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O agronegócio é sempre louvado como o grande motor da balança comercial brasileira. Em 2020, um ano de muitas perdas causadas pela pandemia do coronavírus, o agro foi o único dos três grandes setores da economia a apresentar crescimento no país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a agropecuária aumentou a sua participação no PIB brasileiro para 6,8% no ano passado.

Com isso, os impactos ambientais do agronegócio têm motivado os empreendedores a se engajar na promoção de modelos alternativos para o trabalho no campo. A ocupação e o uso da terra de maneira tradicional, principalmente com a monocultura, resultam em fragmentação de habitat, empobrecimento do solo e desequilíbrio ecológico, desencadeando diversos danos ao meio ambiente.

 

Em nosso ponto de vista, o sistema agroflorestal (SAF) pode resolver esses principais dilemas do setor, como as mudanças climáticas e o uso de insumos químicos que, se não utilizados de maneira racional, podem levar à degradação do solo.

Ao contrário da monocultura, em que o foco é a produção de um único item, a Agrofloresta trabalha com o policultivo: de uma só unidade produtiva é possível retirar uma grande diversidade de produtos. As árvores, por exemplo, são fontes de produtos madeireiros, como madeira serrada, lenha, carvão e celulose, e de produtos não madeireiros, como frutos, castanhas, forragem, látex, fibras, óleos, resinas, entre muitos outros.

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Inserir árvores no sistema produtivo traz diversos benefícios ambientais. Um solo mais fértil e saudável produzirá plantas saudáveis, com alta densidade nutricional e resistência a pragas e doenças. O grande desafio é fazer com que esses sistemas também sejam economicamente viáveis em escala — com preço justo, trabalho inclusivo e um produto final de qualidade.

Felizmente, as oportunidades que os avanços científicos e a compreensão holística da paisagem nos trazem possibilitam equalizar a ecologia e a agricultura, maximizando as possibilidades produtivas do planeta. Em outras palavras, com as agroflorestas podemos produzir alimentos e regenerar ecossistemas, sem separar a conservação da produção agrícola, da produtividade e do lucro.

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Os sistemas agroflorestais constroem campos produtivos tridimensionais, replicando as dinâmicas e disposições naturais no tempo e no espaço, utilizando a lógica da estratificação e da sucessão.

Ou seja, consideramos as possibilidades de produção em estratos (andares), maximizando a área produtiva, a taxa fotossintética, a conservação da fertilidade do solo, a retenção de água, a redução do uso de insumos químicos e, consequentemente, aumentamos a produção. De forma bastante simples, significa trazer árvores para dentro dos sistemas produtivos ou levar a agricultura para dentro das florestas.

A criação de uma agricultura e pecuária sustentável e regenerativa, em seus diferentes escopos, é uma necessidade global e uma oportunidade de mercado para o agricultor e o pecuarista

Paula Costa e Valter Ziantoni

A natureza desenvolveu essa lógica e diversidade por milhões de anos e precisamos usar toda essa inteligência a nosso favor. Quando deixamos para trás uma agricultura monoculturista e convencional, na qual o solo é visto apenas como substrato de suporte, e abrimos espaço para a policultura e para a biodiversidade, enxergando que os insumos podem dar lugar aos processos de produção e manejo, conseguimos transformar o campo em um local rico em serviços ambientais e ecossistêmicos, como proteção do solo, conservação da água, manutenção do microclima, atração de polinizadores e fixação de carbono.

Aumentando a diversidade de espécies e o consórcio com plantas perenes, conseguimos fazer com que os sistemas regenerativos sejam mais rentáveis, reduzindo drasticamente o manejo intensivo do solo e o uso de insumos químicos. Dessa forma, criamos paisagens mais ricas, biodiversas e também mais produtivas.

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A criação de uma agricultura e pecuária sustentável e regenerativa, em seus diferentes escopos, é uma necessidade global e uma oportunidade de mercado para o agricultor e o pecuarista brasileiro.

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Arranjos produtivos biodiversos e complexos, como os sistemas agroflorestais, apresentam-se não apenas como mais uma alternativa, mas, sim, como a solução que detém o real potencial de transformar o agronegócio brasileiro em um setor que, além de viável financeiramente, proveja impactos ambientais positivos para a sociedade e para o planeta.

Vamos ser mais do que o celeiro produtivo do mundo: vamos ser a solução para as principais crises que a humanidade enfrenta neste século!

*Paula Costa é engenheira florestal com especialização em Gerenciamento Ambiental pela ESALQ – USP e Bióloga pela UNESP, premiada em 2016 pela Sociedade Brasileira de Silvicultura, fundadora da Pretaterra.

*Valter Ziantoni é engenheiro florestal com especialização em Gerenciamento pela FGV, especialista florestal da UNDP/ONU e mestre em Agrofloresta pela Bangor University, fundador da Pretaterra.

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.
Source: Rural

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