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Caso seja efetivada, a proposta de redução no prazo de validade da carne de frango congelada praticada pela Arábia Saudita, de um ano para três meses, inviabilizará as exportações brasileiras do produto para o país, segundo maior cliente internacional do Brasil neste mercado.

Com um tempo de viagem de cerca de 45 dias entre a fabricação e a chegada aos portos sauditas, somado a um período de desembaraço das mercadorias de até dez dias, restaria o frango brasileiro menos de um mês de tempo de prateleira.

“É a mesma coisa que você dizer que o Brasil não tem planta nenhuma pra exportar para eles”, resume Ernani Carvalho da Costa Neto, coordenador do núcleo de estudos do agronegócio da ESPM.

Na foto, produção de frango em frigorífico. Para especialistas, medida é um recado claro de que o país árabe quer atrair investidores para produzir carne localmente  (Foto: REUTERS/Paulo Whitaker)

 

A mesma avaliação é feita pelo secretário geral na Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Tamer Mansour. Ele destaca que, com menos de 30 dias de prazo de validade, será difícil algum comerciante do país assumir o risco de manter a carne brasileira em estoque.

“Com um prazo de validade de cerca de menos de um mês, ninguém compra. Certamente é um recado, a meu ver, de que cada dia mais os sauditas querem atrair as indústrias para trabalhar mais perto deles”, aponta Mansour ao destacar que esse um dos objetivos estratégicos traçados pelo país ainda em 2017.

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“Entendo isso como uma questão de negociação econômica e comercial. Existe neste plano a visão de que, se você quiser ser parceiro comercial, é preciso trabalhar em conjunto e trazer a sua indústria para a Arábia Saudita”, destaca o Secretário Geral da CCAB.

No mesmo dia em que propôs a consulta à Organização Mundial do Comércio (OMC) para a redução no prazo de validade do frango congelado, a Arábia Saudita suspendeu 11 plantas brasileiras habilitadas a exportar para o Brasil, excluindo a JBS do mercado local. Já a sua concorrente, BRF, que mantém uma unidade de produção no país, foi poupada.

Para o pesquisador da ESPM, Ernani Carvalho Costa Neto, o Brasil já deveria ter realizado movimentações estratégicas e mercadológicas para se antecipar à redução das importações pela Arábia Saudita. Entre as possíveis saídas, ele destaca a diversificação geográfica dessas exportações e o investimento em parcerias de comércio que envolvessem a cooperação e a produção local, tal como feito pela BRF.

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“Esse comércio baseado em exportação é um comércio do passado. No processo de internacionalização das empresas, esse seria o jardim de infância” afirma Ernani ao ressaltar que o Brasil possui condições suficientes para adotar uma posição de liderança nesse processo. “Não é só a terra e o produto, mas também o que o Brasil conquistou até aqui, que é a vocação para essa produção”, completa o pesquisador.

Segundo o diretor-presidente da BRF no Brasil, Lorival Luz, a companhia ainda não sabe dizer qual o impacto que a medida teria para o comércio com a Arábia Saudita. Ele revela que o setor já está em diálogo com o governo brasileiro para construir um posicionamento.

Procurado, o Ministério da Agricultura afirmou que o assunto está sendo tratado internamente e não deu detalhes sobre quando apresentará essa defesa e nem se está em diálogo com outros países exportadores como França, Ucrânia e Polônia – todos geograficamente mais próximos do país.

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“Após essa discussão a Arábia Saudita pode, sim, fazer seu ajuste e mudar de três pra nove meses, reverter a decisão ou poderá, assim que tomar a decisão, dar um prazo para as empresas de seis meses a um ano para que se adaptem às novas condições”, explicou Lorival Luz ao ressaltar que a mudança altera, também, as operações na Arábia Saudita.

“Isso também impacta a produção local e o food service, as grandes redes. Porque mesmo o produtor local não vende só o frango resfriado. Vende também o congelado e trabalha com seus estoques reguladores para atender a essas cadeias”, pondera o executivo.

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Source: Rural

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