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“Eles são mais tratados como atletas do que nós mesmos”. É assim que o cavaleiro Marlon Zanotelli, campeão Pan-americano de 2019, se refere aos cavalos da equipe do Brasil na busca de medalhas nas Olimpíadas de Tóquio, que começam oficialmente na sexta-feira (23/7) – as provas de hipismo iniciam no sábado (24/7).

A análise do atleta brasileiro é baseada no grande diferencial do hipismo: é o único esporte olímpico com animais. A peculiaridade exige que a preparação dos cavalos seja tão complexa e rigorosa quanto a dos humanos. Afinal, a performance passa muito pela combinação entre força, agilidade e saúde.

Marlon Zanotelli e seu cavalo VDL Edgar no Pan-Americano de 2019 (Foto: Luis Ruas/Confederação Brasileira de Hipismo)

 

 

“O cavalo começa atingir um rendimento de alto nível para esporte a partir dos 10 anos. Oito, nove anos, acredito que ainda seja uma idade precoce, de formação e aprendizado do que de alta performance”, diz Zanotelli.

Rogério Saito, veterinário do Time de Salto Brasil, destaca que os cuidados físicos são semelhanes entre cavalos e humanos. “Os cavalos são como pessoas, envelhecem, ficam doloridos, tem problemas nas articulações, desgastam músculos. Normalmente, os animais de alta performance competem entre 10 e 16 anos”, ressalta.

Saito conta que todo tratamento de um cavalo de alta performance é extremamente rigoroso e individual. “Tem cavalo que é mais quente, então, precisa de comida menos energética. Os mais frios precisam de comida mais energética. Depende do humor do animal, de como ele é trabalhado no dia a dia, do clima de onde vive."

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Para cada cavalo, o veterinário monta um esquema de alimentação específico. Isso inclui o tipo de ração mais ou menos energética, proteica e gordurosa, a suplementação com vitaminas, whey protein, condroprotetores à base de colágeno, ácido hialurônico e outros.
Zanotelli explica que seus cavalos de alto nível têm picos de performance no ano, ao longo das competições.

“No caso das Olimpíadas, como temos muitos cavalos diferentes de competição que saltam provas altas e também provas menores, existe um grupo de pessoas especializadas que cuidam dessa parte de treinamento físico”, revela.

Edgar é o cavalo que ele montará nas Olimpíadas. “Atualmente, em dias normais, o Edgar sai às 9h para um passeio na floresta de cerca de uma hora, volta para o pasto, entra para almoçar 12h30 e, no fim do dia, eu monto ele. Esse é mais ou menos o dia a dia dele”.

Seleção de cavalos competidores

Desde a formação do cavalo, os especialistas já têm controle das boas linhagens genéticas de garanhões e matrizes, onde normalmente tiram-se potros bons.

“Quando esses potros nascem, são selecionados, separados, melhor alimentados e dado todo o suporte desde pequeno. Quando chegam aos três, quatro anos, já começa a ser feita a seleção desses animais”, conta Zanotelli. A partir daí, os potros começam a saltar em liberdade e em sequência, vem a doma, para destinar aos melhores cavaleiros.

Existem cavalos que nascem em grandes haras ou cocheiras conhecidas por tratar e criar grandes competidores, mas também têm aqueles que despontam mesmo nunca tendo sido tratados como atletas

Marlon Zanotelli, cavaleiro brasileiro

Zanotelli afirma que não existe regra específica, mas o objetivo é controlar os fatores ao máximo. “Existem cavalos que nascem em grandes haras ou cocheiras conhecidas por tratar e criar grandes competidores, mas também têm aqueles que despontam mesmo nunca tendo sido tratados como atletas”.

Por isso, reitera que o mais importante é o estudo das linhas maternas, afinal, a parte genética é onde mais se busca tirar o máximo de excelência.

Deslocamento

Para Tóquio, os cavalos sairão da Bélgica, onde Marlon mora, e vão de caminhão para a cidade de Aachen, na Alemanha, onde farão quarentena até dia 26 de julho. Neste dia,  embarcam para o Japão, sempre na companhia dos tratadores e veterinários.

Ao chegar no país asiático, a equipe será recebida pelos veterinários de cada confederação, e, então, os cavalos serão encaminhados para as áreas de competição.

Assim como nós, humanos, tem os cavalos que ficam nervosos, os que ficam mais tranquilos, os que dormem. Alguns sofrem com o estresse da viagem, outros nem se incomodam

Marlon Zanotelli, cavaleiro brasileiro

A viagem até Tóquio é muito longa, e os cuidados são muitos. “Antes das viagens, eu faço o preparo deles em termos de músculo, cansaço, imunidade. Sempre os coloco em ordem antes de mandá-los para os Jogos”, afirma o veterinário.

Apesar de os cavalos estarem acostumados com longas viagens de caminhão e avião, a preocupação da equipe é grande. “Assim como nós, humanos, tem os que ficam nervosos, os que ficam mais tranquilos, os que dormem. Alguns sofrem com o estresse da viagem, outros nem se incomodam. O Edgar tem experiência, já viajou muito, é um cavalo relativamente tranquilo dentro do voo e isso nos dá um conforto”, conta Zanotelli.

Quarentena

Para as Olimpíadas de Tóquio, a equipe brasileira fará quarentena de nove dias em Aachen, na Alemanha. Essa não é uma programação aplicada em razão da pandemia de Covid-19.

“Com a questão da pandemia está sendo mais complexo para nós, mas os cavalos sempre fazem essa programação em viagens internacionais”, explica o cavaleiro.

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Saito relata que, durante os nove dias, a preparação dos animais é feita em conjunto pela equipe com a presença do veterinário, do técnico e dos cavaleiros.

“Lá, os cavalos trabalham, montam, saltam, treinam individualmente e em conjunto. Para fazer a quarentena, existem locais oficiais pré-selecionados que possuem aprovação para isso”, observa.

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Source: Rural

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