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A vegetação devastada pelo rejeito da barragem que se rompeu em 25 de janeiro de 2019 em Brumadinho (MG) está em recuperação florestal. E, a partir de uma técnica desenvolvida por cientistas da Universidade Federal de Viçosa (UFV), capaz de resgatar o DNA e criar cópias das plantas nativas da região, esse processo pode ser feito quase uma década mais rápido do que o convencional.

O projeto denominado “Resgate de DNA e indução de florescimento precoce em espécies florestais nativas da região de Brumadinho” é uma parceria da UFV com a mineradora Vale, responsável pela barragem que se rompeu e pela recuperação ambiental.

Tecnologia desenvolvida na UFV promete recuperar 9 anos mais rápido do que o convencional vegetação nativa de Brumadinho (Foto: Vale/Reprodução)

 

“A universidade teve a ideia, patenteou, e a Vale nos procurou. Tínhamos testado apenas em escala de laboratório com espécies não tão importantes. Então, tiramos o conhecimento da universidade e aplicamos na prática em escala operacional, gerando desenvolvimento ambiental e econômico para a sociedade”, conta Gleison dos Santos, engenheiro florestal e professor de conservação genética da UFV.

Fizemos a coleta de cinco espécies nativas de Brumadinho e tivemos excelente resultado com a propagação delas no retorno ao campo

Raul Firmino, engenheiro florestal

Santos, que é o responsável pelo projeto de recuperação do DNA das plantas, afirma que o projeto começou em junho de 2020. A técnica é capaz de fazer florescer em até um ano espécies que, normalmente, levariam 10.

“Antes dessa planta morrer, fomos até essas árvores e colhemos uma parte da copa dela que contém seu DNA. Através das técnicas de propagação vegetativa que desenvolvemos, resgatamos o DNA e fizemos várias cópias”, afirma. Essa é a essência do projeto, explica o professor, “porque o indivíduo com DNA único é preservado, feito várias cópias desse material e, então, ele volta para o campo”.

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Em 2019, Raul Firmino, engenheiro florestal especializado em recuperação de áreas degradadas, voltou após 15 anos para a Vale para trabalhar à frente do projeto na diretoria de reparação de Brumadinho. Ele afirma que o resgate de DNA conciliou com a demanda específica do local atingido.

“Nesse projeto, escolhemos cinco espécies de interesse para trabalhar. Quatro ameaçadas de extinção, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, e o ipê amarelo, que possui uma legislação exclusiva em Minas Gerais, porque é imune ao corte. Fizemos as coletas e tivemos excelente resultado com a propagação dessas espécies para retorno do campo."

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Firmino reitera que o projeto, ainda em estágio inicial, já prevê outros benefícios além da recuperação nativa da região. “A partir do momento que há uma planta florescendo em campo, existem atrativos de fauna, principalmente agentes polinizadores, abelhas, morcegos, pássaros, e, consequentemente, teremos frutos."

Equipe fazendo o plantio de espécies nativas de Brumadinho (Foto: Vale/Reprodução)

 

 

O pesquisador da UFV projeta a aceleração do reflorestamento. “A árvore faz sua máxima função da natureza quando produz flores e frutos. Ela deixa o DNA, alimenta pássaros, insetos. Como nós estamos reduzindo isso em até nove anos, a restauração ambiental de Brumadinho vai ocorrer quase uma década mais rápido”, diz.

Trabalho delicado

No rompimento da barragem, morreram 279 pessoas e 10 ainda seguem desaparecidas. “Temos muito cuidado com o trabalho conjunto dos bombeiros em busca de corpos ainda desaparecidos. Nós nos deparamos com o dia a dia da realidade de Brumadinho. É um desafio muito grande”, relata o engenheiro da Vale.

Segundo ele, a premissa da empresa é remover 100% do rejeito em cinco anos. “No total, 296 hectares foram diretamente impactados pela onda do rejeito, e tudo faz parte da área de recuperação."

Existe um esforço muito grande sendo feito, e não poderia ser diferente até porque a Vale causou o dano ambiental

Gleison dos Santos, engenheiro florestal

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“Desde quando começamos a trabalhar na área, foi sempre muito desolador. Parece cenário de filme de guerra. Atualmente, já foi feita uma série de trabalhos na região com envolvimento de maquinários e, a partir do momento que é retirado o resíduo, entramos para plantar”, acrescenta Santos.

Ele afirma que já é possível observar efeitos dessa estruturação e melhoria ambiental da área. “Hoje, se vê um outro cenário. Existe um esforço muito grande sendo feito, e não poderia ser diferente, até porque a Vale causou o dano ambiental. O projeto tem tudo para trazer essa área do ponto de vista ambiental, igual ao que era ou até melhor com o passar dos anos."
Source: Rural

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