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Cacau em sistema agroflorestal em Tomé-açu (Foto: Reprodução/CAMTA)

 

Em Tomé-Açu, no Nordeste do Pará, uma colônia de japoneses se dedica ao cultivo de dendê há décadas. Filho de agricultor, Cláudio Sugaya viu o pai na lida desde 1986 até que ele próprio começou a atividade em 2007. Ao todo, são 150 hectares de dendê, o suficiente para mudar a forma de a família enxergar o cultivo.

Ao longo de seis hectares, Sugaya investiu no sistema agroflorestal (SAF), em um consórcio que otimiza a área entre o plantio de dendê com cacau, açaí, andiroba, maracujá, mandioca, e outras culturas. O que hoje é ocupado por 600 plantas com trato exclusivamente biológico foi, no passado, pastagem degradada.

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“A diferença é muito grande, principalmente no solo, que suporta mais o tempo de estiagem com a agrofloresta. A presença de animais é superior à monocultura e, automaticamente, isso traz mais defesa natural às pragas”, comenta o produtor.

Ele conta que o SAF Dendê, como é chamado o projeto, produz cerca de 15 toneladas por hectare, enquanto o cultivo convencional tem retorno médio de 20 toneladas. No entanto, a agrofloresta propicia outros ganhos, como a recuperação de áreas degradadas, a expansão e variedade de fontes de renda e a melhora na condição de trabalho.

“A renda com o SAF é acima do sistema convencional e é mais distribuída no decorrer do ano também. O que eu venho percebendo é que o plantio convencional tem uma safra grande no ano e, na entressafra, não se consegue colher. Já com a agrofloresta, é dendê distribuído no ano inteiro”, descreve.

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Como funciona

Os seis hectares de Sugaya fazem parte do projeto fomentado há 12 anos pela Natura e Embrapa que, ao todo, conta com 60 hectares e 18 agricultores da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA).

Após a identificação de uma área degradada, a implantação do SAF considera o dendê consorciado com pimenta, cacau, açaí e árvores, como andiroba, ipê e mogno. Além disso, espécies de ciclo curto também são plantadas no sistema, a exemplo de banana, mandioca e maracujá, e espécies adubadeiras, como ingá e margaridão.

De acordo com Steel Vasconcelos, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, o projeto implementa 140 pantas por hectare com 9 metros de espaçamento entre árvores e 7 metros entre linhas. Estas são intercaladas entre duas de dendê e uma com outras espécies.

"Nessa faixa que não foi plantado o dendê, as linhas têm espécies arbóreas de maior porte e nas linhas adjacentes cacau com açaí", explica ao dizer que o planejamento considera também a forma como o sombreamento será disposto.

A presença de animais é superior à monocultura e automaticamente isso traz mais defesa natural às pragas

Cláudio Sugaya, produtor de dendê e cooperado da CAMTA

Vasconcelos diz que este sistema de produção não olha apenas para o dendê, mas considera o carbono que propicia ligação direta com a qualidade do solo. “Uma parte do carbono a gente quer que fique retida e outra que cicle de novo. O manejo que é dado, o tipo de plantas, tudo está na diversidade de processos ecológicos”, explica.

Ainda em relação ao solo, ele detalha que há uma diferença significativa na capacidade de recurso hídrico. “O dendê vai muito bem em clima equatorial, com solos bem drenados. A capacidade fotossintética é muito grande, bombeia muita água do solo. O SAF ajuda nesse manejo porque permite cobertura do solo e retém mais água”, diz.

Segundo Vasconcelos, os agricultores comentam que o açaí da área de SAF é mais saboroso. “A gente associa isso à conservação de água no sistema”, adiciona.

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Roseli Mello, líder global de pesquisa e desenvolvimento da Natura, defende a viabilidade do projeto ganhar escala. “Uma vez que comprovamos benefícios do ponto de vista de produtividade, entre tantos outros ganhos, mais produtores se sentem encorajados”, avalia.

Do ponto de vista da bioeconomia, ela opina que esta é a vocação do Brasil e “pode nos levar a uma outra fronteira”,  mas observa que faltam políticas públicas para incentivo.

São Félix do Xingu

A mais de 900 quilômetros de Tomé-Açu, mas ainda no Pará, outro sistema agroflorestal também propõe recuperar pastagens degradadas. Nesta proposta, o cacau é alternativa de renda para 220 famílias em São Félix do Xingu, município que mais emite gases de efeito estufa no País, mas onde o SAF é visto como alternativa para mudar esta realidade.

Uma pesquisa do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) mostra que o enriquecimento do cacaueiro orgânico com árvores de sombra, como ipê, mogno, cajá, golosa, pau brasil e jacarandá, contribui para a mitigação de dióxido de carbono, além de ajudar na renda das famílias.

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De acordo com o Imaflora, nos últimos 10 anos, o SAF com cacau contribuiu com a remoção aproximada de 170.630 toneladas de CO2 equivalente, com cerca de 1.130 hectares de lavoura.

A entidade ainda sugere que sistemas agroflorestais sejam instituídos com consciência de qual fruta tem potencial de venda em escala para as famílias da região, a fim de atender esferas econômicas e sociais, e não apenas ambientais.

"Quanto mais diversificarmos e implementarmos novos modelos de produção, mais conseguiremos mitigar o desmatamento e as emissões de gases estufa", comenta Celma Gomes de Oliveira, coordenadora de projetos no Imaflora.

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Source: Rural

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