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(Foto: Andrew Harnik/Pool via REUTERS)

 

Marcada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a Cúpula do Clima começa nesta quinta-feira (22/4) cercada de expectativas sobre a posição do Brasil. E um dos pontos-chave do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro deve ser o desmatamento, usualmente relacionado à expansão da agropecuária.

Além disso, os EUA devem anunciar na Cúpula um plano climático próprio com medidas voltadas à sustentabilidade e proteção do planeta – e, naturalmente, esperam o mesmo nível de comprometimento dos seus parceiros comerciais, entre eles o Brasil.

Para o coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista brasileira, deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), Biden e os outros 39 países convidados querem ouvir de Bolsonaro que o desmatamento vai cair, seja o legal ou ilegal, visando a redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera.

“O mundo quer que o Brasil pare com o desmatamento desenfreado. A Amazônia virou terra de ninguém, onde se desmata e depois se corre para pedir regularização fundiária”, comenta Agostinho.

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De acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), divulgados na última segunda-feira (19/4), foram desmatados 810 quilômetros quadrados na Amazônia apenas em março. É o pior índice para o mês na última década.

Nelson Ananias, coordenador de Sustentabilidade da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), diz que a prática de abrir novas áreas no agro é necessária, pois é assim que o produtor vai obter recursos para preservar a extensão prevista em lei.

“Como o proprietário vai conseguir evitar desmatamento, incêndio, manter APP [área de preservação permanente] e nascentes se não tem uma parte da propriedade que gere recursos necessários para que garanta a proteção dessas áreas? Ele, naturalmente, vai abandonar essa área e abrir para alguém vir roubar madeira, grilar”, avalia.

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Ananias também defende que o problema das mudanças do uso do solo é resolvido com tecnologias, como o sistema integração lavoura-pecuária-floresta, inclusive na Amazônia, e  acredita que isso possa ser apresentado como ponto positivo durante a Cúpula do Clima.

“Se você não permite o uso econômico de 20% da propriedade, os outros 80% vão ficar desprotegidos. Então, o desmatamento legal é uma forma de ocupar o solo de maneira consciente e de fazer que a pessoa que ocupa cumpra o Código Florestal”, ressalta.

Recursos estrangeiros

Mas essa perspectiva não é endossada por ambientalistas. Pelo contrário, é isso que faz com o que Brasil esteja “bastante desacreditado” quanto às metas do Acordo de Paris, a exemplo da neutralidade das emissões de GEE em 37% até 2025, avalia o coordenador do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Raoni Rajão.

Ele afirma que relacionar parte das metas a recursos internacionais não é errado, mas não se pode submeter toda a meta à ajuda externa. “O (ministro do Meio Ambiente, Ricardo) Salles não pode falar que só vai reduzir desmatamentos se receber recursos. É obrigação do Brasil estar com o desmatamento em níveis controlados, inclusive porque, se não estiver, atrapalhamos a produção nacional, além de termos compromissos perante o mundo”, diz.

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Rajão lembra que o Brasil foi ambicioso, em comparação a outros países em desenvolvimento, por ter uma meta de descarbonização em absoluto, contando com a redução do desmatamento. Por isso, a lógica é mostrar a proteção ambiental antes e receber o pagamento por reconhecimento depois.

O deputado Sergio Souza (MDB-PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), discorda. A expectativa, para ele, é de que a Cúpula do Clima seja uma oportunidade para que os governos americano e europeus oficializem aportes financeiros e, assim, o agronegócio possa ser mais ambicioso na proteção do meio ambiente.

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“Esperamos que ele [Jair Bolsonaro] leve à Cúpula que nós não somos devastadores de florestas. Temos, sim, problemas e dificuldade no combate ao desmatamento ilegal e, se os governos (estrangeiros) quiserem ajudar, isso é muito bem-vindo”, indica.

O parlamentar diz que a falta de dinheiro para financiar ações afeta todo o país, não apenas as áreas de fiscalização, combate e controle, tornando-se mais um argumento para obter ajuda externa.

“Se o Brasil fornecer esse serviço ecossistêmico ao mundo, precisamos receber para isso. Já que o resto do mundo não fez esta conservação, se querem que o Brasil mantenha a floresta em pé, precisam ajudar”, destaca.

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Para Raoni Rajão, caso o presidente dos EUA, Joe Biden, aceite conceder recursos para viabilizar a proteção ambiental brasileira, o governo federal terá uma responsabilidade ainda maior de prestar contas sobre o uso do dinheiro.

“Se os Estados Unidos pagam, e depois o Brasil não cumpre, os parceiros comerciais vão ter argumentos suficientes para fazer ainda mais sanções”, alerta.
Source: Rural

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