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Comum nas lavouras de soja e milho, o plantio direto, técnica adotada no Brasil desde a década de 1970, tem conquistado produtores de culturas cujo manejo pode parecer incompatível com a ideia de não revolver o solo.

Na região de Paranavaí, no oeste do Paraná, um pequeno grupo produtores de mandioca está há dois anos apostando no modelo visando a recuperação de pastagens degradas, redução das emissões de gases do efeito estufa e maior competividade no arrendamento de áreas na região.

Considerada uma cultura "nômade", mandioca apresenta melhor desempenho quando plantada em pasto degradado desde que a área não tenha recebido lavouras do tubérculo nos últimos dez anos (Foto: Divulgação)

 

“Isso vem surgindo de uma necessidade. Porque até mesmo os proprietários de área hoje procuram produtores que fazem o serviço bem feito. E só de você não revolver o solo o próprio proprietário já tem interesse em te arrendar uma área”, explica o engenheiro agrônomo Cleto Lanziani.

Produzindo mandioca desde 1985, ele relata que o custo de arrendamento na região tem se tornado cada vez mais difícil devido à concorrência com outras culturas, como laranja e cana-de-açúcar.

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Mandioca plantada por produtores paranaenses direto na palhada, sem revolver o solo, seguindo técnicas de plantio direto (Foto: Divulgação)

Com isso, os valores que antes eram calculados em percentuais da produção foram sendo corrigidos até ultrapassem a marca dos R$ 10 mil por alqueire. “Uma das coisas que influenciou esse aumento exagerado foi o alto valor da commodities como soja e milho. Hoje, mesmo que a gente não tenha condições ideais para plantio de soja, não se fala mais em mandioca para arrendamento, só em soja”, destaca o produtor.

Além de Lanziani, outros cinco produtores com áreas de 50 a 100 alqueires plantados no oeste paranaense já embarcaram no desafio de adaptar as técnicas de plantio direto no cultivo de mandioca. Na prática, o sistema é adotado no momento de implantação das lavouras, uma vez que a colheita das raízes passa, invariavelmente, pelo revolvimento do solo.

Mesmo assim, os impactos positivos para o meio ambiente já são consideráveis, como explica o coordenador de projetos na área de Clima e Emissões do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Bruno Castigioni.

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Como plantar mandioca

 

“Como se trata de uma raiz, você tem que fazer o arranquio dessa cultura. Mas você pode associar algumas práticas conservacionistas de solo que visem tanto uma melhoria das condições para plantio e cultivo dessas culturas e, a partir daí, você tem impactos significativos na questão das mudanças climáticas”, aponta Castigioni.

Ele foi responsável por um treinamento on-line oferecido este ano a sete grandes produtores de mandioca, batata e milho pipoca que fornecem matéria-prima para a gigante norte-americana General Mills.

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Considerada uma das dez maiores empresas de alimento do mundo, a companhia contratou o Imaflora para avaliar as emissões de carbono nas suas principais cadeias de fornecedores. Em uma primeira fase, o Instituto calculou as emissões de sete fazendas de milho pipoca e milho branco em Campo Novo do Parecis, no oeste do Mato Grosso.

“A gente coletou solos de campo de milho pipoca, de pastagem degradada e de vegetação nativa e a gente viu que o solo de vegetação nativa e o solo de campo de pipoca estavam com os valores bem equivalentes em relação à quantidade de carbono no solo”, conta a coordenadora de Desenvolvimento Agro da General Mills para América Latina, Franciele Caixeta.

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A fase atual do projeto consiste em oferecer treinamento para os produtores interessados em adotar práticas de agricultura regenerativa que incluem, além do próprio plantio direto, a integração com a pecuária e o controle biológico.

Em um segundo momento, a companhia pretende quantificar esse estoque de carbono gerado, visando certificar seus produtos como carbono neutro no médio a curto prazo. “A gente vai definir essa linha de base e depois vamos trabalhar nos potenciais de redução de acordo com o melhor manejo”, revela Franciele.

No caso específico da mandioca, a iniciativa da companhia tem a vantagem adicional de reter os produtores nas áreas próximas às unidades de processamento. Considerada uma cultura “nômade”, a raiz tem melhor desenvolvimento justamente em áreas de pastagens degradadas, mas que não tenham sido cultivadas com a mandioca nos últimos dez anos.

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“É difícil ter hoje uma área em que se consiga plantar mandioca todo ano no mesmo local por diversos problemas: fertilidade do solo, problemas de pragas e doenças, e tudo isso faz com que a mandioca seja como um nômade. Todo ano tem que plantar numa área diferente”, explica Lanziani ao destacar que tem se tornado cada vez mais difícil encontrar áreas aptas para a cultura no noroeste do Paraná.

“Hoje, o próximo passo que estou vendo para nós, mandiocultores da região, é pegar arrendamentos com prazo maior onde você trabalhe não só com a cultura da mandioca, mas fazendo rotação de cultura com amendoim, milho, soja, culturas adaptadas a nossa região e melhorando a qualidade deste solo”, avalia o produtor
Source: Rural

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