Skip to main content

A alta demanda impulsionada pela rentabilidade das commodities deve levar o setor de máquinas agrícolas a ter um aumento real de 30% no ano e fechar com o recorde de R$ 33 bilhões de faturamento.

A projeção é de Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Implementos (Abimaq), que tem 500 indústrias associadas.

Ele destaca que, só no primeiro quadrimestre do ano, o aumento de faturamento foi de 63%, mesmo com o estresse generalizado da cadeia mundial de suprimentos, em função dos efeitos da pandemia de Covid-19.

Máquina agrícola na colheita de soja (Foto: André Schaun)

 

O recorde anterior de faturamento, de R$ 28,2 bilhões, já descontada a inflação, foi estabelecido em 2013, quando o setor viveu um ano de “tempestade perfeita.” No ano passado, o aumento foi de 17%, com um faturamento de R$ 25 bilhões.

A John Deere, uma das grandes multinacionais do setor de máquinas agrícolas, prevê um crescimento no ano de 20% a 25% em suas operações na América Latina, segundo o diretor de vendas Marcelo Lopes.

Segundo ele, o aumento da demanda por máquinas é desproporcional à capacidade de reação de toda a cadeia. “Como todo o setor, a John Deere sente os impactos da desorganização da cadeia de suprimentos e registra atrasos pontuais em entregas. Não temos como aceitar novos pedidos de equipamentos de plantio para entrega neste ano, mas os clientes já entenderam que o momento é desafiador.”

saiba mais

Com alta capacidade e falta de peças, indústria de máquinas atrasa entregas

Falta de matéria-prima para fabricar máquinas agrícolas só deve se normalizar em 2022

 

Estevão, da Abimaq, diz que a carteira geral das empresas associadas à entidade é de 12 semanas para entrega dos pedidos, ante as 8 semanas de períodos anteriores à crise da falta de peças.

Ele destaca que as grandes indústrias são mais afetadas porque dependem mais de componentes internacionais e não conseguem responder com tanta agilidade como as pequenas e médias fábricas ao aumento da demanda.

Leia mais notícias sobre Economia

Nesse cenário, o diretor da John Deere diz que a grande pergunta do setor é até quando a demanda vai se manter tão aquecida. A expectativa de Lopes é que haja uma estabilização no próximo ano, mas a patamares mais elevados, já que o país está aumentando sua área de plantio e muitos pecuaristas estão transformando suas áreas em lavouras ou adotando o sistema lavoura-pecuária e, portanto, vão precisar investir em equipamentos.

O dirigente da Abimaq aposta em mudanças na demanda só a partir do segundo trimestre de 2022. Ele diz que a resposta, no entanto, depende de quatro fatores que vão ocorrer nos próximos meses: o desenvolvimento da safra americana de grãos, o desempenho da colheita da safrinha brasileira, o plantio da safra verão e os números da colheita sul-americana e nos EUA. “Por enquanto e pelas previsões, não há motivos para os preços internacionais registrarem queda.”

saiba mais

Com Plano Safra mais enxuto, agro parte em busca de crédito privado e mercado de capitais

CNA teme atraso na concessão de crédito do novo Plano Safra em julho

 

Um fator, no entanto, que pode impactar bastante o “apetite” de investimento do produtor é a queda do dólar.  “Se a rentabilidade cair, o agricultor fica menos propenso a comprar máquinas.”

O que também pode mudar os humores do mercado é o Plano Safra, que será divulgado pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina nesta terça-feira (22/6). Estevão aposta em um volume de R$ 11 bilhões para Moderfrota e Pronaf Investimento, diante de uma demanda de R$ 60 bilhões.

“É pouco dinheiro. Como os recursos dessas linhas no atual Plano Safra terminaram muito cedo, os produtores recorreram a financiamentos de fora, como os do Banco do Brasil e os da linha BNDES Crédito Rural, que ofereceram juros baixos, mas em 2022 os recursos subsidiados também devem acabar logo e não deve ter dinheiro barato para financiar a produção rural.”

saiba mais

Indústria de máquinas agrícolas deve crescer 20% em 2021, diz Abimaq

 

Lopes também aposta em um Plano Safra com recursos limitados, mas vê uma maior participação dos financiadores privados, como o Banco John Deere, que é um dos maiores repassadores das verbas do Moderfrota, mas, desde novembro do ano passado, passou a operar também com funding próprio.

No Brasil, o banco tem uma carteira de R$ 8 bilhões e, do total de máquinas agrícolas e de construção financiadas, cerca de dois terços são por recursos do BNDES e o restante por recursos próprios e de outros bancos.

