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O mundo passa por transformações. Questões ambientais engavetadas nos últimos anos voltam agora à tona pressionadas pelo novo governo de Joe Biden, que recoloca o tema como destaque na agenda global. Nesse cenário, o Brasil deve harmonizar sua competência produtiva – e sua determinação em alimentar o mundo – com a conservação de nossos ativos ambientais.

Os produtores rurais brasileiros, que juntam os dois lados dessa moeda, saem na frente. Fazendas que produzem carne, soja, milho, cana-de-açúcar e eucalipto, por exemplo, e que também mantém a natureza conservada em parte da propriedade, tornam-se também produtoras de serviços ambientais.

 

Essa é a nova commodity do século 21, a ser absorvida pelo setor para comercialização no mercado mundial. Manter um sistema produtivo carbono neutro ou negativo gera créditos de carbono, que podem ser vendidos para asiáticos, europeus ou americanos. Conservar além do que determina a lei tem valor ainda maior, por gerar adicionalidade importante para o clima. São novas fontes de renda que precisam entrar na rotina do setor rural.

Um país que detém boa parte de seu território destinado à conservação de biomas riquíssimos em biodiversidade, estoques de carbono nativo, conservação de nascentes e aquíferos e tantos outros benefícios ao mundo deveria ser reconhecido e remunerado pelo papel que têm na mitigação de mudanças climáticas.

Essa biodiversidade está trabalhando, regulando o clima e prestando serviços essenciais para a sobrevivência de toda a vida no globo, e ainda pode abrir outros caminhos para exploração sustentável, como fármacos e produtos da bioeconomia.

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A remuneração pela conservação pode ajudar o produtor rural brasileiro que segue a legislação ambiental e também vai além dela. Cercas, aceiros, segurança contra invasores e madeireiros, criação de arcabouço técnico-jurídico, absorção de perdas com javalis e outros animais nas lavouras, pressão das onças sobre os bezerros são exemplos de custos necessários no cuidado da biodiversidade.

A renda vinda do pagamento pelos serviços ambientais pode cobrir parte desses custos de conservação e ainda gerar lucro e estimular novas ações como a criação de corredores ecológicos para que a biodiversidade circule tanto na área de vegetação nativa quanto nas áreas produtivas.

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Com a possibilidade de transformar essas boas práticas em mercado, muitas outras podem e devem seguir esse caminho. Uma nova fonte de recursos com a biodiversidade poderia ajudar a fomentar a intensificação produtiva das culturas tradicionais e da pecuária, sempre carente de investimentos.

Contudo, o ganho com a preservação florestal em terras privadas depende de segurança institucional e combate à ilegalidade nas áreas públicas. Enquanto houver grilagem, trapaças, especulação imobiliária sobre a floresta, queimadas criminosas e desmatamentos seguidos de exploração de madeira em terras públicas destinadas à conservação não avançaremos nas agendas necessárias para melhorarmos nossa imagem mundialmente.

É preciso separar com clareza os que têm direito a terra daqueles que invadiram áreas ilegalmente. Assim, teríamos segurança jurídica, tornando atraente para os mercados mundiais nos apoiarem

André Guimarães e Caio Penido

 

Enquanto houver ocupação indevida de áreas públicas, o Brasil ficará exposto às críticas pelo desmatamento ilegal. Por isso, o apoio a iniciativas como a campanha Seja Legal com a Amazônia são fundamentais, para que medidas contundentes interrompam o ciclo de roubo das terras públicas brasileiras.

É preciso separar com clareza os que têm direito a terra daqueles que invadiram áreas ilegalmente. Assim, teríamos segurança jurídica, tornando atraente para os mercados mundiais nos apoiarem na busca de soluções para estimular a conservação no país que possui a maior biodiversidade do planeta, o Brasil.

Esse deve ser nosso foco na próxima Conferência do Clima da ONU, a COP 26, que deve acontecer no fim do ano. É essencial focarmos em uma agenda comum capaz de unir produtores e ambientalistas.

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Somos um país plural, uma potência que alimenta parte significativa do mundo e que precisa ser reconhecida por isso. Para atingir todo nosso potencial, precisamos de cumprimento das leis, de harmonia, de respeito àqueles que cumprem as regras do jogo e que ajudam o país. Só assim, afinal, o jogo passará a ser jogado a nosso favor.

*André Guimarães é diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)

*Caio Penido é presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS)

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.

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Source: Rural

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