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O Ministério da Agricultura determinou a suspensão da produção de carne bovina a ser destinada à China, que embargou o produto brasileiro depois da identificação de dois casos atípicos de mal da vaca louca no país. A pasta determinou também que o volume já produzido fique estocado. A medida vale por um período de 60 dias. Foi tomada diante da demora na solução para o fim da suspensão de compras, situação que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, propôs discutir pessoalmente com as autoridades chinesas.

Carne bovina com destino à China deve ser estocada (Foto: Getty Images)

 

As exportações de carne bovina para a China estão suspensas desde o dia 4 de setembro, medida prevista em um protocolo sanitário assinado entre os dois países. Agora, dependem de autorização do país para serem retomadas. O país asiático responde por cerca de 40% dos embarques de carne bovina brasileira. Mesmo sem o principal parceiro comercial, as vendas externas do produto seguiram batendo recorde.

Enquanto perdura o impasse, os preços do boi gordo têm queda aqui no Brasil. De acordo com o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o boi gordo acumula uma desvalorização de 6,53% neste mês atá terça-feira (19/10), quando a referência fechou a R$ 272,55 a arroba. Desvalorização que chegou a ser até mais, superando os 8% dias atrás.

Especialistas acreditam que uma liberação não deve demorar mais tanto tempo para acontecer.  "Por enquanto, ainda tem como não importar do Brasil, mas em breve terá que voltar a comprar carne brasileira", afirma o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Tang. "Até certo ponto, existe uma flexibilidade, o que não significa que dá para ficar pra sempre sem", endossa ele, que também é conselheiro em sete províncias chinesas.

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A sócia-diretora da consultoria Vallya, especializada em relações sinobrasileiras, Larissa Wachholz, observa que a demora pode estar ligada à burocracia. "A gente sabe que os chineses são muito rigorosos com a documentação", ela diz. Tang, da Câmara de Comércio, acrescenta que ainda mais quando o assunto é sanitário: "o controle biológico é bastante restrito, vide o exemplo da pandemia — a China não vai liberar tão cedo a entrada de visitantes", ele diz.

Wachholz pondera, contudo, que há interesse da própria China em retomar as importações, no curto prazo. "Consumir carne bovina, na China, é uma questão de afluência, é um produto caro, cobiçado e com muito valor nutricional", ela diz. "Por causa disso, me parece que é interesse do governo chinês resolver essa situação logo. E a parcela de carne brasileira é alta, representa 10% do consumo chinês", pontua a especialista.

Outros fatores

Para Wachholz, o período em que a carne brasileira foi banida da China ajuda a explicar a demora na retomada das importações chinesas. Isso porque, entre setembro e outubro, comemoram-se dois feriados no país asiático, entre eles a Golden Week, que dura até dez dias. "Parou tudo", afirma ela.

Tang lembra que a China não tem terras para ser autossuficiente em gado e, embora consuma mais carne de porco do que bovinos, a carne vermelha continua fazendo parte do seu cardápio. "Quem sabe esse excedente que foi embargado ajude a baixar o preço, na retomada", pontua o representante, lembrando que as cotações do produto também pesaram nas relações comerciais neste ano.

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Como o Brasil vinha embarcando volumes recordes do produto, nos últimos meses, houve formação de estoque na China para esse período de restrições ao seu maior fornecedor de carne, mas o país tem outras obstruções no abastecimento pecuário, de acordo com os especialistas.

"O embargo não afetou somente as exportações brasileiras. Países asiáticos, como Indonésia e Malásia, também embargaram", afirma Tang. Ao mesmo tempo, a China está em guerra comercial com a Austrália, outro produtor de carne, descrendenciando frigoríficos que hoje são seus fornecedores. Sem falar na Argentina, concorrente do Brasil no mercado externo pecuário, cujo governo está restringindo as exportações.
Source: Rural

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