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O veto russo às importações de tabaco brasileiro, que passou a valer na última segunda-feira (19/7), compromete o planejamento da safra de fumo 2021/2022, que está sendo iniciada no sul do país. A afirmação é do presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Albano Werner. Segundo ele, a colheita da safra 2020/2021 já foi encerrada e o tabaco está sendo comercializado.

“Soubemos da proibição pela mídia. Se isso não for revertido logo, vai prejudicar muito o setor porque a Rússia é um dos maiores importadores do fumo brasileiro”, diz Werner, acrescentando que entre 85% e 90% da produção do sul do país vai para exportação.

Plantação de Fumo. Brasil é líder mundial em exportações há quase 30 anos (Foto: Marcelo Curia / Editora Globo)

 

O Brasil é líder mundial de exportações de tabaco há quase 30 anos, com cerca de 500 mil toneladas por ano. No ano passado, embarcou 514 mil toneladas, sendo 22 mil para a Rússia, sétimo país no ranking das exportações brasileiras de tabaco. A liderança é da Bélgica. O total comercializado gerou US$ 1,638 bilhão em divisas. Para este ano, a previsão é um crescimento de 2% a 6% no volume embarcado e até 10% na receita.

A Rússia, por meio do Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária, decidiu proibir a importação alegando que identificou a contaminação do tabaco em rama do Brasil e de mais seis países pela mosca Megaselia scalari, considerada uma praga quarentenária na Rússia e nos demais países da União Econômica Eurasiática (UEE).

“A Rússia não informou onde encontrou a mosca ou como foi a contaminação. Se ocorreu, deve ter sido nos embarques. Toda a cadeia tem um extremo cuidado com o fumo, que passa por muitas análises do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) do Rio Grande do Sul”, afirma Werner.

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O dirigente explica que o fumo usa os sistemas de plantio direto e rotação de culturas com milho, feijão, soja, aveia ou forrageiras. “Por isso, é uma cultura que tem poucas doenças.” Após a colheita, o fumo é secado nas fazendas em estufa por pelo menos seis dias, classificado folha por folha e enfardado para chegar às empresas processadoras que retiram a umidade, colocam em caixas e fazem o processo para a exportação em contêineres fechados. Além disso, diz o presidente da Afubra, os importadores visitam as fazendas para inspecionar o processo de produção.

Segundo o dirigente, o Zimbábue, país africano que é o sexto maior produtor de tabaco do mundo e concorrente brasileiro nas exportações, teve uma quebra de safra e, a partir de maio, houve uma corrida mundial pelo produto, que elevou os preços internacionais, mas só restava, então, 20% da produção brasileira para comercialização.

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O sul do país produz de 620 mil a 650 mil toneladas por ano, sendo 575 mil do tipo Virginia, que tem custo de produção de R$ 9,77 o quilo e preço médio de venda de R$ 10,35. A última safra fechou em 631,65 mil toneladas para uma área plantada de 273,35 mil hectares por 137,6 mil famílias, sendo 70 mil no Rio Grande do Sul. Em 2005, o tabaco representava 75% da receita das famílias produtoras. Neste ano, ficou em torno de 46%.

Outras 13.770 famílias plantam fumo no Nordeste, especialmente na Bahia, mas a produção é voltada para cigarrilhas e charutos, inclusive os cubanos.

Ministério

A coordenadora-geral de Fiscalização e Certificação Fitossanitária Internacional do Ministério da Agricultura (Mapa), Edilene Cambraia, informou nesta quarta-feira (21/7) à Globo Rural que a pasta solicitou uma reunião para tratar do tema e aguarda uma resposta dos russos. Segundo ela, o Brasil ainda não recebeu nenhum comunicado oficial sobre a proibição de importação do tabaco. A informação veio apenas do adido agrícola brasileiro na Rússia, que encaminhou a publicação feita no último dia 15 no site do Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária daquele país.

Antes, o Ministério só tinha recebido uma notificação da presença da mosca em setembro do ano passado e tomou providências junto à empresa exportadora a fim de evitar novas interceptações. “Enviamos um ofício às autoridades russas com as medidas adotadas em relação a única notificação recebida e solicitamos esclarecimentos sobre as demais interceptações publicadas no site das autoridades russas, que teriam sido o motivo da suspensão das exportações, além de informações técnicas sobre o inseto interceptado e sobre a falta de evidências científicas de que este inseto seja uma praga relacionada a tabaco.”

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Segundo a coordenadora, a Megaselia scalaris é uma mosca cosmopolita e eclética em termos de possíveis hospedeiros e os relatos de sua ocorrência indicam hábitos alimentares dos mais diversos. “Não encontramos relatos que suportam a tese que a Megaselia scalaris possa ocasionar danos em plantas.” A hipótese mais provável é que a possível contaminação tenha ocorrido de forma acidental durante a ovação (estufagem) do contêiner porque o inseto se alimenta de restos orgânicos.

Na última sexta, o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke, disse que o setor foi surpreendido com a proibição e estava preocupado porque a época é de embarques para a Rússia. O sindicato não tem, no entanto, informações de cargas já paradas no país nem de embarques previstos para os próximos dias.

O Ministério da Agricultura informou que, durante a suspensão, as cargas brasileiras que chegarem à Rússia poderão ser devolvidas ao destino ou destruídas.
Source: Rural

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