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Um projeto de mapeamento genético do solo brasileiro prevê a avaliação de cinco milhões de hectares no país, com investimento de R$ 29 milhões em três anos, e já está sendo realizado pela Biome4All, startup pioneira no assunto. Sócio-fundador da empresa, o executivo Leonardo Gomes, de 49 anos, conta, em entrevista à Globo Rural como o Agro Bioma Brasil foi planejado por cinco sócios de diferentes áreas, como genética, microbiologia e outras, para analisar detalhes da composição bioquímica das terras.

A iniciativa conta com o apoio técnico de 110 consultorias, que vão analisar o solo de 55 culturas nos respectivos biomas e regiões. Entre os resultados esperados, estão: dados sobre custos de produção entre safras, estratégias de manejo, produtividade, mudanças na biodiversidade e do potencial genético para fixar carbono e nitrogênio. "A gente vai conseguir avançar com padrões de cultura e regiões, traçando o perfil de solos com análises específicas. O conjunto dessas análises vai trazer muitas informações para o setor, com resultados positivos para traçar os custos de produção e produtividade", afirma Gomes.

Leonardo Gomes, sócio fundador da Biome4All (Foto: Divulgação/Biome4All)

 

Globo Rural: O que é e como é feito o mapeamento genético do solo?
Gomes: É algo bastante novo porque envolve duas tecnologias. Uma não é tão inovadora, o sequenciamento genético, mas o momento é favorável, na economia agrícola, para fazer esse investimento. A segunda são as técnicas de ‘bioinformação’. Por que é importante? Porque gera dados metagenômicos, transformando-os em informação aplicada, para formar um banco de dados funcional sobre a saúde do solo, aspectos nutricionais e sua biodiversidade (gênero de fungos, bactérias e nematoides presentes no solo). A junção dessas ciências que nos permitiu a chegar nesses resultados. Ao longo de dois anos, desenvolvemos e começamos, em 2020, a comercializar o mapeamento genético do solo — temos clientes em três categorias: produtores rurais (uma minoria), consultorias agronômicas, que passam a ter uma nova ferramenta, e fabricantes de insumos, principalmente biológicos, para validar a eficiência dos produtos que eles desenvolvem. Nós temos algo em torno de cem clientes a maior parte B2B, espalhados pelo País, principalmente na soja (50% da área que já foi mapeada).

GR: Quais são os critérios adotados na análise e o que seus resultados permitem aferir?
Gomes: A análise é dividida em três pilares, um deles voltado para a saúde do solo, observando organismos patogênicos e o estresse do solo, a partir de um conjunto de indicadores — são mais de dez fatores, como a resistência da planta, o potencial de proteção contra metais presentes no solo e a salinidade. É um conjunto bastante grande de dados. Assim, a gente apresenta o potencial genético de fungos e bactérias para combater, por exemplo, o estresse hídrico, considerando que alguns micro-organismos são capazes de controlar isso. Mostramos o potencial das moléculas no controle natural da produção. Através dessa técnica, detectando o potencial genético de nematoides, fungos e bactérias, você consegue promover a defesa das plantações e a economia no uso de insumos. Muitas vezes, o solo já está repleto de micro-organismos e o produtor não sabe, então acaba usando antifúngicos. Quando fazemos a análise, podemos estipular qual deve ser o nível de introdução das moléculas para controlar pragas e doenças. O segundo pilar são os aspectos nutricionais, como esses organismos atuam nutrindo a planta. O terceiro é a biodiversidade, ou seja, é a presença de organismos fúngicos e bacterianos, que quanto mais diversos mais condições favoráveis propicia ao desenvolvimento da planta.

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GR: No território agrícola brasileiro, já existe algum tipo de mapeamento genético? 
Gomes: Não. Nada em grande escala. Fomos mundo afora captar dados disponíveis sobre a genética do solo para a agricultura, que são muito escassos no Brasil — nos EUA, Europa e Ásia já se dispões de dados genéticos mais apurados. O que se tem de dados no Brasil está muito vinculado à pesquisa acadêmica. Nossas ações são pioneiras e envolvem a soja, em primeiro lugar, café, milho, cana, trigo, frutas, hortifruticultura, melão e muitas frutas destinadas à exportação à Europa, que tem muitas exigências quanto ao tratamento biológico (o que é também um fator importante sob o aspecto da sustentabilidade). Outra cultura que temos trabalhado é o algodão. 

Projeto Agro Bioma Brasil, da Biome4All, via mapear genéticamente 5 milhões de hectares de solo (Foto: Divulgação/Biome4All)

GR: Quais são as principais características do solo no Brasil? É possível ter uma ideia, antes do mapeamento, do que será observado?
Gomes: Há um conjunto bastante grande de dados e respostas. A gente vai conseguir avançar com padrões de cultura e regiões, traçando o perfil de solos com análises específicas. O conjunto dessas análises vai trazer muitas informações para o setor, com resultados positivos para traçar os custos de produção e produtividade. Quanto mais biodiversidade, ou seja, com mais populações de fungos e bactérias, mais saudável é o solo.

GR: Quais áreas foram escolhidas para o projeto e por quê? O que sabemos de cada solo diferente?
Gomes: As áreas envolvem a predominância da cultura local. Um dos parceiros é a Kasuya Inteligência do Agronegócio, uma consultoria na Bahia especializada no segmento de algodão. Isso envolve as áreas onde a cultura é predominante e dos parceiros. O projeto começou há algumas semanas e a Kasuya está fazendo a primeira análise. Vamos comparar solos com alta e baixa produtividade, áreas tratadas com insumos químicos e biológicos, entre outros fatores. Já estamos analisando mais de 50 tipos de contrastes — vamos poder explicar, com isso, o efeito do manejo de solo em cada ponto analisado, através de microbiotas (os pequenos ambientes de microorganismos na terra).

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GR: Em que tipo de ação ou empreendimento, posteriormente, as análises de solo poderão ser usadas?
Gomes: Através da análise do solo, a gente consegue identificar os microorganismos presentes. Com potencial de fixar carbono, por exemplo, e assim apoiar as decisões do produtor rural, tornando sua produção mais eficiente, com menos custo. Ele também vai compreender através desses relatórios que se pode substituir insumos químicos por biológicos, reduzindo a aplicação de fertilizantes, para tornar o solo mais sustentável e produtivo (o nível de produtividade vai depender da qualidade desse solo). No caso das consultorias agrícolas, nossos clientes, trata-se de mais uma ferramenta para a indicação de como o manejo do solo deve ser feito — eles vão subcontratar a gente. Como a técnica é nova, é mais uma ferramenta para entender e analisar o solo. Já os fabricantes de insumos vão poder saber se aquilo que elas estão introduzindo no mercado é eficaz — e como pode ser melhorado. Analisamos o solo, nesse caso, em dois momentos: antes e depois da introdução do insumo, avaliando seus impactos no desenvolvimento da planta.
Source: Rural

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