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Os fungos, bactérias e vírus estão por toda parte: no ar, no solo e nas plantas. Alguns destes micro-organismos são capazes de causar doenças em insetos, denominados de entomopatógenos, e são cada vez mais utilizados no controle de pragas. Da mesma forma, existem aqueles que controlam doenças e nematoides que atacam as plantas.

Existem também micro-organismos que vivem dentro das plantas ou externamente nas raízes ou folhas, estabelecendo relações harmônicas com estas. Esses micro-organismos são bastante versáteis, capazes de promover o crescimento vegetal, ajudar na absorção e na disponibilidade de nutrientes do solo, atuar na defesa contra pragas e doenças em plantas, além de protegê-las contra estresses ambientais, como o déficit hídrico e alta salinidade. O mais interessante é que um único micro-organismo pode desempenhar várias destas funções ao mesmo tempo, mas essas funções podem também ser desempenhadas por um complexo de micro-organismos atuando em sinergia com a planta.

 

Esses micro-organismos tornaram-se grandes aliados da agricultura moderna por serem os principais ingredientes ativos de bioinseticidas e bioinoculantes. Esses termos são empregados quando os microrganismos são transformados em produtos comerciais, o que demanda muita pesquisa, tecnologia e inovação. Áreas de estudo como microbiologia, ecologia, química, engenharia e outras são necessárias para transformar um simples micro-organismo em uma formulação eficaz, com estabilidade durante o armazenamento e elevada atividade biológica em diferentes condições ambientais.

A agricultura vem passando por uma revolução tecnológica, chamada de agricultura digital ou 4.0, e a expectativa é que teremos cada vez mais soluções conectadas e automatizadas. O setor de proteção de plantas segue estas tendências apresentando

grande transformação. As vendas de produtos biológicos têm superado todas as previsões de crescimento dos especialistas. Embora ainda represente pouco quando comparado ao mercado de defensivos químicos, o mercado de controle biológico tem crescido acima de 25% ao ano e o número de produtos à base de microrganismos registrados já passa de 250 no Brasil, com crescimento expressivo a partir de 2017. O país pode se orgulhar de ter os maiores programas de controle biológico do mundo em área de cultivo aberto.

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Os principais fatores que têm impulsionado o uso de produtos biológicos são de duas naturezas: as restrições comerciais e regulatórias para produtos químicos convencionais e a demanda dos mercados consumidores por produtos mais sustentáveis. As restrições aos produtos químicos têm aumentado e muitos foram banidos devido ao potencial de contaminação ambiental e poucos novos têm entrado no mercado.

Além disso, muitos casos de resistência de insetos e ácaros têm sido reportados, tornando os produtos menos eficientes. Dessa forma, muitos agricultores não podem mais contar somente com as opções químicas e estão recorrendo a alternativas biológicas. O mercado consumidor também tem tido papel significativo nas mudanças deste segmento e adoção de biológicos, uma vez que redes varejistas, hipermercados, importadores e consumidores têm aumentado as exigências por alimentos de qualidade e por responsabilidade socioambiental. Os produtos biológicos se inserem neste cenário atendendo integralmente à demanda pelo aumento da sustentabilidade na produção agrícola.

Com os novos lançamentos e inovações nos bioinsumos, espera-se uma inversão no mercado de proteção fitossanitária e, num futuro não muito distante, os biológicos devem suplantar os defensivos químicos"

Italo Dalibela Junior

É nesse contexto de aumento da demanda por produtos à base micro-organismos que os pesquisadores têm concentrado seus esforços em desenvolver cada vez produtos mais eficazes, seguros e viáveis economicamente. Os estudos começam pela busca de micro-organismos que sejam eficazes para atuar no controle de pragas e doenças, para promover o crescimento da planta ou torná-la mais tolerante a estresses ambientais.

Esses microrganismos podem ser prospectados a partir de coleções de referência ou buscados diretamente na natureza. Uma vez selecionado, será necessário definir um meio de cultivo apropriado e um processo para produção em larga escala e desenvolver formulações e estudos de estabilidade durante o armazenamento.

As investigações têm focado atualmente na busca de novas opções de micro-organismos especialmente para pragas e doenças que ainda não existem opções eficientes de biológicos no mercado, assim como novas alternativas de inoculantes.

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Um exemplo de parceria público-privada é o São Paulo Advanced Research Center for Biological Control (SPARCBio), firmada entre Esalq-USP, Fapesp e Koppert Brasil. O centro tem como objetivo principal o desenvolvimento de um novo modelo de manejo integrado de pragas e de doenças que afetam a agricultura tropical.

Para os próximos anos, podemos esperar um aumento no número de produtos com maior nível de desenvolvimento tecnológico. Com os novos lançamentos e inovações nos bioinsumos, espera-se uma inversão no mercado de proteção fitossanitária e, num futuro não muito distante, os biológicos devem suplantar os defensivos químicos.

É preciso aumentar a produtividade, mas com sustentabilidade para atender a uma agricultura em plena evolução. É preciso ainda considerar os efeitos das mudanças climáticas na produção. Não poderemos vencer esses desafios sem conciliar desenvolvimento tecnológico e sustentabilidade na produção agrícola. A exploração da diversidade microbiana brasileira em conjunto com a geração de conhecimento técnico-científico serão grandes atores nessas mudanças.

*Italo Delalibera Jr. é professor da Esalq/USP e pesquisador do SPARCBio, sigla em inglês para Centro de Pesquisa Avançada em Controle Biológico de São Paulo.
Source: Rural

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