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Temos enfatizado de modo contínuo a relevância do conhecimento dos profissionais das ciências agrárias no uso adequado do ferramental da agricultura de precisão disponível à produção agrícola.

Tal como um bom médico toma decisões do tratamento mais adequado para cada paciente, devemos buscar aquelas melhores práticas para nosso manejo na produção.

Aproveitando um pouco dessa analogia, para tomar uma decisão os médicos realizam a coleta de diversas informações sobre a condição do paciente quer seja em consultas quer seja por meio de exames.

 

 

O bom médico atua com base no conhecimento que adquiriu ao longo de sua formação profissional, à luz dos conhecimentos mais atuais promovidos pela pesquisa e divulgados em publicações idôneas e em eventos científicos.

Também utiliza o histórico de sua experiência com o tratamento de muitos indivíduos. Atua, portanto, fazendo diagnósticos embasados, identificando efeitos para as causas observadas.

Por mais que tenha à disposição ferramentas analíticas extremamente avançadas, com todo tipo de equipamentos para enxergar o que os olhos não conseguem, mensurar quantidades inimagináveis desta ou aquela substância e muitas vezes de forma imediata, ele sabe que se não tivesse todo o preparo para conhecer os fenômenos e as relações causais, seus diagnósticos teriam pouca assertividade.

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As sociedades continuamente avançam e se transformam, em grande medida por conta de avanços tecnológicos oriundos do conhecimento acumulado. A partir do desenvolvimento do método científico, esses avanços passaram a ser mais rápidos pela possibilidade de transmissão e reprodutibilidade do conhecimento.

A chamada transformação digital é um fenômeno que tem forte participação do componente tecnológico, mas que só pode ser efetiva com o envolvimento das pessoas, preocupação global vide as últimas publicações da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Nesse sentido, cabe uma reflexão em cima da temática da produção de alimentos e dos diversos produtos originados pela agropecuária. Talvez a mais importante seja aquela relativa à capacitação dos recursos humanos para o uso das novas ferramentas. De fato, ainda é necessária infraestrutura como a conectividade.

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Mas, supondo que ela em breve não seja mais um impedimento, estamos preparados para usufruir dela? Quais as soluções que efetivamente estão disponíveis para a educação digital? Será que elas são adequadas, por exemplo, aos pequenos produtores que provavelmente são os que dela mais poderiam se beneficiar? 

Chegando mais próximo do tema agricultura de precisão (AP), estariam os profissionais preparados para o uso das novas ferramentas ou de modo diverso dos bons médicos, seriam mais como os fazedores de receitas, que sem entender a causa dos sintomas procedem à recomendação desse ou aquele tratamento que usualmente são inócuos ou mesmo provocam mais problemas?

 

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Com 30 anos de história de AP no Brasil, temos excelentes profissionais atuando e fazendo com que haja evolução em produtividade e qualidade. Estes profissionais, tal como os bons médicos, realizam diagnósticos bem embasados, fruto de dedicação à sua formação contínua. Sim, grande parte deles não recebeu treinamento nos bancos da escola sobre como utilizar AP, mas buscaram se capacitar e continuamente se atualizam em nossos eventos e cursos.

Como os bons médicos, os profissionais das agrárias compreendem que em uma propriedade agrícola, assim como no organismo de um paciente, há diversos subsistemas que interagem. Para o diagnóstico correto entrevistam seu cliente, visitam as áreas de produção, identificam gargalos que não estão diretamente relacionados a determinado sintoma, mas que indiretamente o condicionam. Em suas análises consideram solo, clima, infraestrutura física, recursos humanos.

Em momentos turbulentos nos quais produtos promissores ou ferramentas sofisticadas são apresentadas ao mercado, esses bons profissionais praticam o ceticismo saudável, buscam compreender o que é proposto para então aplicar em seus clientes as inovações. São inovadores, mas não se convencem com propagandas bonitas nem testemunhos pagos, exigem a explicação técnica e resultados isentos que comprovem a efetividade

Leandro M. Gimenez

Também, no momento de realizar uma recomendação de exame ou de tratamento, a exemplo dos bons médicos, conseguem compreender o que está ao alcance de seus clientes, não prescrevem exames ou remédios que não possam ser adquiridos ou utilizados por conta de limitações financeiras ou técnicas.

Em momentos turbulentos nos quais produtos promissores ou ferramentas sofisticadas são apresentadas ao mercado, esses bons profissionais praticam o ceticismo saudável, buscam compreender o que é proposto para então aplicar em seus clientes as inovações. São inovadores, mas não se convencem com propagandas bonitas nem testemunhos pagos, exigem a explicação técnica e resultados isentos que comprovem a efetividade.

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Uma parafernália tecnológica está à disposição da produção agrícola na atualidade e é praticamente impossível que um mesmo profissional possa acompanhar todas as novidades que, a exemplo dos bancos de dados, crescem em número e diversidade exponencialmente.

Os bons profissionais apresentam uma última característica absolutamente essencial: são humildes. Seja médico, agrônomo ou em qualquer outra profissão, aqueles que enchemos a boca para chamar de doutores são os que mesmo sabendo muito sobre seu campo de domínio estão sempre dispostos a ouvir outros colegas, a consultar outros profissionais quando têm dúvidas e não hesitam em admitir que precisam obter conhecimentos para usar as novas ferramentas e práticas quando estas surgem.

*Leandro M. Gimenez é diretor científico da Associação Brasileira de Agricultura de Precisão (AsBraAP) e professor da Esalq, USP – Piracicaba.

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.

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Source: Rural

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