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A forte queda do Produto Interno Bruto da Agropecuária (PIB Agropecuário) no terceiro trimestre, divulgada nesta quinta-feira (2/12) foi recebida sem surpresas por economistas e pesquisadores que acompanham o setor. Com as colheitas de café, cana-de-açúcar, laranja, milho e algodão atingidas por seca e geadas registradas no país, o resultado era previsível e foi agravado por um quadro também desfavorável para a pecuária, particularmente na bovinocultura.

“Não foi surpresa nenhuma. Grosso modo, esse resultado é efeito da seca, que já tinha aparecido um pouco no segundo trimestre quando já havia ocorrido parte da colheita do café e do milho. Só que agora veio o resto”, explica o especialista em agronegócio do Itaú BBA, César Castro.

Geada em lavoura de café na região da Alta Mogiana, em São Paulo. Clima afetou desempenho do setor e derrubou PIB Agropecuário no 3º trimestre (Foto: André Cunha/ Arquivo Pessoal)

 

 

Após ter contribuído positivamente para o PIB no primeiro trimestre deste ano, o setor amargou queda de 2,8% no segundo trimestre enquanto indústria recuou 0,2% e serviços avançou 0,7%. Já no terceiro trimestre, essa retração foi de 8% ante o trimestre anterior em meio a estabilidade na indústria e crescimento de 1,1% no setor de serviços, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao terceiro trimestre de 2020, a retração da agropecuária foi de 9%.

“Embora o número seja um pouco impactante, porque não é tão comum assim o agro puxar o PIB para baixo, normalmente, só acontece quando São Pedro quer. E literalmente foi o que aconteceu esse ano”, completa Castro, ao destacar, além dos efeitos climáticos, uma redução expressiva na área plantada de algodão, de 16%.

“Esse tombo do PIB é real. Nós reduzimos a área plantada em 14% em 2020 porque tínhamos a safra no pátio já vendida, mas ninguém vinha buscar, já que as indústrias estavam fechadas devido à pandemia. Neste ano, estamos exportando de 20% a 25% menos todos os meses”, diz Júlio Cézar Busato, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). O setor foi um dos que mais influenciou na queda do PIB da agropecuária medida pelo IBGE, com retração de 17,5% no período.

Segundo o dirigente, além da redução de área, faltou chuva em Mato Grosso e Goiás, o que afetou a produtividade da cultura. O setor já beneficiou 85% da safra, comercializou 90% e está iniciando o plantio da nova safra, que deve atingir 1,53 milhão de hectares ante 1,36 milhão de hectares plantados em 2020. “Vamos aumentar a área de plantio. Este ano, o clima está bom e vamos torcer para que fique assim. A previsão é colher na próxima safra 2,9 milhões de toneladas.”

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Em nota, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), um dos Estados mais afetados pela seca no último ano e principal produtor de cana-de-açúcar, laranja, além de terceiro maior em café, destacou que a queda do PIB Agropecuário “indica necessidade de apoio ao setor”. Segundo a entidade, as principais preocupações recaem sobre o crédito rural e política de apoio ao seguro rural.

"Os recursos disponibilizados com taxas de juros controladas não atenderam à demanda total e muitos produtores tiveram de recorrer ao crédito bancário com taxas de juros livres, o que é problemático, principalmente neste momento em que os juros encontram-se em patamares mais elevados", afirma o presidente da Faesp, Fábio de Salles Meirelles, em nota.

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Para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), “a nova queda no terceiro trimestre de 2021, de 0,1%, mostra que o país ainda sofre com os efeitos da pandemia. A flexibilização das medidas preventivas contra a Covid-19 vem ajudando a retomada econômica, mas ainda não é o suficiente”. A entidade esperava uma retração de 6% no terceiro trimestre.

“Teve ano em que o setor cresceu 16% no acumulado do ano. Fica claro que o setor está exposto a quedas e altas, precisamos é de ferramentas para a gestão de riscos, como o seguro e crédito rural”, afirma o coordenador do núcleo econômico da CNA, Renato Conchon, ao destacar o resultado do setor no ano passado, quando registrou crescimento de 3,8%. “Para crescer sobre 2%, é uma coisa, para crescer sobre 3,8%, o esforço precisa ser bem maior”, disse ele.

O diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Júnior, também já esperava uma queda no PIB agropecuário no terceiro trimestre. Ele ressalta, porém, que as expectativas no início do ano eram positivas, sobretudo para o milho, cuja área plantada avançou 6% na última temporada, mas a produção caiu 16% devido ao clima e o atraso no plantio. “São culturas que, de fato, sofreram não só com a questão hidrológica, como também com a questão das geadas em alguns casos. E no café em particular, além disso, teve o problema da bienalidade negativa”, observa o economista.

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Com as principais safras já colhidas, as atenções para o último trimestre deste ano se voltam para o setor proteína animal, com ênfase na bovinocultura. Segundo José Ronaldo, a atividade tem impacto significativo sobre o PIB agropecuário e pode ser o “fiel de balança” daqui pra frente. “Se houver recuperação dos abates nos últimos meses isso pode ajudar a melhorar o número do próximo semestre”, avalia o economista ao lembrar da queda de 11% nos abates de bovinos apontada pelo IBGE no terceiro trimestre.

A presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Tereza Vendramini, chama atenção, também, para o impacto da estiagem na pecuária. “O gado está seco, vou ter que vender o meu, aqui no interior de São Paulo”, disse ela. Conchon, da CNA, por sua vez, ressalta que o embargo às exportações de carne bovina para a China, que não foram absorvidas pelo mercado interno por causa dos altos preços no varejo, "bagunçou o setor pecuário".

A suspensão das exportações para a China começou no dia 4 de setembro, último mês do terceiro trimestre. O especialista em agronegócio do Itaú BBA, César Castro, afirma que a atividade sofreu o impacto do ciclo pecuário e da retenção de fêmeas por parte dos criadores.

Já em relação ao quarto trimestre do ano, a previsão do banco é de nova queda nos abates, mas com crescimento de 3,5% do PIB agropecuário puxado pelo bom desenvolvimento das lavouras de trigo e dos abates de aves e suínos. Já no acumulado do ano, a previsão do Itaú BBA é de uma queda de 0,8% no PIB do setor. “Esse ano virou o jogo, com uma cobrança maior. A gestão precisa ser melhor do que nunca. Nossa preocupação maior é com os custos de produção”, conclui a presidente da SRB.
Source: Rural

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