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Um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) revelou a presença de resíduos de agrotóxicos em diversos produtos classificados como ultraprocessados. Ao avaliar 27 produtos consumidos pelos brasileiros, a cartilha ‘Tem veneno nesse pacote’ indica que em 13 deles há a presença de glifosato.

Divididos em oito categorias, entre elas refrigerantes, cereais matinais, salgadinhos, pães e pacotes de biscoitos, os critérios de definição dos produtos, de acordo com o Instituto, consideraram o consumo no Brasil, maiores teores de açúcar, trigo, milho e soja na formulação e o apelo de promoção da saúde.

Confira a lista dos produtos com resíduos de agrotóxicos, segundo o Idec

Capa da cartilha 'Tem veneno nesse pacote', feito pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Foto: Reprodução/Idec)

 

Na publicação, o Idec informa que foi avaliada a presença de agrotóxicos à base de glifosato, gufosinato, diquat e paraquate. E identificados também outros produtos, como Carbendazim, Cipermetrina, Clorpififós, além de butóxido de piperonila, substância que não é considerada um agrotóxico, mas utilizada como ingrediente “ativo potencializador” de princípios ativos.

O Instituto destaca que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não possui uma definição de limites de agrotóxicos para produtos ultraprocessados, mas apenas para alimentos in natura. Por essa razão, as testagens foram feitas em produtos selecionados e seus resultados comparados com os limites estabelecidos pela Agência para cada ingrediente predominante do produto, como soja, milho, trigo ou açúcar.

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O material analisado foi comprado entre março e novembro de 2020 em um supermercado de Campinas (SP). Foram encontrados resíduos em seis das oito categorias de produtos, segundo o estudo. E, em 59,3% dos itens analisados, foi encontrado pelo menos um tipo de agrotóxico. No caso dos produtos à base de trigo, que somam 15 dos listados, essa presença foi detectada em todos.

 

Metodologia

De acordo com Rafael Rioja Arantes, nutricionista-técnico do Idec, especialistas em agrotóxicos foram consultados e as matérias-primas foram consideradas por se referirem às commodities que mais usam os químicos no Brasil.

Sem poder revelar qual o laboratório que realizou as análises, por uma questão de sigilo contratual, Arantes explica que elas foram feitas em etapas que consideram a trituração de parte do produto e o encadeamento de reagentes para detectar se há ou não determinado composto de agrotóxico. 

"Todas as vezes que conduzimos pesquisas, temos processos para dar transparência. Depois de receber os dados brutos e antes da divulgação, todas as empresas foram notificadas para dar ciência dos nossos resultados”, ele esclarece.

As empresas foram notificadas entre novembro de 2020 e janeiro de 2021. Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu a notificação em 21 de maio. “Todas [as empresas] tiveram pelo menos três meses para avaliar e se pronunciar, caso quisessem”, diz.

Questionado se houve algum contato com entidades representantes de soja, milho, trigo ou cana-de-açúcar, Arantes ponderou, a princípio, deveria ser feito pelas empresas responsáveis por esses alimentos ultraprocessados.

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“Neste primeiro momento não procuramos diretamente às associações por entender que, com base nos nossos achados, os contatos deveriam ser feitos com as empresas dos produtos. A aquisição de matérias-primas que cada uma delas faz uso, elas que têm a possibilidade de trazer informações com mais clareza”, conta.

Sistemas alimentares

Na cartilha sobre a pesquisa, o Idec classifica como questionável o argumento de que o processamento dos alimentos eliminaria os resíduos de agrotóxicos. Por isso, a intenção, de acordo com Arantes, é preencher o que chamam de “lacuna” de informação, já que, em sua visão, os consumidores não têm acesso a informações de resíduos de agrotóxicos nos ultraprocessados.

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Além disso, o nutricionista do Idec ressalta que os sistemas alimentares no Brasil não estão sendo bem sucedidos, mencionando aumento da obesidade, dificuldade de acesso à alimentação de qualidade e comprometimento dos recursos naturais com o avanço das mudanças climáticas. “A gente atua diretamente inseridos nos sistemas alimentares, para que os consumidores tenham informações a respeito do que se alimentam”, ele pontua.

Neste sentido, cita que a cartilha também deve servir como ferramenta para questionar a Anvisa sobre o status do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (PARA). O último relatório publicado no Çambito da iniciativa é do período 2017/2018.

“Isso está na ordem da conversa com eles também. Entendemos que é um programa fundamental para dar conhecimento à sociedade”, comenta.“Não temos pretensão de substituir o papel da Anvisa, pois confiamos na instituição, mas é preciso fortalecer o que já existe, no caso do PARA, e ampliar trazendo essa nova categoria de produtos [ultraprocessados], que atualmente não são contemplados, mas deveriam ser monitorados pela Anvisa”, conclui.

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O outro lado

Procurada pela Globo Rural, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária não respondeu aos qustionamentos até a conclusão da reportagem. Já a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) preferiu não comentar o assunto.

A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) informou não ter tido acesso ao estudo na íntegra, "apenas a uma cartilha que não entra em detalhes sobre a metodologia e os resultados das análises".

De acordo com a entidade, "não existe alimento produzido pela indústria que não possa ser consumido ou que ofereça risco para o consumidor", à medida que as indústrias atuam com responsabilidade e utilizam ingredientes e insumos que tenham sido "exaustivamente" testados e validados pelos órgãos responsáveis, como Anvisa e o Ministério da Agricultura (Mapa), além áreas internas responsáveis pela qualidade e segurança alimentar.

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"Atendemos não somente à legislação sanitária brasileira, como também às de 190 países do mundo para os quais exportamos", informou, em nota, a Abia. 

Entre as empresas que tiveram produtos analisados no levantamento do Idec, a PepsiCo afirma que são utilizadas matérias-primas de origem vegetal compradas de fornecedores que cumprem os requisitos das legislações brasileiras e seguem especificações que atestam a segurança.

“Portanto, resíduos de agrotóxicos eventualmente encontrados nos produtos Torcida e Baconzitos estão dentro dos níveis e parâmetros autorizados pela Anvisa para uso no cultivo dos vegetais, em especial do trigo e, portanto, são seguros para consumo humano”, informou, por meio de nota. 

A Nestlé alega que possuir o Sistema de Gestão de Segurança dos Alimentos em suas fábricas, além de observar o estrito cumprimento da legislação vigente e os cuidados adotados na produção estão em absoluta conformidade com todos os padrões de qualidade externos e internos.

“Nos últimos dois anos, não temos registros de resultados fora dos parâmetros de segurança para as substâncias relacionadas pelo Idec, que já são devidamente contempladas no amplo escopo de monitoramento da empresa nas matérias-primas utilizadas pela Companhia”, respondeu, também por nota.

Source: Rural

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