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O produtor de grãos Paulo Egídio, dono da fazenda Pesa Três, em São José do Xingu (MT), diz que tem perdido muitas horas de sono por manter uma montanha de milho ao relento, mas acredita que adotou uma boa estratégia de comercialização neste ano. Dono de 5.500 hectares, ele plantou 4 mil de safrinha. Optou por não fechar contratos de venda antecipada, colheu bem mais que a maioria dos produtores e está com 200 mil sacas armazenadas nos dois silos da fazenda e mais 320 mil do lado de fora, à espera da conclusão de um armazém que vai mais que dobrar sua capacidade.

Com boa colheita e um armazém ainda em obra, fazenda Pesa Três tem milho a céu aberto (Foto: Paulo Egídio/Arquivo Pessoal)

 

Nesta semana, vídeos da montanha de milho, feitos por curiosos que passam pela fazenda, foram compartilhados em grupos de produtores de soja. “Sei dos riscos, mas espero concluir em menos de um mês o armazém para guardar o milho antes da chuva das flores”, diz, referindo-se às pancadas que precedem a chegada da primavera. Segundo a Climatempo, não há previsão de chuva para São José do Xingu nos próximos 15 dias.

Egídio diz que, diferentemente da maioria dos produtores, o ano foi excepcional para sua lavoura na safrinha. “Colhi a soja cedo e plantei o milho com uma boa janela de 5 de janeiro a 2 de fevereiro. A chuva, que é abundante por aqui, não foi tão regular como em anos anteriores, mas consegui colher bem, com uma média de 152 sacas por hectare ante as 155 da safra passada.”

Dados do boletim do Instituto Mato-Grossense de Economia Pecuária (Imea) de 3 de julho estimam uma produtividade média no Estado de 93,54 sacas por hectare, ante as 107,43 da safrinha anterior, devido à irregularidade climática.

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O goiano, que trocou a pecuária pela agricultura há dez anos e mora na própria fazenda, diz que não fez contratos antecipados desta vez porque já teve muito prejuízo com as tradings. “A gente não está preparado para negociar com as tradings. Elas fazem uma lavagem cerebral para o produtor travar os custos com a venda antecipada, mas nesses dez anos perdi dinheiro em 80% das vezes. A última soja, por exemplo, travei a R$ 80 e quando fui entregar estava valendo R$ 160.”

A expectativa do agricultor é vender seu milho por R$ 80 a saca. Atualmente, a saca na região, segundo ele, está valendo R$ 75. “Queria ter o problema [de armazenagem] desse produtor. Ele deve ser o cara mais feliz do mundo hoje porque a maioria dos agricultores vendeu seu milho antecipado a R$ 30 ou R$ 40 e, além de ter colhido mal, tem que entregar quando o grão está valendo R$ 75, R$ 80”, disse Antonio Galvan, presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), ao ser informado pela Globo Rural. 

Ele aconselha o produtor a não especular e vender logo, para não correr o risco de perder a produção em caso de chuva. Segundo o presidente da Aprosoja, Egídio é um dos poucos privilegiados por não ter fechado contratos antecipados. Produtor de grãos no município de Vera (MT), Galvan plantou cerca de 2,3 mil hectares de milho e perdeu 25 sacas por hectare em produtividade nesta safrinha em relação ao ano anterior. “Vendi antecipadamente 75% da produção baseada na safra passada e agora vou ter de entregar quase 100% do que eu colhi de fato. Vai dar para cobrir os custos e não sobra nada.”

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Sobre a estratégia de não fechar contratos antecipados, Galvan diz que é um risco que tem de ser bem analisado porque já houve muitos anos em que o preço caiu e o produtor levou prejuízo. “Agricultura é atividade de risco do plantio à comercialização. O ideal é vender uma parte para cobrir os custos da lavoura, deixando uma margem de lucro.”

Outra recomendação dele é investir em armazém na propriedade, para agregar valor à produção. Galvan lembra que a Aprosoja Brasil está fazendo uma campanha de incentivo, especialmente em Mato Grosso e no Matopiba, visando reduzir o déficit que, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), chega a 122 milhões de toneladas no país, relacionando o tamanho da produção e a capacidade estática dos armazéns.
Source: Rural

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