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(Foto: Gabriel Rinaldi / Editora Globo.)

 

A elevada ociosidade dos frigoríficos brasileiros de carne bovina, gerada pela escassez de animais prontos para abate em meio a um mercado interno fraco, pode dificultar a vida dos pecuaristas que ainda têm animais disponíveis.

Com unidades menores fechando as portas, analistas destacam que o atual contexto tende a aumentar a concentração do mercado de carne bovina entre as grandes indústrias exportadoras, reduzindo as opções de venda desses produtores.

“Realmente, essa concentração de mercado preocupa porque, para o pecuarista, isso pode ser nocivo a longo prazo, gerando uma situação que costumamos chamar de oligopsônio, quando há poucos compradores para muitos fornecedores”, aponta o analista da Safras & Mercado, Fernando Iglesias.

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Ele lembra que as perspectivas para 2021 são de um fechamento mais agressivo das indústrias, principalmente as menores e sem acesso ao mercado externo. A previsão da consultoria é de que os preços do boi gordo mantenham-se acima de R$ 300 mesmo no auge da safra, quando a maior oferta normalmente pressiona as cotações da arroba.

“Por mais que haja perspectiva de queda da arroba do boi gordo, o custo ainda é alto para a indústria frigorífica”, pontua o analista.

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O pesquisador do Centro de Inteligência da Carne da Embrapa, Guilherme Cunha Malafaia, ressalta que a dificuldade de negociação dos produtores diante da concentração do mercado é um problema antigo no país e que tem se agravado diante do cenário atual.

De acordo com ele, os mais prejudicados por esse processo acentuado pela pandemia e pelo ciclo de alta da arroba tendem a ser justamente os pecuaristas menores, com maior dificuldade de acesso a novas tecnologias e índices de produtividade dentro ou abaixo da média nacional.

“Logicamente, no momento em que você fica sem opções de venda, acaba tendo que se sujeitar ao preço que o frigorífico daquela praça pode pagar pelo seu produto. Não tem muito para onde correr”, pontua Malafaia.

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Carne mais cara

Diante do cenário de consumo per capita de carne bovina no menor patamar desde 1996, o pesquisador da Embrapa não vê espaço para a indústria repassar esses aumentos no custo da arroba ao consumidor final.

Com isso, o preço médio dos cortes dianteiros, normalmente mais populares, já estão próximo dos valores do traseiro bovino, onde encontram-se carnes nobres, como picanha e o file mignon.

“A gente trabalha hoje com um dianteiro de R$ 18 o quilo em São Paulo contra um traseiro de R$ 20,75 estagnado há um bom tempo. E o preço do traseiro está proibitivo mesmo”, relata Iglesias ao destacar que é justamente nesses cortes mais nobres que a indústria tem registrado maior dificuldade em escoar a sua produção no mercado interno.

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Sem saída para fazer frente à concentração de mercado, Malafaia avalia que o ciclo de alta da arroba num contexto de crise econômica tende a acentuar a exclusão daqueles pecuaristas menos tecnificados, como previu a Embrapa em pesquisa recente na qual traçou as perspectivas para o setor nas próximas duas décadas.

“Esses produtores vão deixar a pecuária justamente por conta disso. Porque é um setor mais concentrado quando comparado com a agricultura, que também tem um giro maior. Então, não é só um fator de escala, mas também de atratividade de negócio. E esse conjunto da obra é que vai fazer com que 50% dos produtores deixem o mercado até 2040”, conclui Malafaia.

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Source: Rural

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