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Certamente, todos já ouviram o argumento de que o agronegócio foi o setor que passou melhor por todas as turbulências causadas pela pandemia. No entanto, como reagiu o mercado de trabalho associado ao agro? Será que também conseguiu passar ileso?

De forma sintética, embora tenha havido contração nos postos de trabalho, notadamente no início da pandemia, rapidamente observou-se uma recuperação. Todavia, como o setor não é uma unidade homogênea, a trajetória das atividades agropecuárias e da agroindústria não foi semelhante.

 

A produção agropecuária brasileira cresceu, apesar da pandemia. O Valor Bruto da Produção (VBP) do setor (Mapa), expandiu durante 2020 de forma robusta e consistente, ficando 17,0% acima do ano anterior. Apesar do bom momento para a produção agropecuária, o mercado de trabalho dessa atividade não passou ileso.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, a população ocupada dentro da porteira contraiu 1,1% durante a pandemia – isto é, no acumulado entre o segundo trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021, frente ao período imediatamente anterior.

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Vale notar que, desde o terceiro trimestre de 2019, o número de postos de trabalho vinha em queda, a qual se intensificou no segundo trimestre de 2020. A partir de então, entrou em trajetória de recuperação, porém, insuficiente para compensar as perdas registradas no início da pandemia.

Ademais, a despeito de todas as turbulências, a remuneração média recebida na agropecuária conseguiu permanecer em campo positivo. No acumulado entre o segundo trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021, a remuneração média cresceu 3,1%.

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A agroindústria apresentou uma dinâmica distinta da agropecuária. De acordo com o Índice de Produção Agroindustrial, divulgado pelo Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGVAgro), o volume de produção manteve-se estável ao longo da pandemia, até o primeiro trimestre de 2021.

A produção do segmento de produtos alimentícios e bebidas expandiu em 2,8%, compensando a contração observada em produtos não-alimentícios (-3,2%). O mercado de trabalho da agroindústria sentiu também os efeitos adversos da Covid-19.

Variação da população ocupada na agropecuária e na agroindústria
(Trimestre vs mesmo trimestre do ano anterior – %)

(Foto: Fonte: PNADC/Elaboração: FGVAgro)

 

Isto é, de acordo com as estimativas realizadas pelo FGVAgro, por meio dos microdados da PNADC, a população ocupada, ao longo da pandemia, acumulou uma queda de 10,1% – reflexo das contrações observadas no segmento de produtos não-alimentícios (-10,6%) e no de alimentícios e bebidas (-9,2%).

A remuneração média agroindustrial, por sua vez, cresceu 6,4%, no acumulado entre o segundo trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021 (período de pandemia). Essa expansão foi puxada pelas expansões no segmento de produtos não-alimentícios (1,9%) e, sobretudo, de produtos alimentícios e bebidas (12,6%).

Embora o mercado de trabalho de todos esses setores tenha sido impactado, os postos de trabalhos dos setores que mais cresceram já apresentam clara trajetória de recuperação

Roberta Possamai, Felippe Serigati, Raquel Magossi e Lucas Koren

Há duas possibilidades de explicação para a forte expansão da remuneração média da agroindústria de alimentos e bebidas juntamente com a queda nas ocupações: (i) as novas contratações, nesse segmento, foram realizadas com maiores remunerações; ou (ii) houve uma maior destruição de postos de trabalho que pagam salários menores, notadamente, entre os menos qualificados, aumentando a remuneração média do setor.

Fica claro, portanto, que a pandemia de Covid-19 atingiu os segmentos do universo agro de formas distintas, com a produção agropecuária brasileira e a agroindústria de produtos alimentícios e bebidas apresentando maior resiliência, enquanto, o segmento de produtos não alimentícios sentindo os efeitos mais adversos.

Remuneração média real da agropecuária e da agroindústria

(Foto: Fonte: PNADC/Elaboração: FGVAgro)

 

Embora o mercado de trabalho de todos esses setores tenha sido impactado, os postos de trabalhos dos setores que mais cresceram já apresentam clara trajetória de recuperação.

*Roberta Possamai é mestre em Agronegócio pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV) e pesquisadora do FGV Agro.

*Felippe Serigati é doutor em Economia pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV), professor e pesquisador do FGV Agro.

*Raquel Magossi é engenheira agrônoma e mestre em Agronegócio pela EESP/FGV.

*Lucas Koren é mestrando em Agronegócio pela Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV).

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.

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Source: Rural

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