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Foto: Sergio Ranalli)

 

Uma indústria química especializada em adesivos e laminados especiais para aplicações no setor calçadista, moveleiro, automotivo, construção civil, papel e embalagem investe no lançamento de adesivos para fechar caixas de frutas produzidas no Nordeste.

Outra indústria de óleos lubrificantes líder no mercado de motocicletas aposta em uma linha específica para tratores e outras máquinas agrícolas. Uma empresa de venda de eletrodomésticos abre plano de consórcio para a compra de tratores e drones agrícolas. 

Nenhuma têm o DNA no agronegócio. Mas todas decidiram investir ou elevar seus investimentos nesse setor que vem sustentando o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, mesmo em tempos de pandemia.

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No ano passado, o PIB brasileiro registrou um tombo de 4,1%, o maior desde o início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1996. A indústria teve recuo de 3,5% e os serviços caíram 4,5%. O único setor que se manteve positivo foi a agropecuária, com um crescimento de 2%. Na década, os números são ainda mais impressionantes: segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), enquanto o PIB brasileiro teve retração de 1,2%, a agropecuária cresceu 25,4%.

Antônio Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), diz que o agronegócio é um setor extremamente complexo e que essa complexidade vem de sua interligação com a indústria que lhe fornece e compra produtos e com o setor de serviços.

Quando o agro cresce, abre oportunidades de negócios para outros setores da economia, o que é absolutamente positivo. A indústria não precisa ter o DNA do agro. O importante é que produza para o setor com preços competitivos para que o agro seja mais eficient

Antônio Luz, economista-chefe da Farsul

Luz avalia que a queda do setor industrial em 2020 foi puxada pela indústria de transformação, mas a parte ligada ao agro cresceu, como as indústrias de alimentos, máquinas agrícolas e fertilizantes. Para o economista, é preciso desmistificar logo a ideia de que o agro brasileiro só exporta grãos e não produtos com valor agregado.

“Quando a gente exporta aquele grãozinho de soja, estamos exportando a máquina que foi usada na produção agrícola, a biotecnologia que foi embarcada na semente, a técnica e o conhecimento dos processos de produção. E trazemos dólares que mantêm funcionando a agropecuária e toda a indústria e serviços que estão no cinturão da agropecuária. Esse sucesso, lógico, chama a atenção de setores que têm patinado em seus negócios prioritários, enquanto vêem colegas de outras indústrias e serviços nadando de braçadas porque estão de mãos dadas com o agro”, explica.

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Marcos Fava Neves, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP-Ribeirão e especialista em agronegócio, concorda. “Devido ao crescimento do setor e às projeções futuras, vemos um grande número de novas empresas entrando com sua linha de produtos para atuar como fornecedores do agro, seja de produtos ou de serviços.”

A economista Amaryllis Romano, com mais de 30 anos de experiência em análise setorial, diz que, por ter uma cadeia extremamente vasta, o agronegócio envolve muitos ramos da indústria, como embalagens, adesivos e tintas. “Eu acredito que ainda podemos esperar muitas indústrias de fora do agro investindo no setor para viabilizar a produção e o escoamento dos produtos.”

Ela destaca, no entanto, que ainda é preciso muita inovação nas cadeias industriais do país que servem o agro. “Lá fora, vemos coisas mais interessantes em termos de embalagem, por exemplo, para distribuir a produção ou para levar o insumo até o produtor rural.” Outros setores, segundo a economista, que podem e precisam avançar muito na esteira do sucesso e inovação do agro brasileiro são transporte, armazenagem e financiamento.

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Para Antônio Luz, o economista-chefe da Farsul, o agronegócio deu certo no Brasil porque produtores e indústrias associadas ao setor investiram mais em tecnologia, desenvolvimento, eficiência e sobretudo em competitividade – seja no mercado interno ou externo – do que em lobby em Brasília, como fizeram outros setores para proibir entrada de produtos ou aumentar impostos de importação. “O agro precisa de novos produtos da indústria e do setor de serviços. Quem vier com a agenda de competitividade será bem vindo ao setor.” 

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) não tem uma estimativa de quantas indústrias no país produzem itens para o agro, mas em sua última pesquisa ICEI (Índice de Confiança do Empresário Industrial), em março, os empresários que indicaram estar mais confiantes eram justamente os de companhias ligadas ao agronegócio, como produtos de madeira, biocombustíveis, metalurgia e máquinas e equipamentos.

