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Todo fim de semana, Carla Retuci Borriello ficava na porta da loja paulistana que vendia seu azeite extravirgem, produzido na Serra da Mantiqueira. O ano era 2014, e poucos clientes tinham ouvido falar de óleo de oliva nacional. “Eu promovia degustações e contava onde era feito”, lembra. “Me olhavam com espanto: quem é essa moça maluca falando que planta oliveira no Brasil?” 

Carla Borriello e suas azeitonas. O sonho de ter um azeite próprio foi realizado em um produto premiado, vendido em restairantes, empórios e alguns supermercados (Foto: Acervo Pessoal)

 

A moça tinha 20 anos de experiência no mercado financeiro e estava em uma dessas esquinas da vida, sem saber se continuava na carreira em bancos ou se tomava outro rumo. Percebeu, então, que um caminho possível apontava para a propriedade da família em Andradas (MG), onde tinham acabado de ser colhidas 8 toneladas de azeitonas. 

A ideia inicial do plantio na Fazenda Três Barras Castanhal era atender ao apetite gastronômico de Carla e do marido, o engenheiro italiano Mario Borriello, de 69 anos. “Somos apreciadores da boa comida”, diz a olivicultora, hoje com 46 anos. “Cultivamos as coisas que gostamos de comer, como alcachofra, aspargos e castanhas.” Foi o sonho de ter um azeite para consumo próprio que levou o casal, em 2007, a plantar 700 mudas de oliveiras fornecidas pela Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) de Maria da Fé.

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O primeiro lote saiu em 2013 – 300 litros, extraídos na Epamig e distribuídos entre familiares e amigos. A produção mais que dobrou na safra seguinte, quando Carla tinha acabado de sair de um emprego no Citibank. “Cheguei à fazenda em fevereiro e as árvores estavam carregadas de azeitonas”, lembra. Ela tinha 800 litros de azeite extravirgem produzidos quando um dia, passando pela loja A Queijaria, no bairro paulistano da Vila Madalena, resolveu entrar para conversar com o proprietário. “Ele falou: traga cinco caixas. Saí surpresa, porque ele nem conhecia e já encomendou o produto”.

Foi aí que Carla resolveu postar-se na porta para apresentar o azeite aos clientes – queria dar um empurrão nas vendas e aumentar a chance de receber novas encomendas. Também passou a participar das feiras que a loja montava na rua. Em uma delas, conheceu o chef Ivan Ralston. Duas semanas depois, recebeu uma encomenda para abastecer o novo restaurante dele, o Tuju, que se tornaria um dos mais premiados do país.

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Hoje, a fazenda de 200 hectares tem 20 deles ocupados por 10 mil oliveiras, de cinco variedades: as espanholas arbequina e arbosana, as italianas grappolo e frantoio e a grega koroneiki. O objetivo é chegar a 20 mil pés e migrar para o sistema orgânico. “Não queremos ser uma grande marca. Nosso propósito é ter um azeite artesanal fresco, que chega à mesa pouco tempo depois da extração, de 20 a 30 dias.”

A produção anual está em 3 mil litros. Abastece restaurantes, empórios e alguns poucos supermercados. “O azeite brasileiro ainda é um produto caro: custa aproximadamente 250 reais o litro na gôndola. Acreditamos que, com o passar dos anos, aumentando a produção e o custo diminuindo, vamos conseguir repassar isso para os clientes.”

A colheita seletiva, com derriçadeira, acontece em fevereiro e março e emprega cinco trabalhadores acostumados a colher café (e ociosos quando é época de apanhar azeitonas). São os proprietários que fazem o processamento para a extração do azeite, em equipamento importado de Florença. Eles receberam treinamento de um profissional da Itália quando fizeram a compra, em 2015.

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Carla hoje atua em tempo integral na Borriello. Se encarrega das áreas comercial e administrativa e Mario, da produção. Fora o período da safra, quando os dois se envolvem nas atividades no campo e no lagar. É uma vida bem diferente daquela dedicada ao mercado financeiro.

Também ajuda a perspectiva de ver o negócio crescer – ainda que, por enquanto, esteja em fase de investimento (até agora, ela calcula que já foram pelo menos R$ 3 milhões). “O principal desafio é entender como essas árvores vão se comportar nos próximos anos. Mas estou otimista. Tanto que apostamos e ainda queremos dobrar”, diz ela.
Source: Rural

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