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(Foto: Thinkstock)

 

Se tem uma coisa que eu aprendi sendo mulher e trabalhando com mulheres é que não somos assertivas na hora de enumerar nossos feitos e habilidades. “Me diga uma qualidade sua”, pergunto eu para outra mulher. E o silêncio impera. Já se eu perguntar um defeito, vem logo uma lista, e uma lista extensa, parece até que já estava até decorada.

Dizem por aí que quando somos boas em algo, é tudo tão fácil e natural que não vemos isso como qualidade ou dom. Talvez seja por isso que tantas mulheres, incluindo as que estão engajadas no agro, não percebam instantaneamente todas as suas características positivas.
Mas se existe algo que eu gosto de fazer e faz parte do processo da sororidade que eu tanto incentivo é destacar as qualidades das mulheres que estão a minha volta.

No meu dia a dia, fico muito admirada com o foco das mulheres do agro. Somos obstinadas e persistentes com nossos projetos e desafios. E as estatísticas só enaltecem isso. Segundo o Censo Agropecuário de 2017, produzido pelo IBGE, o número de estabelecimentos agrícolas administrados por mulheres cresceu 38% na última década.

Um exemplo real de como nosso foco tem impactado em nossa representatividade no setor. Também chama a minha atenção a adaptabilidade das mulheres, no agro e fora dele. Há pouco mais de um ano nossas rotinas viraram do avesso por causa da pandemia.

As mulheres que já tinham uma rotina multitarefa tiveram que assumir ainda mais trabalho. Avós, tias, mães, todas precisando “dar um jeito”. Ainda bem que essa é uma das características mais admiráveis das mulheres, sua adaptabilidade, inclusive em cenários pandêmicos, como podemos observar.

No mundo corporativo ou em minhas experiências como consultora, palestrante ou mentora, o que mais escuto são histórias sobre mudanças de rotina, de cidade, de setor, enfim, adaptabilidade pura. Mas como tiramos isso de letra, acabamos por esquecer que é isso é uma qualidade.

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As mulheres do agro também são extremamente resilientes. É comum ter que lidar com questões que vão além de suas vontades, como por exemplo uma safra muito chuvosa e de difícil controle de pragas, ou uma safra com estiagem, e lá estão elas, prontas para uma nova safra.

E quando penso em qualidade feminina é impossível não citar a empatia. Nos colocar no lugar do outro é admirável. Protegemos e acolhemos, e isso é instintivo, é muito nosso.
Em meio a tantas qualidades, eu me questiono, por que não afirmamos que somos focadas, empáticas ou resilientes quando nos perguntam sobre nossas características?

Sabe por quê? Porque nós, mulheres, temos algo que infelizmente nos caracteriza: a terrível e fatídica Síndrome da Impostora. Uma sensação incômoda de incapacidade e de não estar pronta nunca. A tal síndrome adora quando lembramos dos defeitos e deixamos de lado nossas habilidades.

Por isso nossos pontos positivos precisam estar sempre muito reforçados em nós. Precisamos dar mais voz a eles. Demonstrar toda nossa capacidade é valorizar nossa história, logo incentivamos que mais mulheres façam o mesmo. E isso é essencial porque nossas vozes juntas despertam outras mulheres, e a nós mesmas em dias que não são tão bons assim. Como diz a poeta Ryane Leão, “cada vez que encontro outras mulheres para partilhar histórias nos tornamos terra fértil!”

Que sejamos terra fértil dentro e fora da porteira, como eu gosto de dizer: que nos aceitemos mais, sejamos mais doces e gentis conosco mesmas, que compartilhemos incessantemente conhecimento com outras mulheres e que as apoiemos sem julgamentos. É isso que cada uma espera da outra, é isso que eu admiro em nós. Plantemos e adubemos muito essa terra, ela dará bons frutos e faremos disso riqueza para um setor cada vez mais produtivo e sustentável.

*Andrea Cordeiro é consultora em agronegócio

**As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade da autora e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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