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Sem área para elevar a produção no Paraná, o produtor de grãos Ralph Karly de Guarapuava adquiriu terras em Baixa Grande do Ribeiro, no Piauí, há quatro anos. Lá investe na produção de feijão para exportação do tipo mungo, que é esverdeado, menor e mais redondo que o popular carioca e muito consumido na Ásia. Filho e neto de agricultores alemães, Karly plantou neste ano 4 mil hectares na propriedade de 15 mil hectares em rotação de culturas com soja e milho, obteve uma produtividade de cerca de 2.000 quilos por hectare e exportou 42 contêineres de 25 toneladas cada um por meio de uma trading.

Feijão mungo produzido no Piauí (Foto: Ralph Karly/Divulgação)

 

A variedade escolhida por Karly foi a base da exportação de feijão brasileira, que atingiu o recorde de 200 mil toneladas de janeiro a novembro deste ano, sendo 74 mil toneladas do tipo mungo, com uma receita total de US$ 188 mil ou R$ 1,05 bilhão. Em todo o ano passado, foram embarcadas 177,4 mil toneladas.

Tradicionalmente, o Brasil exporta muito pouco feijão porque pelo menos 60% da produção das cerca de 3 milhões de toneladas anuais colhidas em três safras são do tipo carioca, que só é consumido no Brasil. O consumo que já foi de 21 quilos por habitante na década de 1970 vem caindo ao longo dos últimos 40 anos. No ano passado, teve um leve aumento, passando para 14,3 quilos porque as pessoas ficaram mais em casa devido à pandemia, mas neste ano já voltou à média de 13 quilos.

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Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), diz que o aumento das exportações é benéfico para o produtor, para a balança comercial e também para o consumidor interno porque garante liquidez ao agricultor para manter os investimentos na cultura, que não tem travamento de custos, convive com muitos riscos climáticos e de pragas e disputa terras com outras lavouras, como o milho.

“O produtor só vai se interessar em aumentar e até manter a produção de feijão se tiver certeza de que vai ter mercado. Aumento de exportação não significa aumento de preços no mercado interno nem risco de faltar o produto para o brasileiro, já que a prioridade do produtor sempre é atender o consumidor interno. Na exportação, ele corre riscos de perder o produto, só recebe depois de 60 a 90 dias e ainda tem a variação cambial.”

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O Ibrafe faz campanha pelo aumento de produção do feijão exportável há alguns anos. Neste ano, fechou acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) para promover a leguminosa brasileira em oito países: Emirados Árabes Unidos, Chile, Cingapura, Coréia do Sul, Costa Rica, Estados Unidos, Filipinas e Índia. A meta é elevar as exportações para 500 mil toneladas até 2025.

Lüders diz que a exportação está aumentando porque o produtor está conhecendo o mercado externo, investindo mais em tecnologia, irrigação, manejo e cultivares para produzir feijões exportáveis, como o mungo, caupi, rajado e vermelho. Além disso, outros países exportadores como os Estados Unidos reduziram a produção e o consumidor no mundo está se voltando cada vez mais para os alimentos naturais, como os pulses, categoria em que entram feijão, ervilha, grão-de-bico e lentilha.

Feijão mungo liderou os embarques do produto brasileiro para o mercado externo (Foto: Ralph Karly/Divulgação)

O produtor Karly, que também planta mil hectares de feijão preto em Guarapuava para o consumo interno e já começa a sentir os efeitos da seca que atinge o oeste do Paraná, começou a exportar o mungo colhido no Piauí há dois anos. No primeiro ano, fez um teste para conhecer o mercado. Ele embarca seu feijão principalmente de março a abril, aproveitando a janela aberta pela Índia para as importações do produto.

Neste ano, mais que dobrou o volume, mas disse que enfrentou muitas complicações devido à falta de contêineres, problema que afeta as exportações mundiais. “Os custos ficaram exorbitantes. No ano passado, o aluguel do container custava US$ 2 mil e neste ano subiu para US$ 9 mil, mas, mesmo assim, eu me atrevi a exportar .” O produtor ressalta que só recebe o pagamento pela exportação 15 dias após a chegada do feijão no seu destino, o que no caso da Índia demora cerca de 35 dias, e ainda corre o risco de o importador recusar a carga.

Para 2022, Karly espera embarcar 55 contêineres de mungo, desde que o dólar permaneça favorável à exportação. Um problema adicional neste ano, diz, foi o aumento de preço dos insumos, que incluem fertilizantes, defensivos. Além de máquinas. “Imagina que fiz a cotação de uma máquina em janeiro, fui refazer agora e o preço dobrou.” Até a colheita, o produtor usa no feijão as mesmas máquinas da soja, mas no beneficiamento e ensacamento precisa de equipamento específico.

Henrique Pérola, dono da Agroindustrial Campo Real, de Primavera do Leste (MT), diz que nos últimos dois anos a exportação de feijão foi muito beneficiada pelo câmbio, embora neste ano tenha ocorrido uma redução de margem porque o preço do frete triplicou. Ele exporta os feijões mungo e caupi, além de gergelim e pipoca. Neste ano, por uma estratégia comercial, ele abandonou o gergelim e investiu no caupi, com o embarque de 6.000 toneladas ante as 1.600 de 2020.

China, Índia e Paquistão são os principais destinos. As exportações ocorrem de julho a meados de novembro, geralmente, mas neste ano vão se estender por dezembro porque o mercado externo está mais aquecido, com mais países investindo em formação de estoque com medo de faltar o alimento. A meta de Pérola, que está construindo uma filial para a empresa, é crescer as exportações 15% ao ano.
Source: Rural

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