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O impacto da urbanização na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) entre 1985 e 2019 reduziu a oferta de água em 17 mil litros por segundo, volume equivalente para abastecimento de 4 milhões de residências por ano.

Esta é uma das conclusões do estudo do Instituto Escolhas em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, ao qual a Revista Globo Rural teve acesso com exclusividade.

Para que serviços ecossistêmicos ganhem escala na Região Metropolitana de São Paulo, o estudo indica que a solução é a expansão da agricultura, principalmente produções em sistemas agroflorestais e sem agrotóxico. Na foto, a Fazenda Sta. Julieta Bio é um exemplo de produção de hortaliças orgânicas no Estado (Foto: Divulgação)

 

O levantamento intitulado "Além dos alimentos: a contribuição da agricultura urbana para o bem-estar na metrópole de São Paulo" chama a atenção para a época de estiagem.

A vazão da Bacia do Alto Tietê, que abastece a RMSP, neste período, atende apenas 50% dos 21,6 milhões de habitantes da metrópole. Por isso, segundo Jaquelini Ferreira, gerente de projetos e produtos do Instituto Escolhas, “as perspectivas não são positivas”, já que os reservatórios estão com níveis muito baixos, devido à menor precipitação, e o período seco está apenas começando.

 

Urbanização e desmatamento são fatores preponderantes para este reflexo nos recursos hídricos. “Esse crescimento urbano horizontal impacta, porque as áreas verdes diminuem e com isso a proteção de mananciais, a regulação do ciclo hídrico ficam impactados”, diz.

Se o crescimento urbano se mantiver nos moldes atuais, segundo o estudo, o consumo de água aumentará mais 2,5 mil litros por segundo até 2030, diferença que seria suficiente para abastecer cerca de 600 mil residências por ano.

Além disso, Jaquelini afirma que a expansão populacional agrava a disputa pela água e aumenta a dependência por outras bacias hidrográficas, refletindo na gestão hídrica de outras regiões e estados.

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De acordo com o estudo, baseado em dados da ferramenta Mapbiomas, entre 1985 e 2019 a área urbanizada passou de 18% para 26% do território, o que equivale a um aumento de 57 mil hectares. Enquanto isso, a área agricultável na RMSP decresceu de 28% para 22% no mesmo período.

A área construída da metrópole paulista aumentou 57 mil hectares entre os anos indicados. Reflexo disso foi a redução da capacidade de infiltração da água no solo em 14 milhões de metros cúbicos.

“Simulação para 2030, considerando o atual ritmo de expansão da área urbana da metrópole, indica perda geral da capacidade de infiltração de mais 3 milhões de m³ de água em relação a 2019. A manutenção das áreas florestais e ampliação das áreas de produção agrícola sustentável possibilitaria a infiltração de cerca de 1,2 milhões de m³ de água a mais, em relação aos níveis de 2019”, indica o levantamento do Instituto Escolhas.

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Alternativas futuras

Mais do que concreto, a RMSP ainda tem 45% do território ocupado por vegetação nativa, concentrando a produção de serviços ecossistêmicos, como provisão de água e alimentos, mitigação de inundações e calor e ainda a regulação da erosão do solo.

É uma solução baseada na natureza, que provém bem-estar, geração de renda e, se manejada de forma sustentável, pode promover cidades ambientalmente sustentáveis

Jaquelini Ferreira, gerente de projetos e produtos do Instituto Escolhas

Para que estes serviços ganhem escala, o estudo indica que a solução é a expansão da agricultura. ”Se manejado de forma a reduzir o revolvimento do solo ou se possuir árvores associadas ao plantio, um cultivo pode favorecer e facilitar a ocorrência de serviços, tais como o controle de erosão, o conforto térmico e o sequestro de carbono”, informa trecho do documento.

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Neste sentido, Jaquelini esclarece que o estudo se refere a formas sustentáveis de produção agrícola, como o manejo sem agrotóxicos e o sistema de agrofloresta.  “A agricultura que estamos falando considera práticas sustentáveis de manejo do solo. Dentro da metrópole, fica complicado falar em agricultura que não seja sustentável. Por exemplo, não é possível usar insumos químicos, porque isso compromete a qualidade das águas e é despejado no esgoto da região”, diz.

Ao simular um cenário futuro, o estudo considera o crescimento da produção orgânica e sistemas agroflorestais nas áreas urbanas e periurbanas. No entanto, observa-se um aumento ainda maior do consumo de água, que corresponde à soma da expansão urbana e da irrigação, uma elevação equivalente a 2,7 mil litros de água por segundo.

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“O impacto negativo da agricultura na provisão de água, entretanto, precisa ser relativizado diante das limitações da modelagem utilizada, uma vez que esta não considera as sazonalidades do regime, a recarga de águas subterrâneas ou a ciclagem das chuvas (após a exportação de umidade para a atmosfera). É importante destacar que 70% dos estabelecimentos agrícolas da RMSP utilizam fontes de água subterrânea para a produção de alimentos”, pondera o estudo.

Jaquelini adiciona que a agricultura urbana é uma alternativa de alimentos frescos e saudáveis para a população e economia locais, “podendo gerar cerca de 180 mil empregos”.  “É uma solução baseada na natureza, que provém bem-estar, geração de renda e, se manejada de forma sustentável, pode promover cidades ambientalmente sustentáveis”, reforça.

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Source: Rural

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