Em um programa de manejo integrado de pragas (MIP), em qualquer cultura, o controle biológico é uma das principais ferramentas para manter as pragas abaixo do nível de dano econômico. Os inimigos naturais (predadores, parasitoides e entomopatógenos) podem ser considerados o alicerce do MIP, pois são os responsáveis pelo equilíbrio natural do agroecossistema.
São também um dos pilares do programa, uma das mais importantes técnicas para reduzir a população dos insetos considerados pragas, podendo, inclusive, ser utilizados em programas de controle biológico aplicado.
Apesar da dependência das ferramentas químicas para o controle de pragas, com grande número de aplicações em diversas culturas, há uma tendência para a utilização de ferramentas não-químicas, tais como controle biológico, comportamental, cultural, físico e variedades resistentes na busca da sustentabilidade da produção agrícola.
Nesse sentido, o controle biológico tem uma grande importância e relevância, que fica evidente no aumento da taxa anual de sua utilização.
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Aqueles organismos responsáveis pelo combate de pragas no agroecossistema estão naturalmente presentes no ambiente, sem necessariamente estarem associados a um programa de controle biológico com liberações sistemáticas, exercendo seu papel como controlador das pragas e contribuindo para a manutenção do equilíbrio biológico, evitando a ressurgência da praga-alvo de controle, os surtos de pragas secundárias e retardando ou evitando o processo de seleção de populações resistentes aos produtos fitossanitários.
Ressalta-se que essas perturbações no agroecosssistema ou efeitos colaterais são provocadas pelo próprio homem e podem e devem ser evitadas.
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Dada a importância desses inimigos naturais, a sua conservação no agroecossistema é de extrema importância. Para isso, o uso de produtos fitossanitários seletivos, aqueles que controlam as pragas e não influenciam os inimigos naturais, deve ser incentivado e estudos devem ser realizados para determinar o impacto dos produtos sobre os diferentes inimigos naturais, inclusive aqueles utilizados em programas de controle biológico.
Além disso, é essencial realizar o manejo de plantas espontâneas dentro e no entorno das áreas cultivadas, que fornecem recursos aos predadores e parasitoides, promovendo o controle biológico das pragas.
No Brasil, os macrobiológicos representam aproximadamente 18% dos produtos biológicos registrados. Vários são os exemplos de controle biológico aplicado com sucesso
Pedro Takao Yamamoto, professor do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq/USP e pesquisador do SPARCBio
Além do controle biológico natural, os macrobiológicos, parasitoides e predadores podem ser utilizados em programas de controle biológico aplicado, com a criação massal e posterior liberação em lavouras em pequenas ou grandes propriedades.
A ferramenta biológica para o manejo de pragas agrícolas vem crescendo consideravelmente no mundo. No Brasil, os macrobiológicos representam aproximadamente 18% dos produtos biológicos registrados. Vários são os exemplos de controle biológico aplicado com sucesso.
O mais exitoso é o caso do parasitoide de ovos Trichogramma pretisoum, que é empregado em vários países para diversas culturas e diferentes alvos. No Brasil é utilizado em hortaliças, em grandes lavouras, em frutíferas, dentre outras. Em cana-de-açúcar, são vários os programas de controle biológico aplicado com o uso de micro e macrobiológicos, destacando-se programas com o uso dos parasitoides Cotesia flavipes e Trichogramma galloi.
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Em culturas plantadas em estufas e em ambientes abertos podem ser utilizados ácaros predadores, tais como Neoseiulus californicus, Phytoseiulus macropilis, Amblyseius tamaravensis e Stratiolaelaps scimitus, para o controle dos seguintes ácaros-praga: fungus gnats, tripes e mosca-branca.
Outro exemplo é o parasitoide Tamarixia radiata, usado para o controle do psilídeo Diaphorina citri – inseto vetor da bactéria que causa o greening, a pior doença da citricultura na atualidade – e criado, inclusive, pelas unidades de produção, assim como ocorre com C. flavipes.
Em suma, são vários os produtos comerciais à base de agentes de controle biológico que devem ser incorporados aos programas de MIP.
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Esses agentes devem ser empregados de forma integrada com outras táticas de manejo, o que inclui o método químico, levando-se em consideração sua seletividade tanto aos inimigos naturais utilizados em programas de controle biológico aplicado quanto aqueles de ocorrência natural nos agroecossistemas.
* Pedro Takao Yamamoto é professor do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq/USP e pesquisador do SPARCBio, sigla em inglês para Centro de Pesquisa Avançada em Controle Biológico de São Paulo.
As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.
Source: Rural