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Senadora preside a Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal (Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado)

 

A presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE), Kátia Abreu (PP-TO), espera mudança de postura no Itamaraty com a troca do ministro, confirmada na segunda-feira (29/3). Em entrevista à Globo Rural, a senadora disse que, sob a gestão de Ernesto Araújo, a chancelaria brasileira foi transformada em um "playground de brincadeiras de mau gosto – uma trincheira fundamentalista". "Queremos superar essa quadra da história", afirma. 

Na entrevista, a senadora afirma que ainda não teve a oportunidade de conversar com o novo ministro, Carlos Alberto Franco França. Mas que tem convicção em sua capacidade de desempenhar um bom papel. E que espera dele um parceiro para enfrentar os desafios econômicos e sanitários impostos pela pandemia de Covid-19. Além de favorecer a abertura de novos mercados para produtos brasileiros. Para ela, no entanto, a prioridade é vacinar a população.

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Sobre as trocas de comando em seis Ministérios do governo e o pedido de demissão coletiva dos comandantes das Forças Armadas, diz não acreditar em uma crise institucional no Brasil. "Qualquer ato, ameaça, brincadeira ou desfaçatez que tenha o propósito de desviar a [atenção] da falta de vacinas, do atraso da vacinação, das pessoas que estão morrendo na fila, nós [o Senado] nos recusaremos a fazer parte disso”.

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Globo Rural – Na segunda-feira, a senhora chegou a dizer que uma troca de "Ernesto por Ernesto" não agradaria. Com a indicação de Carlos Alberto Franco França, houve algum avanço?
Kátia abreu – Termos saído do Ernesto já é um avanço. Eu não conheço o chanceler indicado, mas ele tem não só a oportunidade, mas a obrigação de acertar. Ele não pode errar. Estamos em um momento muito difícil, e o Itamaraty não é parque de diversão e nem é escola para ensinar ninguém nesse cargo. A chancelaria não é escola para ensinar ninguém. Lugar de ensinar é no Rio Branco. Lá não é trincheira de fundamentalista e nem escola para treinar pessoas a terem determinada habilidade.

Eu espero e tenho convicção que o novo chanceler possa desempenhar um bom papel, que possa se assessorar à altura do que o Brasil merece, porque nós estamos cansados de brincadeira. O Itamaraty se transformou em um playground de brincadeiras de mau gosto. E trincheira de fundamentalista. Nós queremos superar essa quadra da história.

GR – Sendo ex-ministra da Agricultura, como entende que o Brasil deva conduzir as relações com a China e de que forma o Congresso pretende pressionar o novo ministro a adotar uma diretriz mais diplomática?
KA – Nós esperamos que o ministro tenha, de fato, um planejamento. Talvez ele ainda não tenha tido tempo [de formular planos] por sua ida inesperada para a chancelaria, em função de um episódio desagradável para o país, uma tragédia praticamente. Mas ele vai ter oportunidade de apresentar o seu planejamento. Nós estamos vivendo uma crise avassaladora – econômica, fiscal – e nós precisamos acudir o Brasil. 

Qual é a principal motivação por trás disso tudo? É preservar vidas e trazer emprego e renda para as pessoas. Tudo que a gente puder fazer para essas duas coisas acontecerem, nós temos que fazer. Com relação às mortes, é buscar vacinas, é fazer o isolamento, é usar máscara, é usar o álcool em gel. É ter uma conversa reta com o povo brasileiro e não propor ora cloroquina, ora sem cloroquina. Assim, o pessoal fica todo confuso, sem saber quem está falando a verdade.

Não acredito que venha uma crise isntitucional. Não quero crer que isso seja possível"

Senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado

A outra prioridade é enfrentarmos o desemprego. Para isso, um dos fatores, é nós ampliarmos a venda dos nossos produtos para os demais países do mundo. Abrir mercados para que possamos aumentar as fábricas no Brasil, as nossas indústrias, gerar empregos e serviços. Nós temos uma tarefa árdua. E, eu como presidente da Comissão de Relações Exteriores [do Senado] tenho essa prerrogativa por dois anos de me dedicar a essas questões do comércio no mundo.

Sendo assim, o Senado Federal e a CRE esperam que o chanceler possa estar conosco em uma parceria porque a como vai fazer o seu papel, mas se nós pudermos fazer unidos, de mãos dados, governo, e Congresso Nacional, eu tenho certeza que nós avançaremos muito mais rápido do que isolados e sozinhos. Por isso, espero que o Chanceler tenha uma agenda ousada, para que nós possamos trabalhar, agressiva no sentido de abrir esses mercados, ir atrás, vender, lutar com a diplomacia.

