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À frente de um plantel com 12,5 milhões de galinhas em granjas espalhadas pelo país, a maior delas em Primavera do Leste (MT), o Grupo Mantiqueira tem uma meta para 2025: triplicar ou quadruplicar a oferta de ovos caipiras, orgânicos e com galinhas criadas livres de gaiolas. O diretor-executivo da empresa, Leandro Pinto, disse que o bem-estar animal é a principal tendência do setor, que  tem crescido deve bater um recorde de produção neste ano, com 56 bilhões de ovos no total.

A expectativa do executivo é de crescimento do comércio de produtos chamados cruelty-free (livres de crualdade, em tradução livre). “Temos a oportunidade de democratizar o consumo de ovos de galinha free-range. O consumidor pode pagar por isso”, observa. Em entrevista à Globo Rural, de sua nova planta em Lorena (SP), ele conta como a empresa fundada com 30 mil galinhas num galpão alugado em Passa Quatro (MG), nos anos 1980, acompanhou a evolução desse mercado e tornou-se uma gigante, com produção anual de 2,7 bilhões de ovos e faturamento previsto em R$ 1 bilhão. “O ovo tornou-se o segundo melhor alimento do mundo”, diz Pinto.

Leandro Pinto, da Granja Mantiqueira. Meta é chegar a 2,5 millhões de galinhas criadas no modelo cruelty-free até 2025  (Foto: Divulgação/Granja Mantiqueira)

 

Globo Rural: A produção e consumo de ovo têm crescido exponencialmente no Brasil, e neste ano devemos bater mais um recorde. Como você observa a evolução do mercado nos últimos dez anos?
Leandro Pinto: O mercado evoluiu demais. Nós saímos de 140 ovos per capita para 252, e neste ano devemos bater 258. O ovo vem se mostrando um alimento sem restrições, que atende da classe A à E. A produção tem uma perspectiva crescente porque, na verdade, o ovo foi absolvido em todos os tribunais que o condenaram. O ovo era aquele produto que fazia mal, que não podia comer, que os cardiologistas diziam para comer no máximo duas unidades por semana. Ao longo dos anos, isso mudou. Eu brinco dizendo que o ovo foi absolvido no Supremo Tribunal Federal. E, com isso, reconheceu-se que o ovo é a proteína mais completa que existe, só perde para o leite materno. É o segundo melhor alimento do mundo. Dado isto, o consumo aumentou porque as pessoas perceberam sua importância: um produto que atende todas classes, em qualquer circunstância, o ovo é um superfood, completo e que traz saúde e bem-estar.

GR: Como você observa isso? A percepção pública determina a qualidade do produto?
LP: Eu acho que a percepção é igual à realidade. O ovo, antigamente, era vendido embaixo das bancas nos supermercados, ao lado da batata, da cebola, do tomate, e foi se tornando um superalimento — nós fizemos toda uma gestão da categoria para poder de fato apresentá-lo como tal. Então, a percepção do cliente mudou. Hoje, há vários tipos de ovos funcionais, como o ômega 3, o caipira e o orgânico. Cada um tem uma produção diferente, e o consumidor passou a valorizar esses novos tipos do alimento. O ovo caipira, por exemplo, é o que mais cresce. Ele vem ganhando espaço porque o público que conhece os tipos de criação não quer mais o ovo de galinha de gaiola, que não tem bem-estar animal. O consumidor pode pagar por isso.

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GR: Na variedade de ovos, hoje, quais são os que mais crescem e quais perderam mercado em função dessa percepção do público? E a que ritmo?
LP: Os que mais crescem são aqueles que atendem a novos requisitos e os ovos de galinhas livres de gaiola, são os cruelty free (caipira, free-range e orgânico). Em nossa venda, a base ainda é muito pequena, mas a gente dobra a quantidade de um ano para o outro.

GR: Como estão as contas do Grupo Mantiqueira, em relação à produção de ovos, plantel de galinhas e faturamento?
LP: A gente tem 12,5 milhões de aves. A produção, hoje, é de 21 mil caixas de ovos por dia, o que dá 2,7 bilhões de ovos por ano. Nesse ano, devemos faturar mais de R$ 1 bilhão, crescimento de 25% em relação a 2020. Crescemos a passos largos. Aqui em Lorena (SP), são cem mil, todas criadas livremente, pois a granja é nova — na semana que vem, as “meninas” serão transferidas para outro galpão, onde iniciam a postura [etapa do manejo realizada após cerca de vinte meses de criação]. O projeto final, aqui, é de 1,2 milhão. Começamos a construí-la há um ano, mas as primeiras aves chegaram no dia 3 de agosto. A previsão é atingir a capacidade máxima até o final do ano que vem.

A produção tem uma perspectiva crescente porque, na verdade, o ovo foi absolvido em todos os tribunais que o condenaram. O ovo era aquele produto que fazia mal, que não podia comer, que os cardiologistas diziam para comer no máximo duas unidades por semana. Ao longo do anos, isso mudou"

Leandro Pinto, diretor-executivo da Granja Mantiqueira

GR: E nas outras plantas, como anda a produção?
LP: Nós temos várias plantas espalhadas pelo Brasil, a Mantiqueira, hoje, se chama Grupo Mantiqueira Brasil. Temos uma granja integrada no Paraná, outra no Mato Grosso, em Goiás, a cem quilômetros de Brasília, aqui em Lorena e no município de Passa Quatro (MG), que é onde nasceu o grupo, a nossa matriz. A maior planta é a do Mato Grosso, é o maior galinheiro do mundo. Nós não somos os maiores produtores do mundo, mas temos o maior plantel de galinhas. São 6,3 milhões de aves.

GR: Além do mercado brasileiro, quais outros mercados a Mantiqueira está atendendo hoje e em quais volumes?
LP: A gente atende à África, Oriente Médio e Hong Kong. A partir do ano que vem, vamos vender ovos cruelty-free para o Japão. São volumes pequenos. Em Dubai, estamos desde 2006. São poucos negócios, mas vão aumentando. Hoje, está na faixa de 5% da produção.

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GR: Como o grupo vem lidando com a alta nos preços dos insumos?
LP: O problema é que teve inflação. No ano passado, estava mais barato produzir. O impacto foi uma queda de 15% na produção, pois os preços do milho e da soja subiram demais e os custos de produção ficaram inviáveis — muita gente do segmento, inclusive, parou no meio do caminho. A gente sempre teve uma boa estratégia de compra de grãos, com muita disciplina nas negociações, para tirar o melhor proveito. Compramos a maior parte diretamente dos produtores próximos das granjas, mas também de algumas tradings.

GR: Quais são os desafios da empresa e do segmento, de modo geral, e que investimentos estão previstos para os próximos anos?
LP: No ano passado, assumimos um compromisso de não construir mais granjas com gaiolas, só vamos investir na produção cruelty-free. Os investimentos estão em Lorena, Brasília (DF) e Paraná, com a ampliação das granjas já existentes e novas granjas para atender aos consumidores dessas regiões. Queremos chegar à criação de 2,5 milhões de galinhas cruelty-free até 2025, triplicando ou quadruplicando o volume de produção — hoje, temos cerca de 600 mil aves fora das gaiolas. Esse é um ritmo em que a gente acredita: temos a oportunidade de democratizar o consumo de ovos de galinha produzidos com bem-estar animal.

Ovos do Grupo Mantiqueira (Foto: Mantiqueira/Divulgação)

 
Source: Rural

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