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O contêiner pintado de azul claro e cercado por um pequeno jardim virou símbolo de inclusão digital na maioria das 22 fazendas da empresa SLC Agrícola. O grupo é o maior produtor de soja, milho e algodão do país e suas plantações se espalham por seis estados. Cerca de quatro mil colaboradores trabalham na empresa e a maioria mora em casas da própria fazenda. Foi pensando neles que, em 2017, a SLC criou um Espaço de Inclusão Digital, um projeto piloto na fazenda Palmares, em Barreiras (BA).

Turma de educação de jovens e adultos na escola da SLC Agrícola (Foto: SLC/foto tirada antes da pandemia de Covid-19)

 

 

“Transformamos um contêiner em sala de aula, com ar condicionado, piso, sistema elétrico e mesas para receber dez computadores”, relata Déa Machado, gerente de Gestão de Pessoas e Comunicação Corporativa da SLC. Qualquer colaborador da fazenda pode entrar e acessar as várias plataformas disponíveis. Voluntários de um grupo de ação sócioambiental da fazenda assumiu o papel de professor, ensinando desde ligar o computador até acessar programas e plataformas diversas.

A experiência de Palmares deu tão certo que foi estendida para as outras fazendas, dentro dos contêineres azuis ou em salas de alvenaria. O Espaço de Inclusão Digital atrai hoje desde os filhos dos trabalhadores, crianças e adolescentes conectados com a internet – alguns vêm fazer suas lições on-line ali –, até técnicos e operadores que passam o dia conduzindo enormes colhedeiras e tratores. Ali, eles acessam as plataformas disponíveis e os mais de 170 cursos online, além de fazerem o que quiserem.

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“Foi a partir desse sucesso que veio a ideia do EJA”, relata Déa Machado. O Educação para Jovens e Adultos é um programa do MEC voltado para pessoas que não terminaram o ensino fundamental ou médio . O contato com os “contêineres da inclusão” despertou em muitos a vontade de voltar a estudar e levou a empresa a pensar num caminho próprio. O EJA era a solução, diz a gerente da companhia. Trata-se de um programa do governo que depende apenas de parceria com a secretaria do Estado em questão. O parceiro, no caso a SLC, entra com estrutura para os cursos, oferecendo salas, transporte e alimentação para os estudantes.

Mesmo antes da pandemia, a maior parte das aulas eram feitas de forma remota, intercaladas com umas poucas presenciais. Depois da parada provocada pela Covid, as aulas estão retomando. No mês de julho, 272 pessoas, de todas as unidades da fazenda, estavam reiniciando as aulas on-line e presenciais. A idade dos alunos vai da 20 a 60anos.

“Antes, o jovem ou adulto que quisesse retomar a escola, tinha que procurar nas vilas e cidades próximas”, diz Déa. “As distâncias, as estradas ruins, tiravam a motivação, e as pessoas desistiam.” Das fazendas todas, restam quatro analfabetos. E estão aumentando muito os alunos que completam o fundamental e o médio. Os estudantes que querem seguir na graduação e pós, são auxiliados por uma bolsa.

A fazenda oferece outros caminhos. Uma escola de técnica agrícola criada na pandemia e toda online tem 77 pessoas inscritas. A Agricultura Digital é curso de capacitação presencial e online seguido por mais de mil colaboradores.

O jovem ou adulto que quisesse retomar a escola, tinha que procurar nas vilas e cidades próximas. As distâncias, estradas ruins, tiravam a motivação"

Déa Machado, gerente de Pessoas e Comunicação Corporativa da SLC Agrícola

Nas fazendas não há escolas públicas nem igrejas. As crianças pequenas, que estão nos primeiros anos do fundamental, são levadas para as escolinhas públicas da região. A SLC oferece o transporte e a refeição. As unidades de serviço são divididas em área social e operacional. Na social, tem campo de futebol, academia ao ar livre, clube com mesas sinuca, pingue-pongue, clube. As casas estão na área social.

Os colaboradores e suas famílias fizeram vídeos gravando depoimentos sobre a escola na fazenda. Em um deles, Raimundo, um colaborador muito conhecido, se entristece diante da filha por não saber ler e por não poder ajuda-la. Depois se alegra, já alfabetizado e feliz, lendo ao ao lado da filha. Em outro , a mãe fala com orgulho do filho que não queria estudar e que agora, diplomado, foi promovido na empresa. A mãe veio de longe para ver a formatura do filho. Não são histórias inventadas, são realidades que eles viveram, diz a gerente.
Source: Rural

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