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A terceira safra deve ter cada vez mais peso na oferta de feijão carioca no Brasil, avalia o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), Marcelo Lüders, para quem as estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sinalizam esse aumento de importância. Na safra 2020/2021, a colheita prevista para o cores na terceira safra deve ser maior que as outras duas que compõem o calendário agrícola da cultura.

Terceira safra de feijão carioca deve ser a maior do ciclo 2020/2021, de acordo com a Conab. Para o presidente do Ibrafe, é um indicativo de que o grão produzido neste período do ano tende a ganhar mais relevância no total da safra (Foto: Ricardo Tobaldini / Flickr)

 

O relatório mais recente da Conab sobre a temporada 2020/2021, divulgado neste mês, estima o terceiro ciclo de 728,4 mil toneladas de feijão de cores. Para o primeiro e o segundo, os volumes estimados são de 608,4 mil e 442,7 mil, respectivamente.

“A terceira safra está assumindo um papel muito importante. É o segundo ano em que é a maior safra de feijão carioca no ano”, ressalta o presidente do Ibrafe, destacando que a primeira safra, por exemplo, vem perdendo área para grãos como soja e milho.  

Para Marcelo Lüders, a situação tende a se consolidar. Ele cita como fator favorável grande parte das lavouras cultivadas na terceira safra serem irrigadas. Admite que não há um levantamento preciso, mas estima que pelo menos 80% do feijão carioca produzido nessa época esteja sob sistemas de irrigação.

“Você tem uma qualidade melhor, porque, embaixo da irrigação, a aparência do feijão fica melhor e você tem uma previsibilidade de safra”, avalia Lüders, reconhecendo, por outro lado, que a produção irrigada ainda está concentrada em grandes produtores ou grupos empresariais.

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Na visão do presidente do Ibrafe, um dos fatores que podem estimular o plantio é o melhoramento, com maior presença no mercado de cultivares de feijão carioca que permitem um tempo maior de armazenamento.

“Alguns empacotadores relatam que, quando percebem que tem feijão irrigado no pacote, vende mais. É um feijão bonito, que dá um caldo ótimo. Há uma percepção de aumento de consumo”, argumenta. Um dos entraves, de outro lado, é a diferença de tratamento tributário nos estados, que interfere na competitividade do feijão nas diferentes regiões do país, diz ele.

Aperto na oferta

De todo modo, pontua Lüders, o fato da terceira safra ser a maior não deve impedir um aperto no quadro de oferta e demanda de feijão carioca, bem como o de outras variedades, até o final deste ano. A cultura não escapou dos problemas climáticos vividos pela agricultura brasileira na temporada 2020/2021, com seca em um período do ano e geada em outro, ressalta o executivo. 

Segundo a Conab, a colheita deve totalizar 2,94 milhões de toneladas no somatório dos três ciclos das variedades cores caupi e preto, queda de 8,8% em relação a 2019/2020, de 3,222 milhões. A estimativa divulgada em agosto também é 2,3% menor que a de julho (3,009 milhões de toneladas). Em janeiro deste ano, a Conab estimava uma produção de 3,144 milhões de toneladas. O número, na ocasião, havia sido revisado para cima em relação ao de dezembro de 2020, de 3,120 milhões.

Marcelo Lüders explica que a estiagem e as geadas atingiram áreas de feijão em São Paulo, Goiás e Minas Gerais. Algumas lavouras, inclusive, tinham sido plantadas fora da janela ideal. “Mesmo sendo a maior safra de carioca, não é suficiente para chegar ao final do ano. O feijão preto, também não temos o suficiente para atender à demanda. Por isso, o Brasil já está importando da Argentina”, afirma.

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Segundo ele, os preços do feijão carioca têm variado entre R$ 270 e R$ 280 a saca de 60 quilos em Goiás. Em Minas Gerais, estão entre R$ 280 a R$ 290 a saca. Na região do Luis Eduardo Magalhães, na Bahia, os valores estão entre R$ 280 e R$ 290. No feijão preto, o produto argentino comercializado já do lado brasileiro está entre R$ 300 e R$ 310. O originário do Brasil está entre R$ 280 e R$ 290.

Lüders analisa que agosto tem sido de pico de oferta de feijão no mercado. Com a manutenção dos preços em patamares que considera razoáveis e, levando em conta que, até dezembro, o volume disponível no mercado tende a cair, é possível se pensar em uma tendência de alta até o fim do ano. Mas é preciso ponderar o ritmo de recuperação da economia brasileira, em meio ao avanço da vacinação contra a Covid-19 e os riscos trazidos pela chamada variante Delta do coronavírus.

“De um lado, a gente tem uma busca pela volta à normalidade. De outro, há a realidade de que, até agora, não aconteceu. A gente não vê um cenário de tranquilidade para este segundo semestre. Não dá para arriscar que vai subir mais. Vai depender do consumidor”, avalia.

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Na ponta do consumo, o feijão carioca teve queda de 1,52% entre julho e agosto, de acordo com o IPCA-15, indicador considerado a prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país. O feijão preto teve retração de 4,04%, conforme o levantamento divulgado nesta quarta-feira (25/8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

No acumulado do ano, no entanto, o feijão carioca tem alta de 1,1% e o preto tem elevação de 7,92%. A pesquisa, de acordo com o IBGE, é feita entre o dia 16 do mês anterior e o dia 15 do mês que serve de referência para a divulgação do indicador.
Source: Rural

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