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(Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

 

 

A saída de Ernesto Araújo do cargo de ministro das Relações Exteriores terá impacto direto no agronegócio, segundo especialistas ouvidos pela Revista Globo Rural.

O chanceler pediu demissão nesta segunda-feira (29/3) ao presidente Jair Bolsonaro após pressão do Congresso associada à sequência de desgastes com parceiros internacionais, em especial a China.

De acordo com o diplomata brasileiro e ex-ministro do Meio Ambiente, Rubens Ricupero, desde que se tornou ministro, a condução da diplomacia por Araújo tem sido "desastrosa". Para ele, o chanceler se tornou uma "unanimidade negativa nacional".

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"Ultimamente, sobretudo por ter hostilizado países como a China e no final ter perdido até o apoio do próprio Estados Unidos, em que ele se segurava um pouco. Então, acho que isso [a saída], na verdade, era de se esperar e me admiro que tenha demorado tanto", diz.

Ricupero ainda sugere que, mais importante do que pensar em um nome para a substituição, é verificar se o governo federal mudará a postura com a qual conduz a política externa. 

"Ernesto Araújo foi sempre uma figura subalterna. Quem estava por trás mesmo dessa orientação é o próprio presidente e, em segundo lugar, o filho dele, o Eduardo Bolsonaro (filho do presidente e deputado federal). Portanto, se esses dois continuarem com a mesma linha, pode vir quem quiser", avalia o diplomata.

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Para Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), a saída de Araújo sinaliza a força do Centrão em prática, à medida que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) já haviam se manifestado a favor da troca no Itamaraty.

“Significa que, definitivamente, há um reconhecimento da mudança na relação de forças no governo. Bolsonaro percebeu que não tem como governar ignorando o Congresso”, afirma Poggio.

Para o professor de agronegócio do Insper e coordenador do centro Insper Agro Global, Marcos Jank, é preciso revitalizar a política externa brasileira e tirar o cunho ideológico implementado por Araújo.

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Segundo ele, o chanceler tinha acabado de ser promovido a embaixador, não tinha nenhuma experiência internacional e só chegou ao cargo por ser bancado pelos filhos do presidente e por Olavo de Carvalho.

“Ele não exerceu o cargo como deveria”, diz Jank, referindo-se especialmente às farpas que o ex-ministro trocou com autoridades chinesas e citando, também, o caso das vacinas contra a Covid-19 e as questões ambientais.

“A China salvou o agronegócio brasileiro nos últimos anos comprando não apenas soja, mas liderando as exportações de algodão, celulose e carnes. Hoje, recebe mais de um terço das nossas exportações”, diz Jank, acrescentando que, devido às posições ideológicas do chanceler, o Brasil não conseguiu aproveitar essa conjuntura excepcional para aumentar o diálogo e o relacionamento com os chineses.

O especialista espera que a saída de Araújo represente uma mudança real nessa política externa, mas tem um receio. “Seria muito ruim seria a nomeação de um general para o cargo, lembrando que o Itamaraty tem um corpo diplomático excelente.”

Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e representante da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, afirma que o ex-ministro não tinha mais condições de representar o País. Para ele, erros vinham sendo cometidos desde quando Araújo assumiu o cargo.

"[Começou a dar errado] Desde o dia 1, em que ele colocou ideologia como parte integrante das relações internacionais. Dali em diante, nada deu certo. Você não trata interesses com ideologia", comenta.

Brito não quis projetar como se dará a condução da política externa com a troca de ocmando no Itamaraty, mas reforçou que "a função de um chanceler é de pacificar e construir pontes". "Então, para nós, não é nenhuma surpresa a saída dele", complementa.

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Marcos Fava Neves, professor da USP Ribeirão e especialista em agronegócios, preferiu não comentar a saída de Araújo, mas disse que, para o agroexportador, é fundamental o desenvolvimento de excelentes relações com todos os atuais compradores e com potenciais futuros mercados.

Meio ambiente

No aspecto ambiental, Marcio Astrini, diretor-executivo do Observatório do Clima, diz que “é inegável que Ernesto Araújo fez um "estrago" à imagem internacional do Brasil. Ele também observa que "nada que ele (Araújo) fez foi desalinhado com o que o presidente da República pensa”.

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Astrini cita como exemplo o discurso sobre o clima ser uma invenção comunista e conspiração internacional. No entanto, ressalta que é importante ficar atento em quem será o substituto do Itamaraty.

“Para fazer diferença para a área ambiental e de clima, a renúncia de um ministro não adianta. A melhor renúncia que a gente poderia ter seria do próprio Bolsonaro", destaca.

Para o diplomata Rubens Ricupero, boa parte do desgaste que o Brasil tem no exterior vem da área ambiental e a saída de Araújo não parece sinalizar nenhuma mudança. "Se continuar o problema ambiental como está, não melhora muito ter um ministro mais competente. E o mesmo raciocínio você pode aplicar a outras áreas, como educação, direitos humanos e saúde", diz.
Source: Rural

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