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A chegada do coronavírus ao Brasil e a gravidade da doença variar de pessoa para pessoa numa relação direta com a preexistência de alguma comorbidade levou à população a adotar atitudes capazes de melhorar a imunidade. O fato de boa parte das doenças crônicas mais frequentes estar ligada aos hábitos alimentares aumentou o interesse dos consumidores pelos produtos orgânicos.

Esse incremento à procura veio junto com as medidas de isolamento necessárias para a redução do risco de contágio, que acarretou no fechamento de muitos espaços de comercialização de produtos orgânicos. E, mesmo quando podiam funcionar, havia sempre o medo por parte de consumidores e produtores de exposição ao contágio.

 

Para muitos produtores essa situação atrelada ao fechamento das escolas, que em diversos municípios eram importantes compradores de produtos orgânicos da agricultura familiar, criou situações desesperadoras. Muitos viram se perder no campo o fruto do seu trabalho: os alimentos responsáveis pelo sustento financeiro da família.

Por outro lado, os produtores orgânicos que estavam vinculados a sistemas de comercialização por delivery viram, de uma hora para outra, a explosão da demanda. Os relatos de crescimento de vendas variam de 50% a 150%. Tal fenômeno está relacionado à preocupação das pessoas com a qualidade dos alimentos e à adoção de medidas de segurança, o que as levou a optar por compras online com entrega em domicílio.

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Este cenário fez os produtores perceberem a necessidade de se adaptarem aos novos mecanismos de comercialização. No entanto, muitos têm pouca intimidade com as ferramentas digitais e pouco acesso à internet e até mesmo ao sinal de celular.

Além disso, a nova realidade demanda gente qualificada para atuar na execução de novas tarefas (administração de pedidos, logística de entregas e pagamentos à distância), o que inviabiliza esta solução para muitos agricultores.

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É inquestionável que a pandemia provocou a expansão do delivery de produtos orgânicos, mas nem sempre este serviço é feito pelos produtores. Muitas pessoas viram no aumento dessa demanda uma oportunidade de negócio, o que gerou a seguinte situação: ao procurar um fornecedor de orgânicos, o consumidor dá preferência a quem tem a possibilidade de entregar o maior número de itens, o que diminui a chance de os alimentos serem oriundos de um único produtor.

Antes do coronavírus, as feiras eram o ambiente de complementação: lá o cliente encontrava uma diversidade de produtos levados por diferentes agricultores. 

É inquestionável que a pandemia provocou a expansão do delivery de produtos orgânicos, mas muitos produtores não tem intimidade com as ferramentas digitais e pouco acesso à internet, o que inviabiliza esta solução para muitos

Rogério Dias

Tal situação provocou novos arranjos. O primeiro foi a troca de produtos entre produtores, como forma a ampliar o número de itens disponíveis. O outro foi a venda no atacado por produtores e empreendimentos que só estavam habituados a trabalhar com as vendas no varejo.

Tudo indica que – mesmo após o fim da pandemia – a rotina não voltará a ser como antes. Muitos produtores que começaram a trabalhar com delivery não querem mais voltar a fazer feira. Da mesma maneira, muitos consumidores gostaram da entrega em domicílio e não vão abrir mão deste conforto.

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Infelizmente, a crise gerada pela pandemia agravou ainda mais as desigualdades sociais, o que torna essencial a adoção de políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Ambos são instrumentos fundamentais para garantir a segurança alimentar de toda a população, além de serem importantes mecanismos para geração de renda a milhões de agricultores familiares.

*Rogério Dias é presidente do Instituto Brasil Orgânico.

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.
Source: Rural

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