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Quando era criança e visitava as fazendas dos avós maternos, no interior de São Paulo ou em Mato Grosso, Carmen Perez demonstrava uma conexão forte com os animais e com a natureza. Apaixonada por cavalos desde sempre, ela gostava de percorrer as propriedades a galope porque acredita que essa é a melhor maneira de conhecer uma fazenda.

Aos 22 anos, viu o patriarca da família adoecer e os familiares pensando em vender as áreas de produção. Foi quando um dos tios de Carmen decidiu assumir a empreitada e tocar os negócios. Nesse momento, a jovem nascida e criada na capital de São Paulo, e sem nenhuma formação técnica no meio rural, também tomou uma decisão que mudou sua vida.

Carmen Perez e sua relação com os animais de criação. Incomodada com a forma como os animais eram tratados na fazenda, ela fez mudanças e se tornou referência em matéria de bem-estar animal (Foto: Divulgação)

 

Conversou com a mãe e pediu permissão para estar ao lado do tio no desafio de conhecer e dominar aquele complexo mundo novo. "Senti que era a oportunidade da minha vida. Não entendia nada de gestão, dos processos. Só sabia montar muito bem. Às 5 horas da manhã, estava com calça jeans, trança e chapéu. Saia com os vaqueiros e, aos poucos, fui me apropriando do que acontecia. Escrevia tudo em uma lousa", conta ela, hoje com 43 anos.

Uma das coisas que mais incomodavam a jovem na nova jornada era a maneira com que os peões lidavam com os animais de criação. " Toda vez que visitava a maternidade, era um horror, uma gritaria dos vaqueiros. Um laçava o bezerro. Outros dois montavam na vaca, que têm o instinto de proteger a cria. Achava aquilo um absurdo", diz.

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O incômodo fez Carmen buscar informação e, nesse processo, ela percebeu que havia uma maneira muito mais humanizada de lidar com o gado – e que trazia melhores resultados a todos os envolvidos. O processo de mudança total na criação incluiu palestras com especialistas e uma vigília diária aos trabalhos dos funcionários da fazenda. 

A guinada conduzida pela pecuarista ganhou o mundo. Hoje, ela é reconhecida por adotar métodos de bem-estar animal na criação. Se, antes, havia gritaria na maternidade, hoje, o amor predomina. Os bezerros ganham demoradas massagens dos vaqueiros após receberem os brincos de identificação na orelha. "Agora, os vaqueiros se orgulham de trabalhar numa fazenda que tem um trabalho reconhecido", resume a pecuarista.

Carmen Perez, durante gravação do documentário Quando ouvi a voz da terra (Foto: Carmen Perez/Arquivo pessoal)

A inquietude fez Carmen ir além e se lançar no mundo audiovisual. Ela e outros dois profissionais da comunicação lançaram o documentário Quando ouvi a voz da terra, uma produção assinada por ela com a amiga jornalista Flavia Tonin e pelo diretor Nando Dias Gomes.

Gravado entre maio e julho deste ano, o filme narra a história de Carmen no agronegócio e de outros quatro pecuaristas brasileiros que também são referência em promover conforto aos bovinos. Uma das paradas da equipe é na fazenda que toca música clássica para os bois durante todo o dia, além de oferecer nutrição balanceada, área sombreada e "brinquedos" para que os animais possam coçar e receber massagens.

As belíssimas imagens de campo levam o espectador a diferentes regiões do Brasil para mostrar que é possível produzir com respeito ao ambiente e aos animais, inclusive na Amazônia. Em conversas conduzidas por Carmen, os entrevistados contam sua visão sobre como é o agro sustentável, com depoimentos cheios de emoção.

O documentário é resultado de três anos de conversas e amadurecimento de ideias, conta Carmen. "Não queríamos fazer algo para dentro da cadeia produtiva, e sim para fora. O objetivo principal é mostrar que o campo é um lugar de conexão, de respeito", diz. Quando ouvi a voz da terra está disponível gratuitamente no Youtube.

Source: Rural

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