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O Brasil é o país com maior diversidade biológica do mundo. É o que consta na própria Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada na Cúpula da Terra em 1992, durante evento da Organização das Nações Unidas (ONU).

São quase 104 mil espécies de animais e 43 mil espécies de plantas conhecidas atualmente no país, compreendendo 70% das espécies animais e vegetais catalogadas do mundo. Um feito a celebrar neste sábado (22/5), Dia Internacional da Biodiversidade.

Mas, apesar deste reconhecimento internacional, falta pesquisa sobre a biodiversidade brasileira, em um contexto em que genéticas exóticas recebem mais recursos do que as nativas, avalia Marcio Mazzaro, procurador da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Neste quesito, também estão incluídas variedades alimentícias.

Mandioca e seu uso versátil são exemplos da biodiversidade brasileira. Alimento é espécie nativa e poderia ser mais cultivada, diminuindo o uso de espécies exóticas. Na foto, homem à esquerda passa a mandioca cozida na peneira para transformá-la em farinha (Foto: Dirce Quintino/FAS)

 

Ele conta que o potencial da biodiversidade, atualmente, é explorada com mais ênfase para fármacos e cosméticos. “Teria potencial para isso [alimentação], mas precisa de tempo, dedicação e adaptabilidade”, diz.

De forma resumida, Mazzaro exemplifica que a base da alimentação brasileira é exótica, como arroz, feijão, carne bovina e soja.

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Para mudar este cenário e tornar alimentos brasileiros acessíveis em larga escala, assim como a segurança alimentar mais sustentável, ele explica que seria preciso “domesticar” culturas, como a mandioca. “Para você sair da dependência das espécies exóticas, vai requerer muito tempo para pesquisa. É só olhar a soja, que demorou cerca de 30 anos para ficar adaptada aqui”, cita.

Quando atuava no Ministério da Agricultura, Mazzaro trabalhou em propostas para domesticar a capivara e a ora-pro-nóbis, “que poderiam substituir algumas espécies exóticas”.

“A mesma coisa acontece com o peixe, que temos uma variedade enorme na Amazônia, mas que poderiam ser melhor trabalhados, com melhoramento genético, para que se torne concorrente de espécies exóticas, como o pirarucu que é conhecido como o bacalhau brasileiro. Mas falta incentivo”, ele lamenta.

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É lamentável ter a biodiversidade que temos e não usufruirmos disso

Marcio Mazzaro, procurador da Conab

Atualmente, espécies exóticas já têm escala comercial tão ampla que é difícil se dedicar ao estudo dos recursos nativos.

“É lamentável ter a biodiversidade que temos e não usufruirmos disso. E quando uma universidade quer pesquisar uma variedade nativa há dificuldade por falta de legislação, parte burocrática. Esse excesso de rigor é um desincentivo”, enfatiza.

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Para que sementes nativas cheguem ao mercado, a porta de entrada é a pesquisa agrícola. Neste sentido, Aluana Gonçalves de Abreu, pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, afirma que os bancos de sementes são alternativa para garantir a produção e consequente oferta de alimentos. “Soluções para gargalos à produção, como seca e doenças, são muitas vezes encontradas em bancos de sementes”, comenta.

De acordo com ela, os bancos de sementes são reservatórios de diversidade genética. A partir de buscas neles, é possível identificar sementes com características de interesse, ausentes nas variedades cultivadas.

“Através do melhoramento genético, essa característica é introduzida em outras variedades, que já possuem perfil próximo ao desejado pelo mercado, por exemplo”, explica.

Prevista para acontecer em outubro, a Convenção da ONU sobre Biodiversidade, em Kunming, na China, é um alerta para a importância da conservação e também pode ser palco de discussões sobre como a biodiversidade pode auxiliar na segurança alimentar.

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Source: Rural

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