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A escassez de contêineres neste ano impediu que o Brasil batesse o recorde de exportações de maçãs dos últimos 13 anos e também deve impor barreiras aos embarques da safra 2022 que começa a ser colhida no final de janeiro. Neste ano, o país que é um dos dez maiores produtores do mundo colheu a segunda melhor safra da história, com 1,27 milhão de toneladas, 59% a mais que em 2020, e exportou quase 100 mil toneladas, uma receita de US$ 74,3 milhões. O valor supera em US$ 33 milhões a receita do ano passado e só é menor que os embarques de 2008, que somaram US$ 81 milhões.

Brasil é um dos dez maiores produtores do mundo (Foto: Aires Mariga/Epagri)

 

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Maçã, Pierre Nicolas Perès, as exportações poderiam ter sido 30% maiores, não fosse a falta de contêineres. Pierre é um francês que chegou a Fraiburgo (SC), considerada o berço da maçã brasileira, em 1985 para se associar ao sogro, o engenheiro agrônomo também francês Roger Biau, que identificou as variedades gala e fuji que hoje dominam o plantio no país como as mais adaptáveis ao clima da região.

Francisco Schio, produtor em Vacaria (RS) e diretor da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), também lamenta a falta de contêineres e vê mais problemas para os embarques em 2022. “A liberação recente do embargo chinês sobre a carne bovina brasileira vai impactar ainda mais a demanda por contêineres para enviar a proteína que ficou represada nos últimos três meses e isso vai coincidir com o período de exportação de maçã.”

Segundo ele, os aumentos de tarifas de embarques passam de 100% e chegam a 150% em algumas rotas. “Agora começam as negociações para as novas exportações e teremos que ver qual será a demanda pela fruta brasileira diante desses aumentos.”

Escassez de contêineres impõe barreiras à exportação de maçã (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli)

 

Marcela Barbieri, especialista em maçãs do Centro de Estudos Avançados em Economia (Cepea) da Esalq-USP, também diz que a concorrência por contêineres com outras culturas, especialmente as commodities, impediu um avanço maior das exportações, que foram, no entanto, favorecidas pela boa demanda externa e pelo câmbio. Segundo ela, o Brasil exporta mais no primeiro semestre, quando há menos frutas no mercado, já que os países do hemisfério norte colhem a maçã no segundo semestre. Ela lembra que a maçã brasileira, diferentemente de outras frutas como o mamão, tem muitos concorrentes, como Chile, Argentina, Nova Zelândia e África do Sul.

(Foto: Associação Brasileira dos Produtores de Maçã)

 

Neste ano, o Brasil abriu as exportações para a Colômbia no meio do ano, o que viabiliza embarques também no segundo semestre, e a gigante Índia, cujo mercado foi aberto há apenas três anos, mostrou grande apetite pela maçã brasileira e se tornou o destino principal da fruta, desbancando Rússia e Bangladesh. A previsão é que a Índia eleve mais as compras em 2022.

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Não há acordo de exportação para a China, maior produtor com 52% e consumidor de maçã, mas o Brasil, segundo o diretor da Abrafrutas, poderia atender ao mercado dos Estados Unidos, não fossem os impeditivos de burocracia e, principalmente, logística. Já foram iniciadas as negociações para abrir o mercado do México, outro grande consumidor de maçã, abastecido atualmente por EUA e Canadá, e o país também mira os consumidores da Tailândia, Malásia e Vietnã.

Segundo Schio, o produtor estava feliz com a rentabilidade da safra até meados do ano quando os custos de produção, que incluem insumos, energia elétrica, fretes e embalagens começaram a subir sem limites. No caso dos fertilizantes, a alta passou de 100%. “A expectativa era de uma ótima rentabilidade com a boa safra, mas o lucro acabou sendo menor que em 2020.”

A especialista do Cepea explica que o preço no mercado interno neste ano ficou aquém do esperado porque havia muita oferta e baixo poder aquisitivo da população. O dólar valorizado também impactou as importações, que não passaram de 41 mil toneladas, uma queda de 52% em relação ao ano passado.

Nova Safra

A nova safra deve ocupar a mesma área de 34 mil hectares, mas será menor. O setor estima uma colheita de cerca de 1 milhão de toneladas, já que é ano de bienalidade negativa para a maçã do tipo fuji, que representa cerca de 39% da produção e é sempre plantada junto com a gala devido à necessidade de polinização cruzada. Além disso, faltou sol na florada, o que prejudicou o desenvolvimento dos frutos.

A produção se concentra no sul do país, com destaque para Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que produzem 98%. Neste ano, os gaúchos conseguiram produzir mais que os vizinhos, que tradicionalmente lideram o ranking de produção: 630 mil toneladas ante as 617,4 mil dos catarinenses. Há mais de 3.000 produtores no país, entre grandes e pequenos.

O presidente da ABPM destaca que o Brasil teria condições climáticas e área para produzir mais maçã, mas se a safra superar 1,150 milhão de toneladas é imperativo exportar porque os custos de produção, atualmente em cerca de R$ 40 mil por hectare, sobem muito e o mercado interno não absorve esse volume. Um dos custos mais altos é o de energia, já que a maçã é colhida nos primeiros meses do ano e fica armazenada em câmaras frias para abastecer o consumidor brasileiro durante todo o ano. “A exportação serve de colchão para o produtor não se desesperar em anos de grande safra.”

Pierre diz que a cultura demanda um volume grande de mão-de-obra porque praticamente todas as operações são manuais. O setor estima que cerca de 45 mil pessoas trabalham na colheita no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sendo de 15 mil a 20 mil migrantes de outros Estados como Pernambuco, Maranhão, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. No ano passado, a colheita recebeu inclusive índios do MS, que devem voltar em janeiro.

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Segundo ele, a mão-de-obra já representou um gargalo maior para o setor, mas pode voltar a faltar, como ocorre em outros países produtores de maçãs, em caso de desenvolvimento da economia brasileira. Várias pesquisas no mundo buscam formas de automação para a colheita da maçã, mas, por enquanto, só há plataformas móveis e protótipos de colhedoras em testes.

Dono da Pomagri Frutas, o francês produz 7 mil toneladas por ano em 180 hectares de pomares em Fraiburgo e Bom Jardim da Serra. A empresa que começou a exportar em 1985 emprega 80 pessoas, mas na colheita tem 400 funcionários. Admirador da resiliência do brasileiro para superar crises econômicas, Pierre diz que o cultivo da maçã é uma atividade lucrativa, inclusive para o pequeno produtor, desde que seja tratada como um negócio, com muito profissionalismo e olho nos custos. A implantação de um hectare custa em torno de R$ 100 mil, inclui irrigação por gotejamento e, devido ao risco de queda de granizo, precisa ter tela de proteção e seguro.

A Agropecuária Schio, do diretor da Abrafrutas, é a maior produtora e exportadora de maçã do país, com 3.800 hectares implantados em 11 fazendas na região de Vacaria (RS), sendo 2.200 hectares de gala, 1.200 ha de fuji e mais 400 ha de outras variedades. A empresa processa 250 mil toneladas por ano, exporta cerca de 3.000 contêineres para 37 países e emprega 7.000 trabalhadores na colheita e processamento da fruta, sendo 3.500 fixos. As exportações foram a base do crescimento do grupo fundado em 1987 pelo pai de Francisco, um transportador de cargas que decidiu investir em um pequeno pomar.
Source: Rural

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