Estevão acrescenta que o mercado está acostumado a episódios de preço das commodities em alta, demanda por máquinas lá em cima e, na sequência, uma grande ressaca, com quedas de 30% a 40% nas vendas. “Estou há 45 anos no ramo e já vi sete episódios assim. O fato é que a demanda por máquinas é inelástica porque o produtor não vai renovar a frota todos os anos.”

saiba mais

Receita do setor de máquinas cresce 72,2% em abril, mas preço do aço preocupa

 

 

Usados em alta

 

E não é apenas o setor de máquinas novas que vem “surfando nessa onda” positiva. Marcelo Pinheiro, diretor técnico da MaisAtivo, empresa do Grupo Superbid Markeplace, plataforma de leilões, diz que a empresa registrou elevação de 36,8% nas vendas de equipamentos usados do segmento em 2020, na comparação com o ano anterior, com maior pico de ofertas no último trimestre.

O comércio de colheitadeiras e colhedoras, por exemplo, teve elevação média de 57% e o de implementos agrícolas, 39%. Foram comercializadas 2.500 máquinas entre tratores, colheitadeiras e pulverizadores no ano passado, com tíquete médio de R$ 20 mil a R$ 450 mil. Nos primeiros meses deste ano, o aumento de vendas do setor, que representa 10% do volume de transações da plataforma, foi de 20,3%.

Pinheiro elenca três fatores que contribuíram para o aumento dos negócios da Superbid: o atraso nas entregas de equipamentos novos devido à falta de peças, o aumento acentuado de preços das máquinas zero e a queda de idade do maquinário que está chegando para os leilões.

saiba mais

Compra de máquinas agrícolas usadas ganha espaço entre agricultores brasileiros

 

“Há dez anos, as máquinas agrícolas que chegavam para venda tinham mais de 15 anos, eram sucateadas e precisavam de ajustes para funcionar. A partir de 2018, começamos a trabalhar com máquinas de 10 anos. No ano passado, em plena pandemia, os modelos ofertados passaram a ser bem mais novos, de 5 a 10 anos, prontos para operar", afirma.

Colheitadeiras, tratores e implementos que entram no leilão vêm de clientes corporativos, como grandes empresas, usinas e cooperativas que ofertam os bens na renovação de suas frotas. A plataforma oferece o suporte comercial às empresas, faz avaliação e estruturação do valor antes de enviar o produto para o marketplace, onde fica de 15 a 20 dias recebendo ofertas.

Leia mais notícias sobre Empresas e Negócios

Segundo o diretor, o preço final do equipamento vai depender da demanda. Ele conta que, em 11 de junho, foi vendido um pulverizador da Jacto de 10 anos por R$ 294 mil, preço bem acima do valor de mercado. Os pagamentos são à vista e as máquinas não têm garantia.

“O produtor leva em conta a credibilidade do vendedor, a necessidade da máquina em pronta entrega e a logística necessária para recolher o bem.” A maioria dos lances vêm de produtores que estão num raio de 1.000 km da oferta, mas Pinheiro diz que não é raro ter compradores de Estados bem mais distantes.

A volta da normalidade na cadeia de suprimentos de peças para as indústrias não é fator de estresse para a Superbid. Ao contrário, diz Pinheiro. “Hoje, estou com estoque represado de máquinas usadas nos meus clientes porque as novas que eles encomendaram atrasaram. Com a normalização, devo ter mais ofertas.”

saiba mais

Busca por customização de máquinas agrícolas tem crescido entre as mulheres

 

Há 21 anos no mercado brasileiro, a Superbid expandiu sua atuação para Argentina, Chile, Peru e Colômbia. Os setores agrícolas que mais usam a plataforma são os de grãos, cana-de-açúcar e cítros.

O Grupo MF Rural, que faz a negociação de máquinas usadas entre o comprador e o vendedor, também festeja o aumento de vendas em sua plataforma de marketplace dedicada ao produtor rural.

Em volume, segundo o CEO, Rafael Fabrizzi Lucas, as vendas de tratores, máquinas, caminhões e implementos passaram de 560 unidades entre janeiro e maio de 2020 para 800 este ano, aumento de 42,9%. O valor de venda subiu de R$ 32,3 milhões para R$ 62,2 milhões (92%) e o tíquete médio passou de R$ 57,7 mil para R$ 77,8 mil.

saiba mais

Locação de máquinas agrícolas vem crescendo no Brasil

 

 
Source: Rural

Leave a Reply