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As cooperativas agropecuárias que apostaram em industrialização para agregar valor à produção de cooperados têm faturado alto mesmo com a instabilidade econômica trazida desde o ano passado pela pandemia de Covid-19.

O fortalecimento da veia industrial das cooperativas, de acordo com especialistas do setor, é uma tendência que deve ganhar cada vez mais espaço no sistema cooperativo por diversificar as fontes de renda e, claro, garantir bons resultados.

Colheita de grãos de soja (Foto: Reuters/Ueslei Marcelino)

 

No Brasil, o setor agropecuário tem hoje 1.223 cooperativas, com mais de 992 mil cooperados e 207 mil empregos, segundo os dados mais recentes do Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). Conforme a Aliança Cooperativa Internacional, mais de 10% das 300 maiores cooperativas do mundo, hoje, são do ramo agropecuário.

Em 2019, antes da pandemia, a aplicação dos recursos pelas cooperativas agropecuárias somou R$ 23,76 bilhões, apontam dados do Banco Central do Brasil e do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (SICOR). Deste total, R$ 10,19 bilhões – 43% – foram aplicados em operações de industrialização.

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No Rio Grande do Sul, nem mesmo a quebra de safra em 2020 fez balançar a solidez das cooperativas. "Na safra 2019/2020, a safra de soja quebrou 47% no RS, e mesmo assim, nós tivemos resultados importantes. Somos muito mais simpáticos a esse modelo, onde as cooperativas singulares cumprem o papel de fornecer matéria-prima e dar assistência para os seus produtores e a central industrializa e comercializa agregando valor”, afirma Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro).

Nós tivemos um crescimento bem expressivo nas cooperativas industrializadas no ano passado, mesmo enfrentando a pandemia e a frustração da safra que ocorreu no Rio Grande do Sul

Paulo Pires, presidente da Fecoagro

 

 

Ana Helena Andrade, diretora da AGCO, destaca a força do processo de industrialização, tanto para os pequenos quanto para os grandes cooperados.

"O mais interessante é que você pode ter cooperativas grandes que têm possibilidade de montar indústrias alimentícias de grande porte, mas também é um processo que pode ser feito em pequena escala, como cooperativas de pequenos produtores que trabalham com produtos de nicho. Em vez de vender a fruta, vende a geleia ou o doce. É uma prática que pode ser replicada em diferentes níveis", observa.

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João Prieto, coordenador do ramo agropecuário na OCB, ressalta a relevância do segmento agroindustrial para as cooperativas agropecuárias.

“Se considerarmos as maiores cooperativas do país, praticamente todas possuem em sua estrutura de negócios algum grau de industrialização, que variam desde misturadores e formulações de fertilizantes, fábricas de rações, esmagadoras para óleos vegetais, torrefações, processadores e beneficiadoras de hortifrutigranjeiros, até modernas plantas agroindustriais frigoríficas e laticínios”, ressalta.

Apesar de o Centro-Sul ainda permanecer com características de alto investimento no eixo agroindustrial, existe uma tendência de expansão para as demais regiões do Brasil

João Prieto, coordenador do ramo agropecuário na OCB

 

Hoje, os complexos agroindustriais cooperativos estão concentrados na região Centro-Sul do Brasil. De acordo com Prieto, dos 207,2 mil empregos diretos gerados pelas cooperativas agropecuárias, 78,3% estão localizados nos três Estados do Sul, o que reforça a regionalização dessa alta demanda por mão de obra por parte desse tipo de empreendimento.

“Apesar de o Centro-Sul ainda permanecer com características de alto investimento no eixo agroindustrial, existe uma tendência de expansão para as demais regiões do Brasil. Esse processo se dará de forma mais efetiva com uma cada vez maior profissionalização e aprimoramento da gestão dessas cooperativas, assim como por meio da necessidade de amparo a esse tipo de empreendimento através de políticas públicas”, afirma o coordenador.

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Nesse contexto, a perspectiva é de que as cooperativas agropecuárias brasileiras invistam cada vez mais na industrialização da produção de seus cooperados. Mas, para que isso se concretize, o setor entende ser necessário uma política nacional de crédito rural fortalecida.

"Precisa ser condizente com a realidade e necessidade do setor, possibilitando que essas cooperativas tenham previsibilidade no financiamento de tais investimentos, que trarão benefícios principalmente à pequenos e médios produtores rurais cooperados”, salienta Prieto.

Só no Paraná, foram investidos R$ 22 bilhões em agroindústrias nos últimos 10 anos

Flávio Turra, gerente de desenvolvimento técnico do Sistema Ocepar

Salto no Paraná

O Paraná está entre os Estados brasileiros com a maior quantidade de cooperativas que exportam e importam de forma direta, apontam dados da OCB.

"Só no Paraná, foram investidos R$ 22 bilhões em agroindústrias nos últimos 10 anos. Hoje, temos mais de 120 agroindústrias de cooperativas no Estado, e 48% do faturamento das cooperativas agropecuárias vêm de processos de agroindustrialização", afirma Flávio Turra, gerente de desenvolvimento técnico do Sistema Ocepar.

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Seung Hyun Lee, diretor executivo da Castrolanda e diretor da Unium, holding paranaense de intercooperação entre Frísia, Castrolanda e Capal, enxerga as cooperativas no Brasil em um nível de profissionalização equivalente ao de muitas grandes empresas.

“Muitos estudiosos comentam que, para ganhar mais produtividade no futuro, as empresas precisam colaborar dentro da cadeia. As empresas precisarão aprender a fazer isto, mas as cooperativas já nasceram assim, colaborando com cooperados e entre cooperativas”, afirma.

A Unium fechou 2020 com faturamento de R$ 211 milhões no ramo de trigo, resultado 31% maior que no ano anterior, mesmo durante a pandemia. A produção de leite da marca também cresceu. Segundo a empresa, o volume subiu de 3,21%, chegando a quase 1,3 bilhão de litros e um faturamento aproximado de R$ 2,4 bilhões – 26% acima do de 2019.

Sede da Unium, holding paranaense de intercooperação entre Frísia, Castrolanda e Capal (Foto: Divulgação)

 

Lee acredita que há uma tendência de crescimento em todo o setor agrícola e de alimentos. Para continuar crescendo, o executivo vê como fundamental o trabalho em longo prazo.

“Ainda tem muito espaço para aumento no consumo de carne global, inclusive no Brasil. A maior preocupação com sustentabilidade e estilo de vida mais saudável pode provocar uma migração de um tipo de carne para outro, até por proteína vegetal, mas o mercado como um todo deve crescer”, projeta.

Além disso, o diretor afirma que a população e a renda per capita vão crescer, aumentando a demanda por alimentos no mundo. “Olhando a longo prazo, acredito que todos os setores têm potencial de crescimento. Não existe um mais promissor que outro. Todos são importantes e ajudam na diversificação da cooperativa e dos cooperados”, finaliza.

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Source: Rural

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