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As mudanças nas normas de importação de milho transgênico dos EUA feitas pela CTNBio na quinta-feira (17/6), atendendo a pedidos da indústria de proteína animal, que sofre com o aumento expressivo nos custos de produção desde o ano passado, não será suficiente para reverter a trajetória ascendente das cotações do grão no mercado interno.

A medida, apontam analistas, é importante porque elimina o risco de faltar insumo para o setor, que deve enfrentar condições de mercado cada vez mais difíceis pela frente.

Grãos de milho sendo descarregados (Foto: REUTERS/Jason Reed/File Photo)

 

“Os spreads [diferença entre preço do frango vivo e custo de produção] estão negativos há bastante tempo para frango, mas o milho barato estocado acabou. Ou seja, o cenário preocupante vem de um longo prazo, mas a dor vai ser cada vez mais sentida se a gente não tiver uma mudança nessa relação preço-custo”, resumiu Guilherme Pessini, superintendente de agronegócios do Itaú, durante apresentação da visão da instituição para o mercado agro nos próximos meses.

No caso do milho, a perspectiva é de preços altos até 2022, quando deverá caminhar para uma acomodação acima da média histórica dos últimos cinco anos.

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“Acho que a gente tem uma mudança estrutural desse mercado. No Brasil, além do crescimento da indústria de proteína animal, tem também aumento da demanda para produção de etanol, que talvez não cresça na velocidade que se esperava, mas vai crescer. E temos um mercado internacional hoje que não existia antes”, explicou Guilherme Bellotti, gerente de consultoria agro do Itaú ao mencionar o expressivo e repentino aumento da demanda chinesa no último ano.

Com isso, a avaliação do banco é de que a liberação das importações de milho transgênico dos EUA ajude a reduzir a preocupação do setor com uma possível descontinuidade na oferta do grão, mas com impacto limitado nos preços praticados no mercado interno.

Nos parece que o efeito que a China teve lá trás no mercado de soja poderá ter agora no milho, jogando os preços de equilíbrio para cima

Guilherme Bellotti, gerente de consultoria agro do Itaú

Segundo a consultoria Safras & Mercado, enquanto o milho argentino tem saído por cerca de R$ 97 a saca de 60 quilos para a indústria, o grão americano é cotado a R$ 107.

“A única coisa que muda é que a porta dos EUA está aberta e o receio em comprar milho desta origem e ter o navio embargado aqui acabou. Agora é matemática. Na prática do dia a dia, nada muda devido ao custo”, explica Paulo Molinari, consultor sênior da consultoria.

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Transgenia

Na prática, o Brasil já importava milho transgênico dos EUA, mas apenas as cultivares já autorizadas a serem usadas no país. Othon Abrahão, diretor de biotecnologia da CroplifeBrasil, entidade representativa do setor de biotecnologia no país, explica que o governo brasileiro tem buscado facilitar a importação de variedades não aprovadas no Brasil desde o ano passado, quando os preços do milho começaram a bater sucessivos recordes.

“Nós analisamos a lista dos grãos aprovados e produzidos nos EUA e comparamos com a nossa lista de aprovados para consumo no Brasil. Identificamos que havia dois eventos geneticamente modificados que não eram aprovados para consumo aqui no país”, lembra Abrahão.

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As duas cultivares já haviam recebido sinal verde para a importação, a última delas na semana passada. A resolução normativa publicada na quinta (17/6), contudo, mudou um entendimento anterior do órgão regulador, passando a considerar como aprovado os grãos que possuam a transgenia combinada caso as duas tecnologias já tenham sido liberadas isoladamente no país.

“O que muda é que, para consumo humano e animal, se esse produtos chegarem aqui misturados no silo, navio, cargas de caminhão ou vierem como produtos combinados, desde que os eventos estejam aprovados no Brasil, eles podem entrar”, explica o diretor de biotecnologia da CroplifeBrasil ao ressaltar que as variedades foram autorizadas apenas para consumo, sendo vedado o plantio.

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“Não há interesse para plantar o milho porque as características dele só servem para proteger de pragas que atacam nos EUA e, justamente por isso, ele não estava aprovado aqui ainda. Por o Brasil, tradicionalmente, não é um país que importa milho, mas sim exporta”, lembra Abrahão.

O milho americano aprovado apenas para consumo no Brasil foi modificado para adquirir resistência a algumas lagartas de borboletas, mariposas e besouros. “Não temos problemas de larvas de besouros no Brasil, então nunca houve interesse de plantá-lo aqui”, explica.

Otimismo

Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) comemorou a mudança. Segundo a entidade, a medida reduz o desequilíbrio que existia entre a fácil exportação de grãos brasileiros e a difícil importação para território nacional.

“Espera-se que a especulação que causou aumentos injustificados no Brasil (com impacto na inflação dos alimentos) arrefeça gradativamente”.

Essa acomodação, contudo, depende de um aumento pouco provável na oferta no mercado nacional e internacional. A previsão do Itaú é de que, mesmo com um aumento de 5% na área plantada e de 2% na produtividade na safra de verão 2021/2022, a produção deva ficar 22,3% abaixo da demanda.

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“Independentemente da ótica que olhamos, há um cenário de sustentação para os preços de milho. É por isso que temos a visão de que os preços seguirão firmes aqui no Brasil. Pode ter algum recuo em relação aos patamares atuais, mas o espaço para quedas significativas é limitado”, completa Belloti.
Source: Rural

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