Expandindo

Fernando Cardoso, gerente de mercado da indústria química Artecola, reforça o interessa da empresa em investir no agronegócio. "Mesmo em pandemia, é um setor que continua se expandindo”, afirma. A empresa lançou em março um adesivo para caixas usadas no armazenamento e transporte de frutas como melão, manga, uva e banana, produzidas nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Bahia.

Cardoso explica que o produto é adaptado à fruticultura nordestina pela flexibilidade de suportar tanto as altas temperaturas nos packing houses quanto as baixas nas câmaras frias que armazenam os produtos.“O adesivo precisa resistir ao calor e cristalizar muito rápido para manter a adesão. Por outro lado, as caixas de frutas são levadas para ambientes refrigerados, onde o adesivo precisa ser flexível para não endurecer demais e desfazer a colagem.”

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Segundo o gerente, cada região do país tem características diferentes. Por isso, a empresa fez muita pesquisa para desenvolver um adesivo adequado ao jeito de trabalhar, à cultura e aos equipamentos usados no Nordeste. Os testes foram feitos em fazendas de quatro clientes na região.

Até maio, a Artecola planeja lançar mais produtos da linha de adesivos, para embalagens de frutas produzidas em outras regiões do país, como a maçã do sul. A indústria de 72 anos tem nove plantas produtivas, no Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, México e Peru e já fabrica dois outros produtos para o agro: esteiras para aviários e um adesivo à base d´água para revestimento (peletização) de sementes.

O setor, no entanto, representa apenas 2,5% do faturamento da Artecola, que foi de R$ 350 milhões em 2020, sendo R$ 146 milhões no Brasil. “Nosso planejamento é para que o faturamento com o agro suba para 6%.” Ele estima em 150 toneladas por mês o consumo de adesivos pelo agro. Até o final do ano, sua empresa pretende ficar com 20% desse mercado.

Tendência de crescimento

Roberta Maia, diretora de marketing da multinacional Mobil, conta que a empresa especializada em lubrificantes para motos, carros e caminhões, já tem em seu portfólio três tipos de óleo para motores de máquinas agrícolas, além de graxas, lubrificantes hidráulicos e fluidos. Agora, vai lançar um produto premium com novas especificações para lubrificação dos motores das máquinas mais modernas produzidas pela indústria.

“Temos uma linha de óleos mais barata para aplicar em tratores e colheitadeiras mais antigas e também um produto médio e um premium", diz ela. "Queremos ter uma participação maior nesse setor que representa um quarto do PIB brasileiro e que só no ano passado vendeu mais de 40 mil máquinas", acrecsenta.

Segundo a executiva, a nova geração de lubrificantes de alto desempenho possui características que trazem benefícios para os mais modernos equipamentos agrícolas, como proteção contra corrosão dos discos de freio e transmissões, tendo também uma resposta consistente nas operações de sistemas hidráulicos.

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Roberta afirma que o agro representa 8% do faturamento do mercado de óleos lubrificantes no país, com tendência de crescimento. “Nosso plano é revisitar toda a linha de óleos para tratores e colheitadeiras, readequar e lançar com a marca Mobil, a fim de dobrar nosso market share no mercado agro”, diz a diretora, sem revelar números da empresa.

Ela acrescenta que o mercado do agro está crescendo muito no Brasil e adicionando cada vez mais tecnologia às máquinas como IA (Inteligência Artificial) e big data. “Com tanta riqueza de dados, a manutenção das máquinas vai ganhar muito. Será possível, por exemplo, saber remotamente o estado do óleo do motor da máquina. A Mobil quer participar cada vez mais desse desenvolvimento.”

No ano passado, o setor de máquinas agrícolas cresceu 18%, segundo o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq, Pedro Estevão. A expectativa para 2021 é pelo menos repetir o número.

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Potencial

O Magazine Luiza, empresa de eletrodomésticos que nasceu em Franca (SP) e hoje tem mais de 1.000 lojas espalhadas pelo país, entrou no agronegócio no ano passado pela modalidade de consórcio de tratores.

Há um mês, lançou um plano de vendas de consórcio para os drones agrícolas, equipamentos cada vez mais usados no campo para pulverização e captação de imagens. As cartas de crédito para a compra de drones variam de R$ 120 mil a R$ 300 mil reais, com parcelas a partir de R$ 951,47 e prazos de 120 a 150 meses.

“Acreditamos no potencial do agronegócio brasileiro e queremos ser referência em crédito para financiar o setor”, afirma Angélica Urban, gerente-executiva de Produtos, acrescentando que o consórcio de tratores foi um dos que mais cresceu na carteira no ano passado.
Source: Rural

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