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Há mais de um século, o químico alemão Fritz Haber recebeu o Prêmio Nobel em Química por um trabalho que permitiu o surgimento da agricultura em escala industrial. Com uso de altíssimas temperaturas e pressão, ele desenvolveu um método para obter o nitrogênio a partir do ar atmosférico, onde o nutriente está amplamente presente, mas em formato gasoso. O trabalho de Haber contribuiu para o desenvolvimento do modelo de produção que, anos mais tarde, ficou conhecido como Revolução Verde.

Meia tonelada de sementes serão aplicadas por cinco produtores na primeira fase do projeto de criação de um banco para adubação verde no país tocado pela Folio (Foto: Divulgação)

 

Hoje, contudo, esse modelo está em crise. Altamente poluente, a obtenção de nitrogenados a partir do processo desenvolvido por Haber tem passado por sérias dificuldades este ano devido ao forte aumento nos preços da energia e, consequentemente, do gás natural usado na síntese da amônia e outros nitrogenados. “Acho que a gente e está no ponto de virada, mas essa virada acho que ela é em função do esgotamento do modelo agronômico da revolução verde”, avalia Luis Barbieri.

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Engenheiro industrial de formação, ele atua há vinte anos no mercado de grãos e há dois fundou a Raiar Orgânicos, empresa que atua no setor de ovos orgânicos. Foram as dificuldades para fazer deslanchar esse negócio que o motivaram a criar uma iniciativa com potencial de reduzir a dependência do produtor brasileiro de insumos químicos importados e alcançar uma produção mais sustentável, com menos emissões de gases do efeito estufa: a criação de um banco de sementes para adubação verde.

A técnica é antiga e ensinada em escolas de primeiro grau. Trata-se do uso de plantas fixadoras de nitrogênio, como o feijão, para repor nutrientes no solo. Outras espécies têm a capacidade ainda de inibir o crescimento de plantas daninhas e nematoides. São alternativas ao uso de herbicidas e fertilizantes químicos largamente aplicados na produção brasileira de grãos. Só em 2020 foram 32,8 milhões de toneladas de fertilizantes importadas pelo país, um recorde.

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Luis Barbieri está há 20 anos no setor de grãos e há dois investe no setor de proteína orgânica (Foto: Divulgação)

“Esse é um modelo que começou lá na década de 70 e que se esgotou. Hoje os produtores estão cada vez mais procurando formas e soluções e tecnologias que fazem parte do conjunto de modos de produção orgânica, que é substituição do insumo químico por minerais, insumos biológicos, visualização e valorização da biologia do solo. Coisas que, há vinte anos, se fosse apresentar no coração do Mato Grosso, achariam loucura”, conta o empresário.

Junto com seus sócios Marcus Menoita e Leandro Almeida, Barbieri foi selecionado para receber US$ 40 mil do programa de inovação social do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que serão usados para criar o primeiro banco de adubação verde do país. A inciativa entrará a campo já nesta temporada, com cinco produtores. Eles receberão 100 quilos de sementes cada um, que serão semeadas em dez hectares no total. Ao final da temporada, para cada semente cedida, eles devolverão três, permitindo aumentar a escala para 40 produtores já na safra de inverno no ano que vem.

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“A adubação química solubilizou o mineral. Pegou o potássio e o fósforo da rocha e fez um sonrisal de adubo. Agora a gente quer solubilizar o conhecimento e então pegar esse conhecimento sobre adubação verde que está aí e difundir para, com isso, gerar mais conhecimento”, explica Barbieri. A ideia é que os US$ 40 mil sejam apenas um pontapé inicial e que, com a inclusão de mais produtores, seja possível gerar dados sobre quais as espécies mais indicadas para cada cultura e região do país.

“A agricultura orgânica de grãos que está aí, tem experiencias fantásticas de produtores em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, tem casos interessantíssimos de produtividade alta, custo baixo, rentabilidade, e está tudo espalhado, cada um no seu quadrado”, lembra o empresário.

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A iniciativa será tocada pela Folio, uma empresa controlada pela Raiar, mas que tem como missão justamente difundir o conhecimento sobre a produção orgânica de grãos no Brasil e, assim, permitir ganho de escala para o seu negócio principal: o comércio de ovos orgânicos. “Hoje a produção orgânica de grãos no Brasil é 0,02%. O ovo é 0,2%. Se a gente quiser ir pra 2%, precisa crescer 100 vezes e não tem 100 vezes mais esterco de galinha”, comenta Barbieri ao reconhecer um dos atuais gargalos do setor em que decidiu investir.

“A conta não fecha e essa é a principal crítica aos orgânicos. Hoje isso não vai resolver o mundo, mas a há um caminho a ser percorrido e acho que isso é o que a gente se propõe aqui, como construir as pontes necessárias para o orgânico ser relevante e ocupar um espaço maior no mercado brasileiro. E um dele é a disponibilidade de nitrogênio”, destaca Barbieri.

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Source: Rural

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