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Diferente do ocorrido em diversos segmentos da economia e do comércio, a cafeicultura, em especial a brasileira, mostrou-se resiliente frente à pandemia da Covid-19, com o Brasil registrando recorde em produção e exportação em 2020 e na safra 2020/21.

Contudo, a partir do segundo bimestre, com a vacinação evoluindo e importantes economias mundiais se reabrindo, passamos a enfrentar um problema estrutural, que extrapola as fronteiras de Brasil e do café, que são os gargalos logísticos no transporte marítimo mundial.

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Essa grave crise operacional gerou disparada no valor dos fretes, constantes cancelamentos de bookings – disponibilização e confirmação do espaço do contêiner no navio –, dificuldade para novos agendamentos e disputa por contêineres e espaço nos navios.

O motivo? A retomada em importantes economias mundiais, como EUA e Europa, que elevou, a patamares monumentais, o comércio e a demanda por bens que a China e outros países da Ásia produzem.

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Isso gerou desbalanço global na oferta e demanda de navios e contêineres. Há fila de embarcações e muitos equipamentos “gargalados”, como os contêineres, aguardando sua vez. Ou seja, há maior demanda e a infraestrutura não é reativa de imediato, assim os portos se encontram com a capacidade estrangulada.

No nosso caso, o café segue em disputa para conquistar espaço nos navios e ser embarcado no momento correto. Os atrasos ocorridos geram desgaste operacional sem precedentes aos exportadores e, principalmente, uma sobrecarga financeira derivada das demoras nas cobranças e, por enquanto, da materialização da receita cambial.

Lembrando que isso ocorre em uma realidade de mercado com os preços nos mais altos níveis dos últimos anos e a colheita da safra brasileira em sua fase final.

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O estrago nos embarques de café não é maior devido às eficiências logística e comercial dos exportadores brasileiros, que realizam um trabalho hercúleo para tentar honrar seus compromissos diante dos gargalos logísticos.

Esses esforços, somados à safra exemplar em volume, qualidade e sustentabilidade de 2020, ainda permitem que o Brasil registre crescimento nas remessas realizadas até julho ante o desempenho dos sete primeiros meses do ano passado.

É necessário planejamento, agilidade, persistência e eficiências logística e comercial até que os gargalos logísticos passem a ser superados

Nicolas Rueda

Pensando em como mitigar esses efeitos, o Cecafé realizou, em parceria com a Swiss Coffee Trade Association (SCTA) e a National Coffee Assocation (NCA), o webinar "Avaliando gargalos pós-pandêmicos na logística do comércio internacional", que reuniu especialistas globais em logística com o propósito de analisar as perspectivas futuras aos embarques de café.

As respostas existem, mas a implementação não vem em curto prazo, conforme as considerações apresentadas por CEOs e profissionais seniores de análise conjuntural do mercado marítimo, dos portos, de commodity supply e traders no evento, que contou com mais de 250 participantes de todo o mundo. Vamos a elas!

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Primeiro: contratação de outros navios, que ficariam disponíveis aos próprios armadores em função da capacidade ociosa; segundo: armadores e empresas de navegação já têm demandado fabricação de novos navios, mas sabemos que isso não ficará pronto amanhã, há um tempo para aguardar e, em algum momento, chegarão ao mercado; terceiro: ampliar a capacidade dos portos.

No Brasil, muito pode ser feito no longo prazo e sabemos que o governo, por meio do Ministério da Infraestrutura, vem fazendo um esforço fenomenal. Investimento em infraestrutura por parte do setor privado e dos governos estaduais também são vistos com bons olhos.

Para o curto prazo, resta-nos seguir em disputa pelo nosso planejamento e enaltecer o trabalho titânico que os times operacionais e logísticos dos exportadores realizam, especialmente do café.

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O Cecafé também iniciou uma mobilização com mais de 30 entidades do agronegócio brasileiro para um diálogo permanente com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, buscando a soberania nacional, de forma que existam aliança e comprometimento das empresas de navegação com o governo brasileiro envolvendo os setores de infraestrutura, economia e agricultura.

Em suma, é necessário planejamento, agilidade, persistência e eficiências logística e comercial até que os gargalos logísticos passem a ser superados com base nos três pontos supracitados, o que, acredito, deva acontecer somente a partir do segundo semestre de 2022.

*Nicolas Rueda é presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé)

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.

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Source: Rural

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