Skip to main content

Iniciada de forma voluntária pelo Brasil devido a dois casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina, em Minas Gerais e Mato Grosso, em setembro, a suspensão das exportações de carne bovina para a China completa três meses neste sábado (4/12) ainda sem previsão de retomada. Com cerca de 20% da produção nacional voltada para o mercado externo, sendo praticamente metade disso destinada ao mercado chinês, a ausência do país ajudou a pressionar o PIB agropecuário no terceiro trimestre e derrubou pela metade as exportações de novembro.

No acumulado de setembro a novembro, o volume de carne bovina exportada pelo Brasil caiu 25,9%. O valor foi 5,2% menor quando comparado ao mesmo período do ano passado. Após bater recorde em setembro, refletindo o embarque do que fora vendido meses antes, o volume exportado caiu 56% em outubro e a receita teve baixa de 61% na comparação mensal. Em relação ao mesmo período do ano passado, a quantidade foi 88% menor. Já em novembro, a queda das exportações foi de 51,6% em volume e 45,9% em valor na comparação com o mesmo mês do ano passado, mas de apenas 1% ante o volume registrado em outubro.

Carne bovina. Ausência do mercado chinês afetou exportações (Foto: Thinkstock)

 

No mercado interno, a ausência chinesa levou à primeira deflação em 16 meses no preço das carnes, em outubro. Segundo cálculo do IPCA realizado pelo IBGE, a queda foi de 0,4% naquele mês puxada pela redução dos preços de cortes dianteiros como costela (-2,01%), acém (-2,89%) e pá (-2,72%). O embargo acabou contribuindo com o resultado negativo do PIB Agropecuário do terceiro trimestre, quando os efeitos da seca e das geadas sobre as lavouras de milho, café, cana-de-açúcar, laranja e algodão levaram o setor a registrar o pior resultado desde 2012: queda de 9% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Leia mais sobe pecuária bovina e o embargo da China

Sem informação adicional sobre as razões na demora para a liberação dos embarques, mesmo após o reconhecimento da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) de que os dois casos atípicos não têm impacto sobre o status sanitário do Brasil, sobram teorias sobre a motivação chinesa para manter a suspensão. Além da pressão para renegociar preços, analistas destacam os esforços do país para recuperar os preços da carne suína no seu mercado interno, onde as cotações registram queda desde fevereiro deste ano.

Com os custos em alta, as margens do setor chegaram a ficar negativas, levando o governo a intervir no mercado, absorvendo 53 mil toneladas de carne suína de seu mercado interno em julho e outras 30 mil em outubro. O resultado foi uma forte recuperação nos preços do suíno a partir da segunda quinzena de outubro enquanto a carne bovina manteve relativa estabilidade no período. Nesse sentido, a manutenção do embargo seria uma estratégia de enxugar a oferta interna de carne bovina para deslocar o consumo para a carne suína – já naturalmente preferida pelos chineses.

saiba mais

Preço do boi gordo mantém alta e renova máximas nominais, diz Cepea

Embargo da China à carne já afetou um pouco as exportações no 3º trimestre, diz IBGE

Embargo da China: liberação de carne bovina já habilitada não garante retomada das exportações

 

“Houve um refino das técnicas de manejo, uma profissionalização da atividade, com investimento em nutrição animal de qualidade, importação de genética. Tudo isso para melhorar a qualidade da suinocultura. E o governo chines não vai deixar esse dinheiro desperdiçado, já que os custos de produção na China também estão muito altos este ano”, destacou o analista da Safras & Mercado, Fernando Iglesias, em entrevista recente à Globo Rural, após a China decidir liberar a entrada de mais de 100 mil toneladas de carne bovina certificada antes da suspensão dos embarques, mas retida em portos chineses e no Brasil.

A notícia, anunciada no último dia 23 de novembro, foi comemorada pelo setor e pelo governo brasileiro. A Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, chegou a afirmar que a autorização seria o primeiro passo para a retomada das exportações regulares do produto brasileiro para o mercado chinês. Sem nenhuma nova sinalização desde então, o mercado mira no comportamento do mercado de proteína animal da China para tentar entender até quando deverá durar o embargo.

“A ótica que mais temos trabalhado é a o acompanhamento da margem da suinocultura chinesa. E eu acredito que vamos ter que observar, nas próximas semanas, qual vai ser o comportamento do suíno, da carne suína e da margem da suinocultura na China para entender se, de fato, teremos alguma liberação em breve”, destecou, também em entrevista recente à Globo Rural, o analista de pecuária da Stonex, Caio Toledo.

Na semana seguinte à autorização dos embarques, encerrada no dia 1/12, o preço do suíno vivo registrou alta de 2,2%, cotada a 18,21 Yuans, enquanto a carne bovina subiu 0,1%, cotada 86,85 yuans, segundo dados do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China.
Source: Rural

Leave a Reply