsável pela transformação da humanidade. Mas, é fato que, de tempos em tempos, tudo tem que ser atualizado. Por isso, periodicamente, empresas lançam novas versões dos sistemas dos telefones. Afinal, o mundo gira e se transforma.

A agricultura não foge a essa regra. No Brasil, a adoção de tecnologia tornou as fazendas incrivelmente produtivas, impulsionando o gigantesco salto dado pelo país, que passou de importador a um dos maiores exportadores de alimentos do planeta, em cerca de 30 anos.

 

Junto ao profissionalismo dos produtores rurais, máquinas, fertilizantes, cultivares melhoradas e, especialmente, defensivos agrícolas foram grandes protagonistas dessa história. Afinal, desde os primórdios da agricultura, o homem luta contra insetos, fungos, vírus, bactérias e ervas daninhas que comprometem a produção. Graças à ciência, que desenvolve estratégias e produtos químicos e biológicos, tem sido possível controlar ameaças que inviabilizariam a oferta de alimentos.

O investimento em pesquisa e desenvolvimento de novos defensivos que não só controlam pragas, mas que também são seguros para pessoas, animais e meio ambiente, é extremamente alto. No entanto, diferentemente do que acontece com smartphones e computadores, nenhuma nova substância pode ser imediatamente colocada no mercado. Mesmo que seja, comprovadamente, melhor que suas versões anteriores.

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Para ser comercializado no Brasil, cada novo defensivo precisa ser avaliado e registrado pelos órgãos federais de saúde, meio ambiente e agricultura. Um processo que chega a levar de 8 a 10 anos. Em resumo, muitas vezes, quando chega ao mercado, a tecnologia já está defasada. O tempo envolvido no processo coloca o país em dissonância com seus concorrentes. Em outras nações que exportam alimentos, o prazo para aprovação de novas moléculas não passa de 3 anos.

O principal entrave é a legislação que regula os pesticidas no Brasil. A chamada Lei dos Agrotóxicos foi promulgada em 1989 e, praticamente, não passou por atualização nesse período. Obviamente, depois de 32 anos, as ciências agrícolas, os desafios ambientais e a sociedade passaram por grandes transformações. Portanto, muitas exigências regulatórias se encontram desvinculadas do contexto de evolução do mercado global. Se isso valesse para todos os setores, provavelmente, o brasileiro ainda estaria usando máquinas de escrever e celulares com tamanho e peso de um tijolo.

E não faltaram tentativas para corrigir essa distorção. Desde 2002, circula no Congresso Nacional um projeto de lei – PL 6299/02 – que pretende modernizar a legislação. Deixando bem claro, o PL não propõe relaxar o rigor em relação à segurança de novos defensivos. Ao contrário. A nova lei incluirá novas exigências e camadas de análises.

Entre elas, a avaliação de risco, uma premissa que não considera apenas o perigo inerente da substância, mas também leva em conta a exposição a ela, considerando a quantidade de composto que pode ser absorvida no momento da aplicação de um pesticida ou pelo consumo de alimentos tratados, por exemplo. E, obviamente, qual a probabilidade de resultar em efeitos adversos para o ser humano ou o meio ambiente. Sempre com base em parâmetros científicos.

Em resumo, o objetivo da modernização da lei é colocar o Brasil em pé de igualdade com a concorrência, dando aos agricultores nacionais as mesmas ferramentas para tratar suas lavouras, garantindo ainda mais produtividade e alimentos mais baratos para o consumidor.

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O Brasil é apontado pela ONU como um dos principais responsáveis por garantir a segurança alimentar da população mundial que não para de crescer. No entanto, por conta da defasagem da legislação, vive a mercê de novas pragas que, constantemente, entram no país. Se o agricultor precisar de um novo produto, vai depender da agilidade do sistema regulatório para obter defensivos eficientes. Até mesmo problemas que nada têm a ver com o campo, podem ter impacto na necessidade de termos diversidade de produtos no mercado.

É o que está acontecendo hoje. Por causa de uma conjuntura internacional – que inclui efeitos da pandemia, redução no fornecimento de energia na China e conflitos políticos – o mundo enfrenta escassez de insumos básicos para a fabricação de defensivos. Por isso, alguns ativos importantes para o manejo das principais culturas brasileiras podem ter a oferta comprometida. Para alguns desses produtos, não há substitutos registrados no país. E ninguém consegue prever como essa situação vai evoluir até a próxima safra. Assim, mais uma vez, diversidade de defensivos agrícolas é fundamental para dar segurança à cadeia produtiva.

E é preciso lembrar que o mundo tem quase 800 milhões de pessoas que passam fome todos os dias. Uma situação que foi agravada pela pandemia de Covid-19. Não há como resolver essa tragédia se o Brasil continuar desrespeitando a ciência e colocando obstáculos no caminho de quem põe comida na mesa de consumidores de 160 países. Diariamente.

*Christian Lohbauer é presidente executivo da CropLife Brasil

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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