GR – Há perspectivas do Senado marcar reuniões e manter um diálogo com o comando do Itamaraty para mitigar essas crises das quais a senhora fala?
KA – Ainda não tivemos nenhum contato, mas ainda está em tempo. Ele ainda não tomou posse hoje (terça-feira, 30 de março), mas terá a oportunidade, sim, de nós dialogarmos como pessoas civilizadas. Nós não temos nada contra qualquer pessoa individualmente. Nós somos contra um fato: a incompetência, a ineficiência, o prejuízo que alguns podem dar ao país. Esse é o nosso adversário: a incompetência, a inadequação, a não diplomacia. O restante não. O Senado Federal quer ser parceiro do Itamaraty e de outros órgãos do governo nesta jornada de fazer o Brasil crescer.

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GR – Além da saída de Ernesto Araújo, outros cinco Ministérios passaram por mudanças. Os comandantes das Forças Armadas também pediram demissão. Em sua avaliação, esse cenário pode descambar em uma crise institucional?
KA – Eu tenho muita fé na democracia, em que pese ela ser muito nova no Brasil, comparada a outros países, que têm democracias centenárias, até tricentenárias. Temos uma democracia bastante jovem, mas muito consolidada. Os brasileiros e as instituições têm uma convicção clara da importância da democracia. E, da parte do Senado Federal, do qual eu faço parte com orgulho, nós estaremos atentos, vigilantes, em qualquer movimento que possa atacar ou confrontar a democracia brasileira. Nós estaremos prontos para esse enfrentamento, mas não acredito que enfrentaremos outra crise institucional.

GR – Uma possível crise institucional poderia respingar sobre o agronegócio?
KA – Se viesse a acontecer, é óbvio que ninguém escaparia ileso. Não é o agronegócio, é o Brasil como um todo. Qualquer agressão à democracia, todos nós seremos afetados. Mas eu tenho certeza, não é só o Executivo, não é só o Judiciário, nem o Legislativo. O governo são os três poderes. Se um falhar, nós temos dois pilares para a sustentação. E, eu tenho certeza que as nossas convicções são muito fortes com relação à manutenção da democracia. Não acredito que venha uma crise institucional. Não quero crer que isso seja possível.

GR – Quais as ferramentas que o Congresso Nacional detém para defender a democracia?
KA – Tem determinados assuntos, como por exemplo o Estado de Sítio, que só podem existir se o Congresso Nacional aprovar. Se não, é um golpe. Impeachment de presidente da República, impeachment de ministro de Estado, ou ministro do Supremo, ou mesmo de parlamentares, tudo isso tem de passar pelo Congresso Nacional. Nós temos uma Constituição muito firme, muito rigorosa e muito detalhada, a respeito das prerrogativas de cada um. E, repito que não gostaria de raciocinar sobre uma hipótese tão nefasta como essa de uma crise institucional ou um golpe. Não acredito nisso sob hipótese alguma.

Não conheço o chanceler indicado, mas ele não tem só a oportunidade. Ele tem a obrigação de acertar"

Senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado

GR – Essa reforma ministerial pode significar uma chance de mais estabilidade para o Governo, com um cenário mais favorável para o agronegócio?
KA – Eu, sinceramente, espero duas coisas de qualquer mudança que o governo possa fazer: paz e eficiência na condução dos trabalhos. Não podemos continuar deixando os brasileiros morrerem sem vacina. Precisamos vacinar o povo brasileiro. Nada pode dispersar nossa atenção. Qualquer ato, ameaça, brincadeira ou desfaçatez que tenha o propósito de desviar a [atenção] da falta de vacinas, do atraso da vacinação, das pessoas que estão morrendo na fila, nós [o Senado] nos recusaremos a fazer parte disso. Nós não nos omitiremos, ou ficaremos alheios a qualquer situação, que não seja procurar a vacina para o povo brasileiro e conter as mortes, a que nós estamos assistindo todos os dias.

GR – E quais ações devem ser prioritárias?
KA – Eu acredito que a melhor forma de superar crises, sobretudo na política, não só no movimento partidário, é por meio do diálogo – da conversa. É procurar tirar as arestas e acalmar as pessoas. Não é com atrito e com fogo que nós vamos melhorar a situação do Brasil. Nós só vamos melhorar a situação do Brasil com água em primeiríssimo lugar para apagar esse fogo que é um elemento importante para todos nós. Eu acredito muito que esse elemento é o que deve ser usado neste momento para apaziguar, trazer calmaria, para apagar qualquer incêndio ou vendaval, para que o Brasil possa seguir adiante.

Eu quero dizer a todo o Brasil que o Congresso Nacional, que a Suprema Corte, e muitas instituições neste país, estão a postos na defesa da democracia e da institucionalidade. Nós acreditamos nas forças armadas, que elas querem o bem do país, que elas são apolíticas, que elas são instrumentos dos brasileiros, do Estado Brasileiro, e de nenhum partido, ou de nenhum governo. As forças armadas – o Exército, a Marinha e a Aeronáutica – existem para proteger os brasileiros e não para resguardar grupos de pessoas que queiram usá-las para benefício próprio. Nós [o Senado] não permitiremos e nem as forças armadas.

*Sob supervisão de Leandro Becker, editor, e Raphael Salomão, editor-assistente
Source: Rural

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