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Professora de geografia, Luciana Cardoso vendeu mais de 100 ovos nesta páscoa (Foto: Divulgação/Lucardoces)

 

Preocupada com as restrições impostas em função pandemia de Covid-19, a professora de geografia Luciana Cardoso se organizou para vender apenas 60 unidades dos ovos de Páscoa artesanal que produz. Mas teve uma grata surpresa ao receber mais que o dobro de encomendas: 125. Apostar nas redes sociais acabou sendo fundamental para ela.

“Primeiro, eu abri uma enquete no meu perfil pessoal pedindo sugestões de nome para a minha marca, e foi assim que eu cheguei em Lucardoces [o nome comercial que adotou]”, conta Luciana, que nasceu em Pernambuco e vive em Embu das Artes (SP).

Desde então, Luciana, que também é estudante de jornalismo na Universidade de São Paulo (USP), conseguiu atrair fregueses de diversas regiões de São Paulo. “Já vi resultados dessa criação do Instagram porque eu produzi reels [ferramenta de edição da rede social], gravei vídeos partindo ovo com casca de brownie e tudo isso chama as pessoas”, diz.

Ela começou a vender ovos de Páscoa em 2019 para obter uma renda extra. Antes de dar uma cara ao negócio, vendia para amigos, que também ajudavam na divulgação. Na Páscoa de 2020, ela já sentiu os efeitos da incerteza trazida pela pandemia. As encomendas caíram pela metade. 

Neste ano, com clientes "em um raio de 20 quilômetros", precisou recorrer ao serviço de entrega com motoboys para conseguir atender à demanda conquistada com a divulgação pela internet. “Eu não tenho carro e tive de pensar em como estruturar a páscoa desde o ano passado. Fiquei bem insegura, demorei até para lançar o cardápio de páscoa”, detalha.

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Os ovos de chocolate caseiros da Luciana não foram os únicos a irem para o mundo virtual. Em escala bem maior que a da professora, a indústria chocolateira também viu nos negócios online a saída para as vendas nesta Páscoa, em meio a um agravamento da pandemia no Brasil.

Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Amendoim e Balas (Abicab), Ubiracy Fonsêca, a principal estratégia foi reforçar investimentos na diversificação dos canais de venda online, fechando parcerias com marketplaces, aplicativos de entrega, e implementado atendimento por WhatsApp e até drive thru.

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“Em 2020, a pandemia iniciou quando os pontos de venda já estavam abastecidos com os produtos de Páscoa, fazendo com que a data fosse fortemente impactada. Ainda assim, conseguimos contornar a situação, focando em ampliar as opções de acesso ao produto de forma responsável, para que o consumidor pudesse escolher o canal mais seguro”, diz ele, que respondeu por e-mail à reportagem.

Fonsêca ressalta que foram desenvolvidos mais de 95 lançamentos para a data. “O Brasil possui uma das maiores Páscoas do mundo e nossa indústria tem oferecido inovações e produtos de qualidade, preparada para atender a demanda”, acrescenta.

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Chocolate mais caro

 

Diretora executiva da Associação da Indústria Processadora de Cacau (AIPC), Anna Paula Losi reconnhece que, diante da pandemia, o produtor tende a estar mais cuidadoso nos gastos com chocolate. Mas não deve deixar de celebrar a Páscoa com o produto, apesar dos preços estarem mais altos. 

Pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), divulgada em março deste ano, apontou aumentos de até 11% nos preços, a depender do tamanho. Em relação a outras opções, como barras, tabletes e caixas de bombom, as altas apontadas eram em torno dos 10%. Ainda assim, a expectativa dos supermercadistas era de aumento no volume de vendas.

“Se não é um ovo enorme para cada membro da família, é um menorzinho para cada um. Aquela família que já comprava um ovo menor, talvez compre um ovo mais barato, um ovo caseiro”, analisa Anna Paula Losi, da AIPC.

Segundo ela, as cotações do cacau no mercado internacional aumentaram 7,5% desde o ano passado. Esse movimento influenciou os preços também dos derivados, apesar da queda na demanda. Anna Paula explica que a retração foi de 5% em 2020, menor que o esperado pela indústria processadora, que era algo em torno de 20%. Com as restrições trazidas pela pandemia e as pessoas ficando mais em casa, aumentou a procura, principalmente pelo cacau em pó, usado em biscoitos e massas de bolo.

"É um mercado que teve um impacto muito baixo com a pandemia”, diz ela. "As famílias passaram a ficar 24 horas por dia dentro de casa, todos os dias da semana, não saíam para comer fora, as crianças dentro de casa e o consumo desses produtos caseiros aumentou”, avaliou.

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Luciana Cardoso diz ter percebido e ficado apreensiva com o aumento dos custos para produzir seus ovos de Páscoa caseiros. Não só do chocolate, mas de outros insumos.

“Aumentaram muito do ano passado para cá. Em 2020, no atacado, eu cheguei a comprar leite condensado por R$ 2,89. Esse ano não sai por menos de R$ 4,20", relata. "O chocolate também subiu bastante. Às vezes as pessoas não enxergam, mas o custo de produção é alto. Uso chocolate em todos os estágios desde os recheios até as cascas”, acrescenta, dizendo ter lançado mão de muita pesquisa para encontrar matéria-prima mais em conta.

*Sob supervisão de Raphael Salomão, editor-assistente
Source: Rural

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