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O sentimento de injustiça diante das críticas à pecuária de corte, apontada como uma das atividades de maior impacto no aquecimento global, levou o produtor rural Caio Penido, sócio da Agropecuária Água Viva, a realizar um estudo sobre o balanço dos gases de efeito estufa (GEE) na fazenda, localizada em Cocalinho (MT).

Ele queria comprovar que a atividade pode ser sustentável e que é possível neutralizar as emissões nocivas ao meio ambiente por meio do sequestro de carbono.

Penido, que preside o Instituto Mato-grossense da Carne (Imac) e o Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), há cinco anos começou um trabalho em conjunto com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o World Resources Institute (WRI Brasil) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para colocar em prática na propriedade o GHG Protocol Agropecuário, uma ferramenta utilizada para contabilizar as emissões que ocorrem durante o ciclo de vida de produtos.

Na foto, criação de gado do pecuarista Caio Penido. 70% de seu rebanho têm manejo rotacionado para contribuir com a fixação do carbono no solo (Foto: Divulgação)

 

O aplicativo desenvolvido pelas organizações permite calcular on-line as emissões e compensações de GEE, utilizando metodologia específica para a realidade tropical. A plataforma tem abas separadas para cultivos de soja, milho, algodão, trigo, arroz, feijão e cana-de-açúcar, além de pecuária e pastagens.

Viviane Romeiro, gerente de clima do WRI Brasil, explica que o GHG Protocol existe para o setor industrial desde 1998, mas, no Brasil, começou a ser elaborado com foco na pecuária em 2012. Ela lembra que o país tem 200 milhões de hectares de pastagens, das quais 175 milhões de hectares estão degradados em maior ou menor nível.

“A pecuária brasileira pode ser muito mais eficiente. Com a ferramenta, o produtor pode fazer inserções de dados da fazenda no sistema e identificar onde tem deficiência, onde dá para melhorar.” 

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O aplicativo é de domínio público. Basta fazer o download na internet e colocar os dados sobre produção, como quantidade de bois, características do solo e uso de produtos químicos, que a ferramenta calcula emostra onde há os maiores índices de emissão.

“Os fatores de emissão que estão dentro desse protocolo são todos nacionais, medidos em situação tropical”, explica Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, que trabalhou diretamente no desenvolvimento do protocolo.

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Assad observa que as pastagens degradadas e a fermentação entérica dos animais são os indicadores mais responsáveis pelas emissões de GEE.

“Entre três e quatro anos, o boi emite muito metano. A expectativa é que a pecuária possa abater animal aos 30 meses, e a meta principal é 24 meses”, diz ele, ao esclarecer que a idade de abate tem total relação com a emissão do gás. Já Viviane ressalta que a adição de fertilizante, calcário e ureia no solo também é um fator que corresponde a uma alta taxa de emissões.

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Guilherme Levèfre, pesquisador do Centro de Estudo em Sustentabilidade (FGVces) e coordenador do Programa Brasileiro GHG Protocol, explica que no aplicativo as fontes de emissão estão listadas em mecânicas (relativas a equipamentos e maquinários) e não mecânicas (relativas ao manejo).

“Existe uma lista com as fontes de emissão, não é preciso começar do zero”, ele esclarece. No caso da soja, cinco tabelas pedem informações sobre propriedade, sistema de cultivo, práticas de adubação, aplicação de defensivos agrícolas e consumo de combustível.

Levèfre ainda ressalta que o dióxido de carbono, comumente chamado apenas de carbono, está longe de ser a única emissão. De acordo com ele, o metano advindo do processo digestivo dos animais interfere 27% mais na camada de ozônio em comparação ao CO2. Já o fertilizante, quimicamente conhecido como óxido nitroso (N2O), é 300% mais agressivo que o CO2.

Ele ainda afirma que, no caso dos gases de efeito estufa, não basta apenas fazer determinado manejo, é preciso fazê-lo bem-feito. “No tratamento de resíduos, como manejo de esterco, a forma como esse tratamento é feito pode emitir ou não GEE, por isso a calculadora é importante.”

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Apesar de não ser uma exigência do mercado, o GHG Protocol pode ser sinônimo de oportunidade de negócio, caso as instruções para o balanço de GEE sejam cumpridas. “Nem sempre o produtor vai precisar comprovar o balanço (de GEE), mas, se precisar de comprovação, ele já tem”, diz Viviane Romeiro, ao citar que o selo de Carne Carbono Neutro da Embrapa utiliza o mesmo protocolo.

Eduardo Assad, da Embrapa, conclui que “produzir mais com o mesmo” é o objetivo. “Com a recuperação da pastagem, a gente melhora a taxa de lotação. Podemos chegar a uma cabeça e meia e até a duas por hectare”, diz.

Caio Penido, sócio da Agropecuária Água Viva e presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) (Foto: Divulgação)

 

No caso de Caio Penido, dos 3 mil hectares de pastagem da Fazenda Água Viva, 70% têm manejo rotacionado para contribuir com a fixação do carbono no solo.Ele conta que, no ano passado, começou o sistema integrado de lavoura e pecuária. Em outra área em que não há vocação para lavoura, já prevê a integração com floresta.

“A terra vai falando para a gente o que ela é capaz de produzir”, comenta. “Floresta é estoque de carbono e, quando fala-se em carbono, fala-se em oportunidade”, ele ressalta.

Este é um exemplo nítido de que, ao entender o balanço entre emissão e sequestro, agrega-se valor ao negócio. “Essas ações qualificam o produto da fazenda. Quem não aderir estará fora do jogo”, sentencia Assad.

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Source: Rural

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